13 July 2008

you can die now, because you're dead in my mind.

Quando elementos estrangeiros à minha dor sentimental sentem-se mal por mim, é porque é grave. Quando o ser humano é altruísta o suficiente para perder tempo a sentir pena de mim, a tentar minimizar mais uma desilusão, é porque é um bom (e quase exclusivo) ser humano e é porque a dor começou a transparecer. Saiu de mim para se tornar no meu monstro, que consome e corrói os anos que deveriam ser o apogeu da minha felicidade. Por favor Karma, já percebi. Agora já chega, deixa-me estar por favor. Não sei se consigo aguentar por muito mais tempo o teu castigo que nem sequer sei se fiz por merecer. Mas pronto, segundo as regras moralistas do universo cósmico não é suposto o castigo acabar assim que nos apercebemos que somos dignos dele?
Chega de príncipes.
Chega de sapatos.
Chega de sapos.
Chega de me considerar digna de título de princesa merecedora de um príncipe exclusivo.
Chega.

Vamos reinventar o amor? Reescrever as grandes histórias?
Quero muito. Mas sozinha não posso.

E nem o culpo sequer, porque ele simplesmente escolheu o caminho mais fácil quando decidiu contemplar o físico e o real e exorcizar o platónico. Só eu é que consigo viver num mundo conceptual, e é estranho como tudo nele se interliga.

Despeço-me, este blog acabou. Sou agora uma viciada no amor em reabilitação, e este é o primeiro passo.

07 July 2008

a tale as old as time.


- Sempre cedeste.
- Sim, sempre cedi. Plantas-me aqui neste cenário idílico, achas que não me ia apaixonar por ti? Tornaste conveniente eu gostar de ti, é fácil amar-te.
- És sempre tão comedida nos elogios.
- Sou sim, ou não seriam eles elogios, apenas um socializar erróneo e impassível. Mas agora cala-te. Dá-me um beijo.
- Dou-te todos os beijos do mundo. - E mal termina aproxima-se, pronto para a beijar. Ela, toma subitamente uma atitude séria, a sua expressão facial enrijece-se, afasta-se dos seus lábios, olha-o bem nos olhos e diz:
- Não me prometas todos os beijos do mundo a menos que mos possas dar. Tudo o que temos é este momento, percebes? Dá-me apenas o beijo que te pedi.
- Mas eu quero dar-te todos os beijos do mundo! - aproxima-se ele novamente.
- Basta! Mas não podes. Tudo o que temos é isto! Não percebes?
A sua expressão transforma-se em triste enquanto desvia o olhar. Ela teme que ele não perceba, que ele seja ainda um romântico incansável, curável apenas com a dor de um gigantesco desamor. A expressão dele também se entristece ao vê-la assim, ele percebe pouco dela, por isso é que é tão fascinado e crê que será apaixonado por ela para sempre porque nunca desvenderá o mistério da sua personalidade.
- Desculpa... - diz ele, frágil como todos os homens apaixonados são. E continua, após um longo silêncio - não sei então mais o que te dizer.
- Shh... - reaproxima-se ela. - Não fales, sente.

Ser-se frio é um estado de espírito incrivelmente corajoso e sábio e, ao mesmo tempo, cobarde, cruel e estúpido.
Porque é difícil conter-se nos sentimentos, já que sentir é algo intrínseco à condição humana.
O mimo é tão curioso, ele é a prova de que a comunicação é muda. A expressão são sentimentos, simples ou organizados, teatrais ou espontâneos.
Ser-se frio é jogar pelo seguro, é não se dar ao luxo de sentir o que é bom, para não se ter de, eventualmente, experimentar o mau.

Mas pior de tudo, são os falsos emotivos. Ou os emotivos fingidos, fraudulentos, os emotivos de profissão. Que o fazem com uma ética e deontologia, uma ética pré-estabelecida. Os falsos emotivos fabricam sentimentos, porque se divertem a fazê-lo. E depois não sabem lidar com eles, não têm bem noção daquilo que criaram, nem do que desejavam na altura da sua concepção. Os falsos emotivos são aqueles que querem apaixonar-se, ou que muitas vezes apenas querem que se apaixonem por eles, para poderem viver alimentando-se do seu próprio inflacionado ego. Os falsos emotivos contam a história de Narciso, nunca amam verdadeiramente ninguém senão a si próprios. Assim que surge um sentimento não fabricado, um daqueles verdadeiros e espontâneos, eles não sabem o que fazer, o que sentir, como o gerir. A deontologia não os preparou para tal. Então fogem, com medo de sentirem algo fora de si mesmos, da sua especialização ficar corrompida. Então brincam, e raramente dão oportunidade a alguém de ser amado.

Ela, pelo menos, categoriza-se nos semi-cobardes.

05 July 2008

I apologize 4 the Silence.




You're asking again I told you before
The beautiful smile hides the troubled soul
Sad faces influence so easily
I already have enough of that inside of me

So funny you're still around after all these years
Ran away so many times, always ended up here
Could not ask for a thing from you
All you gave me I afforded to lose

You see
It's all too sad for me
It's too hard for me
To believe

It's too painful for me
It's so hard for me
To give

Too scared to jump, too dumb to fly
What side is stronger on this double-faced mind?
I make lies all day to keep the pain away
God knows my sins are already too big to pay

Even the tears I forget the taste
Maybe I should try to lick them off your face
And though I do try the best I can
You had to be me to understand

That
It's all too sad for me
It's too hard for me
To believe
It's too painful for me
It's so hard for me
To give

PORTO IL CUORE IN BOCCA - a história incompleta de uma princesa e um filho da puta.

Não te vou pedir desculpas. Não. Não mereces.

Já que fui instrumento dos teus momentos de fantasia, aqueles em que te imaginavas um gajo podre de bom por estares cheio da possibilidade de teres uma miúda como eu, tu também foste a minha ferramenta de prazer naquele dia, em que te humilhei na minha fantasia de toda-poderosa. De mulher audaciosa, bêbada e implacável. Pedir-te desculpas por quê? Por ter necessitado de ti para poder dizer o que me estava entalado nas entranhas e dormir um bela noite de sono? Sem ti a minha fantasia não teria tido o mesmo realismo, e não creio que sejas digno de ouvires sair dos meus lindos lábios um pedido de desculpas no qual tento limpar a minha imagem ao mesmo tempo em que me torno incongruente. Sou uma mal-educada, mas uma mal educada coerente. Que se agarra às suas convicções. E para além do mais, a imagem que tens de mim pouco me importa.


E só mais uma coisa (e desta vez serei realmente breve porque não quero que os últimos 45 minutos da minha vida que te ofereci sejam muito mais do que isso): eu sou insignificante para ti, não sou? Então em que medida aquilo te afectou? Em que medida aquilo destroçou o teu ego e feriu a tua auto-estima?

02 July 2008

THE JOKE'S ON ME NOW - karma's a bitch, the human suck, o meu castigo veio cedo e a dobrar.

"Uma pessoa só não trai até ter a oportunidade, quem te disser o contrário mente", disse-me um sábio.

E eu concordei.

Já traí e já fui traída, por isso não deveria ficar muito triste com ela.
Eu amo-a, a minha alma gémea incompatível. Aquela que me completa tanto quanto ele em tempos me completou. Isto não significa nada, só ajuda a não deixar uma ferida sarar, e a anular toda a minha confiança numa pessoa.

Eu pedi-lhe para ela o odiar, nestas palavras, porque é isso que as amigas fazem. Sempre coerente, ela prometeu-me que não, e eu soube que não poderia exigir mais do que sinceridade. Ainda assim.

Talvez não tenha tido coragem, penso eu. Talvez, esteja eu a tentar desculpabiliza-la porque afinal fiz o mesmo.

Tenho feito o mesmo a minha vida inteira e eu deveria ser a primeira a compreender. Mas eu esperei que a Rita fosse melhor que eu. Ela inspirava-me, ela era a moralidade basilar da minha existência.


"Falar é fácil, quando é para fazer é que é uma merda", disse-me outro sábio; desta vez uma mulher. As pessoas deveriam ser assim, bolas, admitirem-se defeituosas.

Trair constitui o seu próprio universo, é razão e consequência de si. Porquê? Porque o trair não é racional, e às vezes não passa de um trair por trair. De um trair mais que não seja por si próprio, pelo que constitui. Uma coisa proibida, uma excitação, um devaneio do nosso quotidiano moral. Às vezes sabe bem ser-se mau, mesquinho, audacioso, ambicioso, corajoso, matreiro.

Custa-me ainda mais perder esta amiga porque eu quero perdoá-la. Não porque estou em ira, ou porque a traição dela me faz sofrer. Precisamente pelo contrário, precisamente porque não consigo ficar zangada com ela, não consigo deixar de a perceber, sentir-me-ia injusta, irracional e hipócrita.
Mas acho que o vou fazer. Porque a emoção anula a razão, por mais que eu tente contrariar essa premissa, a emoção anula tudo.

Irónico, eu sempre disse que não a culpabilizaria por alguém se interessar por ela, porque afinal ela é dona de uma personalidade que faz qualquer pessoa apaixonar-se.

Será que eu lhe fiz o mesmo? Não. Eu liguei-lhe, pedi o seu aval e ela deu-mo.

Irónico, eu pedi-lhe para não mo contar, nunca pensei é que realmente o fizesse.

Vou ligar-lhe porquê? Adianta confrontá-la e ouvir os seus dotes de argumentação e apreciá-la justificar-se ou negar tudo? Ao menos quando traio não o faço, fico simplesmente ridícula. Resigno-me ao facto de saber que fui má amiga, má pessoa. E vivo com a culpa, não tento minimizá-la porque é esse o meu castigo.

O que me custa mais de tudo? Ter descoberto que o ser humano é uma merda, porque se a Rita foi capaz de mo fazer, qualquer pessoa o é.

Pior que isto só a minha mãe vender os meus órgãos no mercado negro, ou assim.

30 June 2008

Dizes que nunca me deixarás cair de esperanças tão altas.
Mas 'nunca' é uma promessa e não podes dar-te ao luxo de mentir.

Não comigo.
Mesmo que não mintas.
Porque fico farta, desgastada, cansada de viver os momentos sozinha para depois me perguntar: "Eu era a única ali? Estava completamente sozinha?"

Sim, as promessas não são só o que dizes. São também o que vem subentendido com elas, e desculpa ser exigente a esse ponto. Mas não. Comigo não podes mentir, porque eu sou capaz de acreditar.
Por isso é que muitas vezes sou fria, para não me dar ao luxo de mentir ainda que o faça despropositadamente.
Sim, sou emotiva e espontânea, mas essa emotividade nunca passa de dentro de mim; não transparece, é translúcida. Sou bastante cuidadosa com o que transmito aos outros, e sou inteligente o suficiente para saber que a comunicação não é, nem de longe, só verbal.

Isso é lindo de ser ouvido, mas pouco viável. Porque fizeste-o de leve ânimo, no entanto essa é uma promessa.

Não mentes, é verdade. Mas o tom da coisa, a magicalidade (lá estou eu com os neologismos!) da comunicação virtual e dos sentimentos platónicos que nos envolvem, transformam-no em promessa.

E eu agarro-me a elas, sou uma mulher de palavra, nem que seja de palavras subentendidas, e espero sempre que o sejam comigo. Exijo demais, eu sei. Por isso é que sofro tanto. Este mundo inteiro é subestimável, e eu raramente o faço. Sou idiota.


Não sei se é ingenuidade ou simplesmente romance, mas gosto. Também eu gosto do que conheço, arriscando-me a cair na promessa.
Há coisas em ti lindas. Tornam-te muito mais do que um estereótipo publicitário de beleza. Quero agora coleccionar pessoas assim, mesmo que isto não passe do platónico, quero um amigo para sempre.

Dei-me ao luxo de não saber o que sentir, uma vez mais. De ter medo e de fugir, em prol da minha saúde sentimental.

22 June 2008

"Ser vilão por umas horas, só para ver quem vos salva agora."

O que me dói não é a rejeição.
É pensar que estive naqueles momentos todos sozinha. A sentir todas aquelas emoções completamente solitária, contigo ao meu lado mas apenas comigo própria.
Senti tudo sozinha, tu a dizeres-me que me adoravas, a terminares as minhas frases, a leres o meu pensamento, mas estava lá sozinha. Tu não estavas no carro comigo, não me fizeste sorrir e não me tocaste. Foi só a minha imaginação. Nada daquilo existiu, pelo menos para ti nunca existiu.
A perspectiva é uma merda.
Aquelas mensagens que não me mandaste, aqueles telefonemas que não foi contigo que falei.

“Vocês acham que era a altura certa?
Eu não acho que era a altura certa, não
Vocês acham que era a altura certa?
Eu não acho que era altura

Eles dizem que passa com a idade
Mas a idade passa e ainda nada, nada
E o tempo não suaviza
Ela diz que sou de gelo
Mas a verdade é que ainda sinto
Todas as queimaduras na pele
E nenhuma cicatriza
Desculpa, esgotei as forças a gerir o meu tempo
Para ainda ir jogar ao “não me dás atenção suficiente”
Queres dar um tempo?
Eu dou-te um tempo
Um minuto para arrumares as tuas coisas
E me desapareceres da frente
Estás contente?
Isso é óptimo
Só me ajudas a definir a relação do peso o amor-ódio
Que se fodam prioridades
Se a vida são dois dias
Eu vou dedicar um dia aos beats e outro dia às letras
Para poder escrever a melhor música de sempre
Sobre como desperdicei a vida
A tentar ser diferente
Sobre os entes queridos e sobre como o esqueci
Para ser uma pedra de gelo
E mesmo assim não consegui sê-lo
Gelo, invejo o gelo
O processo é lento mas pouco a pouco consigo ser como ele
Sinto os membros dormentes
Simultaneamente é doloroso e frio
E o tremer faz-me bater os dentes
Tenho frio no coração,
Um arrepio no peito por dentro
Mas eu aguento
Fico indiferente e transparente
Frio como o gelo, petrificado
Consegui alcançá-lo
Em silêncio vou derreter-me em álcool

Bate-me, sem hesitar
Por eu ser frágil
Essa dor só vai tornar
Tudo mais fácil
Afasta-me
Sem pensar se isso me afecta
A distância só vai mostrar
Que não era a altura certa

Eu sei, eu sei que sou estúpido
Ainda assim aqui estou eu de novo à tua porta
De coração partido e tudo
Situações extremas exigem medidas desesperadas
Olha para mim a espalhar pétalas de rosa pela casa
Casa comigo só um minuto
Mas por favor esquece e abandona-me
Antes de eu voltar a estragar tudo
Por eu vou,
É inevitável
Sou imperador da solidão no meu palácio de gelo,
Inabalável
Caminho sozinho, cumprimento desconhecidos
Como um mendigo
Durmo em jornais à porta de casinos
Tipo, só para estar integrado numa comunidade
Nem que seja comunidade à parte da sociedade
É tranquilo, admito
Não passa de promoção barata
O meu defeito é a minha qualidade
Não sinto nada
E fugir era a ultima escapatória
Até conseguir escrever um final diferente para esta história

Nota de suicídio à minha melhor amiga

Olá. (Não sei bem como começar uma carta de suicídio.)
Ou melhor, adeus.
Sim, adeus. Porque me despeço.
Mas odeio melancolias, porque me fazem lembrar de mim.
E odeio rodeios, talvez pela mesma razão.
E como nunca é tarde demais para mudar, vou directa ao assunto. Tentar.
Tu sabes que existem muitas poucas coisas na minha vida de que me orgulho. Para além da minha personalidade, tudo o resto foi desilusão. Basicamente fui uma pessoa distinta que fez muitas más escolhas. Uma pessoa brilhante tornada numa pessoa má. Então despeço-me, porque nesta vida já não há nada mais que eu queira ver, sentir, ter. Nada nesta vida que me prenda a ela, que me surpreenda, já senti de tudo. Foi uma vida que só me desiludiu, revelou-me um mundo que eu desconheço. Então desisto, admito a minha cobardia e retiro-me em pleno pico de sucesso e juventude. Porque é assim que eu quero ser recordada.
O meu sonho para este mundo realizar-se-á quando no Carnaval as pessoas se mascarem de mim. Quando eu for um ícone. Quando a minha imagem ou o meu nome representarem lenda, respeito, coragem ou cobardia assumida (o tipo de cobardia mais corajosa). Aí significará que ao menos a minha vida não foi em vão, que todos os erros que cometi serviram de alguma coisa.
Mas voltando ao orgulho, eu só te escrevo para te pedir um favor, um último favor – e desculpa se tornei isto, mais uma vez, acerca de mim. Nem nos últimos instantes da minha vida posso deixar de ser egoísta. Preciso que reveles o meu segredo ao mundo, que confirmes os rumores.
Sim, eu sou da Máfia do Amor. Fui a fundadora do conceito, reuni o movimento, dei um novo significado à expressão “crime de paixão”.
É lamentável como este país não tem jornalistas de investigação suficientemente bons ou persistentes ou sequer inteligentes para eu ter de deixar um bilhete de suicídio que revele a verdade. Ridículo. Aquilo que para mim foi um hobbie perverso nunca foi descoberto pelas autoridades ou os Srs. detectives jornalistas. Foram tantas as pistas que eu deixei, tantas as pontas soltas. E pronto. É essa a única coisa de que me orgulho da vida que vivi. A única diferença que deixei neste mundo. No mundo que eu odeei por me estigmatizar, num mundo que eu odeei por considerar aqueles actos de justiça poética ilegalidades. Ao menos deixei o mundo um pouco mais justo quando parti, ensinei os homens a serem mais responsáveis quando se trata de o coração de uma mulher, nem que os meus métodos de coação tenham sido – confesso – um pouco atrozes. Extremos, como eu. Por isso deixo-te a prova. Deixo-te as planificações, os vídeos, os disfarces, os contactos de onde eu ia buscar a minha influência baseada numa corrupta troca de favores, as passwords.
Por último, peço-te que, da melhor maneira que puderes, faças circular aquela minha foto que nunca tornei pública. Aquela a que tu chamaste “os olhos da Monalisa”. Lembras-te? Aquela a que tu me disseste “tão estranho, tens um rosto calmo e sereno mas os teus olhos parecem extraordinariamente tristes”, e depois rimos. Disseste-me que estava ressacada, e depois divagaste sobre o quadro da Monalisa.
Essa fotografia minha é, sem dúvida, a mais representativa de mim. E quero ser lembrada assim. Já que uma vida inteira foi inútil para conseguir mostrar ao mundo o meu representativo eu, espero que uma imagem o tenha conseguido capturar. Sou tão crente no poder da imagem estática, tu sabes disso.
Nela estou calma, sem sorriso, com os olhos tristes. Tenho o batom e as unhas de um vermelho cor de fogo e depois aquele pedaço de rímel borrado que me chega à bochecha em forma de lágrima negra, e denuncia o meu pranto. Na ponta dos dedos um cigarro quase completamente queimado e os lábios cerrados que escondem um sorriso amarelo de tanto sucumbir à tentação do tabaco. Quero ser recordada nessa foto porque ela demonstra como o meu eu eufórico é nulo, como fui uma fraude a vida inteira. E o batom de cor vermelha porque esse sim, é o das mulheres destemidas. Daquelas que não temem a atenção, e são independentes o suficiente para lidarem com o assédio e a materialização do seu corpo, a subestimação da sua personalidade, a sua sexualidade. O tabaco porque ele sempre me acompanhou, muitas vezes me foi mais amigo que tu. Me consolou e ouviu numa comunicação de sentido único, silenciosa. O tabaco que sempre representou o quanto sou fraca e, simultaneamente, forte. Ele que demonstra a minha predisposição para me agarrar conscientemente às coisas que me fazem mal. Ele que revelou a minha teimosia e determinação em não fazer de mim uma vítima, por não ter tentado nem uma vez deixar de fumar. Ele que falou ao mundo da forma como consigo ser corajosa ao ser humana, com defeitos e fraquezas, sem medo de os admitir.
Preciso mesmo que o rímel borrado fique em revelo, ele que me acompanhou uma vida. O rímel que nessa foto demonstra o meu poder exímio em nunca descurar a minha imagem, nem que fosse para ir ter contigo e chorar. E a lágrima. Essa lágrima que demonstra a minha desilusão face àquela que em breve vou deixar de chamar minha: a minha vida. A minha vida fatalista, dramática, com emoções em hipérbole. Aquela que deveria ser a vida por excelência. A vida sincera, feia, verdadeira.
Nessa foto estou hedionda, eu sei. Quero ser recordada assim, no pico da minha fealdade, para garantir ao mundo que sou vista como fui, hedionda até aos ossos.
“As mulheres não são feias desmaquilhadas, nem tanto a chorar. Não percebo esse mito”, disse-me aquele filho da puta. Uma grande de uma mentira. Ao menos a minha foto não terá mentiras.
Obrigada.
Adoro-te.
Um beijo.

14 June 2008

as palavras silenciosas

"- Que foi? Parece que nunca me viste.
- Na-não. Nada. Quer dizer... Nunca te vi foi tão linda como hoje.
- Então é porque nunca olhaste bem para mim."

A personagem feminina das minhas fantasias é assim, uma típica, arrojada, sincera femme fatale.
Adoro-a porque criei-a para ser assim.

Ela odeia o silêncio, mas adora o silêncio das palavras. Odeia socializar, odeia ouvi-los falar. Por isso é que adora tanto ler, são palavras na sua única forma silenciosa. Por isso é que adora música instrumental. Jazz, soul, funk, trip hop, chill out, até a música mais ruidosa, ela prefere-a sempre sem palavras.

A minha heroína considera o mundo um sítio melhor apenas com alguma inteligência emocional, perdeu demasiado tempo a analisar as pessoas para saber que são raras as que não repetem algo que ela já saiba. Ela acredita no poder da comunicação, e na fatia fraca que as palavras representam dele, por isso é que as utiliza apenas quando acha extremamente necessário. Para si, num mundo perfeito, as pessoas só falariam quando tivessem realmente algo a dizer. As palavras deveriam ser vistas como instrumento utilitário da comunicação, não como a própria comunicação. E ainda assim, instrumento ou não, não deveriam ser subestimadas, nem exaustivas, isso só lhes retira valor. Por isso é que raramente mente, nem para evitar magoar alguém, porque o considera um desperdício de palavras. Odeia políticos porque adoram discursar, debater, declarar. Odeia coscuvilhice, coscuvilheiros e novelas. Odeia que lhe repitam algo a menos que pergunte. E raramente pergunta. Adora cinema mudo ou cinema contemporâneo que seja quase quase mudo. Aquele cinema que é quase tudo subentendido, e que dá o dobro do trabalho aos actores com as expressões faciais, e aos cineastas com os planos inteligentes. Odeia refrões. Adora televisão com legendas.
Muitas vezes ela própria desiste de comunicar para si, ainda que em forma silenciosa, porque chega à conclusão que são pensamentos que já teve e, apesar de um pouco nostálgica (como humana que é), é uma pessoa essencialmente prática; se um pensamento não a ajuda no seu caminho futuro, no seu crescimento pessoal, na sua demanda pela conquista do mundo, ela foge dele, evita-o, contorna-o, preenche o seu pensamento com pensamentos mais construtivos.

Por isso é que ela é solitária, ainda não encontrou alguém que a faça desistir do silêncio ou que - melhor ainda - a ame em silêncio.

08 June 2008

Uma história

Parte 1

- Fumas muito raramente.
Ela olha-o de soslaio. Já o tinha observado ali, e sabia que ele a olhava fixamente e com fascínio, não muito diferente de todos os outros homens, e sabia que mais tarde ou mais cedo ele iria dizer qualquer coisa. Só nunca imaginou que seria isto.
Marta não responde. Apesar de surpreendida, não importa quão original seja a frase de engate, e quão giro seja o tipo. Ela faz aquele ar de desprezo que faz a todos. É esse o seu truque de engate. Mas neste caso acrescentou uma expressão que denunciou a exigência de uma explicação.
- Sim, fumas muito raramente. Já te mudaste para aqui há duas semanas e esta é a segunda vez que te vejo fumar.
Esta merece resposta.
- E tu és o quê? Um desempregado que nunca sai de casa, toma conta da carrinha das mudanças dos vizinhos e conta as vezes que vão à varanda e fumam? Posso muito bem ter fumado em casa milhões de vezes nestas duas semanas.
- Por acaso trabalho em casa. E tu és uma fumadora de varanda, dá para ver.
“Que irritante este homem”, pensa. E revira os olhos sem responder.
- Porquê que fumas assim de maneira tão estranha? Estás a tentar seduzir-me? – Ele insiste. Ela ri com desprezo e depois diz:
- Não fumo de maneira estranha. Fumo e pronto.
- Não, tu enrolas o fumo na boca quando puxas uma quantidade exorbitante, dás um primeiro mini bafo que nem é travado, e finalmente travas e expiras, deixando sair uma quantidade interessante de fumo que é fisiologicamente impossível de expirar de uma só vez. Não percebo como nem porquê o fazes. Mas deixemos o como. Presumo que o fazes porque sabes que tens os lábios bonitos e habituaste-te a seduzir os homens assim. É a maneira mais perspicaz de fumares sem pareceres reles, e enquanto brincas com o fumo os teus lábios ficam maravilhosos.
Ela boceja.
- Não, eu fumo assim porque fumo assim, os lábios giros são só um bónus que é inerente. E não acho minimamente interessante pretender um pouco de calma e privacidade e vir para a varanda para ser psicanalisada.
E atira o cigarro para fora e sai fechando a varanda atrás de si. Fá-lo suavemente mas apetecia-lhe ter partido o vidro. A vida de Marta é assim. Uma história de contenções e convenções, uma actriz do melhor a trabalhar no Marketing. Para ela não existem mas, nem não obstantes, nem poréns. Nem sins nem nãos, na vida de Marta só existem concertezas. Tudo o que ela faz fá-lo com uma segurança que parece inatingível para todos os mortais comuns. É forte, decidida, solteira. Tem uma vida de luxo e tudo o que tem ganhou-o à força da sua teimosia. Na sua vida não há incertezas, nem tempo para correr riscos. O ramo do Marketing é um campo competitivo, e ela não pode demonstrar-se indecisa em relação às miúdas mais novas da empresa. Sem se dar conta, transportou o Marketing para a sua vida, e não há ninguém melhor do que ela a vender o seu próprio produto. Se quisesse, conseguiria convencer o Papa a santificar Hitler. Mesmo que se arrependa de uma decisão de tomou, de uma aquisição que fez, de uma opinião que tem, ela mantêm-se agarrada a ela. Repensar, desistir, ponderar, são tudo sinais de fraqueza. Mesmo que ela não acredite realmente numa apresentação que está a fazer de um produto, mesmo que a sua pesquisa não tenha sido suficiente, ela demonstra saber tudo. Para si não há o não sei. Ela mente e acredita que aquele produto é mesmo fantástico e magnífico. “A vida é um enorme jogo de póquer”, repete-o constantemente, para si a melhor técnica para demonstrar confiança é o bluff. Não importa se não nos sentimos confiantes, desde que façamos os outros acreditar que somos fantásticos, tornamo-nos realmente fantásticos.
É por isso que quando Marta vai a um concessionário já sabe o carro que quer, e quando vai à agência de viagens já sabe para onde viajar. É prática, rápida e versátil. Não perde tempo porque não tem muito tempo a perder, e quando toma uma decisão da qual não está certa, simplesmente não se arrepende, aprende a habituar-se a ela. Adapta-se. Talvez seja por isso que nunca se casou, tem medo de não se adaptar e de não poder voltar atrás porque foi essa a regra que adoptou para a sua inteira vida. Mesmo quando tinha 13 anos e decidiu mudar-se para a casa da tia porque vivia em Lisboa e estava aterrada de medo que a grande cidade a engolisse, Marta não voltou atrás para nunca ter de dar razão à mãe. A mãe de Marta nunca lhe impôs limites, sempre lhe deu liberdade de escolher o que queria mesmo desde pequena. Para ela as pessoas só aprendem com os erros, e de nada lhes serve serem protegidas. Então, deixou-a ir para Lisboa assim que esta lhe pediu, mas primeiro avisou-lhe que aquela vida é fria e superficial e que mais cedo do que ela imaginaria, ela voltaria.
Marta nunca voltou. Primeiro odiou toda a gente, para passar a achar a cidade divertidíssima por volta dos 16, para depois voltar a odiá-la. Mas na vida de Marta não há o “não sei” nem o “talvez”, por isso é que ela não voltou para o regaço da mãe e nem lhe faz mais do que três telefonemas por ano: Natal, ano novo, e aniversário. Os outros feriados cristãos nem sequer existem.


Parte 2

- Fica sabendo que a palavra mini bafo não existe.
- O quê, estiveste este tempo todo em casa a ver isso no dicionário? E mini bafo são duas palavras.
- Não se for separado por um hífen.
- Mas se for um neologismo existe, não precisa estar num dicionário.
- Os neologismo são uma desculpa barata, comum e fácil para os pseudo-intelectuais que dizem coisas à toa e depois tentam remediar a sua ignorância dizendo que inventam palavras. Não é inteligente nem divertido. Aborrece-me.
- Nunca vi ninguém argumentar sobre uma coisa que não existe, e no entanto defender que esta é separada por um hífen. Se a primeira premissa é falsa, a segunda é necessariamente falsa, nunca ouviste dizer?
Marta raramente fica sem resposta. Pode parecer que não, mas encontrar um homem solteiro, giro e inteligente é coisa rara, mesmo para uma cidade tão grande. E rico, claro. Porque se mora na varanda a seguir à sua, tem de necessariamente ter o mesmo poder capital que ela tem. A não ser que ele se tenha inundado em prestações como ela o fez, para ter uma casa ao lado do El Corte Inglés, com vista sobre o Parque. Quão ostentoso é, ter um apartamento que, para além de se situar na mesma rua do Parque Eduardo XII, está colado a um centro comercial de luxo? E para Marta o dinheiro é muito importante, ela lamenta, mas é.
Ela ri-se, para se safar de responder àquela brilhante argumentação. É o que faz quando fica desarmada, o seu sorriso é o contra-ataque sem armas perfeito que a ajuda a sair bem sucedida sempre. Mas na verdade está fula com ele porque fumar é o seu acto solitário. Fá-lo porque precisa daqueles momentos de reflexão sozinha, desde que fumar se tornou um flagelo social aos olhos de toda a gente, ela aproveita isso como desculpa para se esgueirar por breves momentos dos jantares enfadonhos da firma (que, ironicamente, dão pelo nome de socialização) e aprecia cada momento sozinha. Marta sempre foi uma pessoa solitária, e sempre batalhou pela sua solidão. Nunca quis ter colegas de casa, nem mesmo quando andava na faculdade e o dinheiro era curto. E fumar é o derradeiro acto solitário. Ela nunca percebeu bem, por exemplo, aquelas pessoas que dizem que fumam apenas socialmente. Acha-las ridículas. “Não me venham com tretas, fumar deve ser solitário”, pensa ela, por cada vez que alguém evoca o social para fumar. Ela própria certifica-se que ninguém está por perto quando utiliza a desculpa para fumar para ter uns momentos consigo própria, porque não quer ser acompanhada e nem quer ter de fazer conversa de fumo.
- Bolas, o tabaco está caro...
- Sim, um dia vou deixar de fumar...
- E faz mal à saúde...
- Pois faz. Andamos a pagar para morrer...
Para ela tudo isso é ridículo, fumar é uma escolha. Odeia pessoas que não têm nada de pertinente para dizer, que nada acrescentam à sua sabedoria. Principalmente, odeia vítimas. Ela fuma porque quer, não considera uma fraqueza nem um vício que não consegue controlar, considera sim uma escolha, uma decisão, quer lá saber se é estigmatizada, se a mata, se é caro. Ela fuma por que quer, não é nenhuma vítima do seu vício. Assim como ser solitária e independente, Marta é aquele tipo de mulher que também não vai à casa de banho com as amigas. Vai sozinha.
Marta tem isso tão presente no seu íntimo que escolhe sempre parceiros não fumadores, para ter uma desculpa para se levantar da cama depois do acto sexual. Assim, uma vez vestida, não é tão difícil sair e voltar à solidão da sua casa. Começa por um “vou fumar um cigarro à janela” e depois esgueira-se. Em casos mais extremos, com aqueles que não são casados e querem que ela passe a noite lá em casa, ela diz que vai à estação de serviço mais próxima comprar tabaco e depois simplesmente faz um telefonema a dizer que está cansada e perto de casa, portanto, por uma questão de logística de quilómetros, vai para sua casa. Ela é assim, bastante frontal no que diz respeito a tudo, excepto relações inter pessoais.
Mas acima de tudo, o que mais irrita a Marta é o facto de ela desta vez estar a gostar desta companhia. Mas ela não o demonstrará.
Depois do sorriso acanhado que raramente faz, despede-se com a mínima educação e a máxima frieza que a caracteriza e sai.

01 June 2008

i told you so about a hundred times.

"Reason will not lead to solution
I will end up lost in confusion."

Todo e qualquer nome possível para este blog não fará qualquer sentido.

A minha demanda pelo amor acabou. Ou pelo menos está suspensa até novas ordens.

Não porque o encontrei, ou talvez até o tenha encontrado, mas apenas por mim própria. Ah, e principalmente porque tive o meu momento Oprah Show.

Yep, descobri o segredo: antes de encontrar o amor, tenho de encontrar maneira de estar bem sozinha.

"But I'm good at being uncomfortable, so
I can't stop changing all the time."


Eu bem vos disse.

26 May 2008

these cigarettes won't smoke themselves. what shall i do?

Lá está o meu revivalismo a vir ao de cima em noites de insónia, não sei como sou capaz de viver (neste caso já reviver) vezes e vezes sem conta a mesma dolorosa emoção.

É, como eu lhe chamei em tempos, auto-flagelação interna, um masoquismo emocional que transcende a razão porque se alimenta a si próprio de drama e dor. É assim que o ser dramático vive, angustiado por se alimentar da dor que se infringe, angustiado por ter de recorrer a dores passadas para se alimentar de mais e mais dor, a única verdadeira fonte inspiracional que tem; e se esta lhe faltar, falta-lhe tudo.
Nonsense.

A verdade é que tínhamos uma dinâmica comunicacional espectacular, e tu quiseste desperdiçar isso. Falávamos pelos cotovelos, com adjectivos e substantivos e neologismos em excesso. O nosso discurso era incoerente mas lindo; e dentro da nossa loucura encontrávamos maneira de nos encontrar a meio caminho daquilo que fazia sentido.

E a nossa dinâmica de encontros? A nossa inteligência e sinceridade que fazia pouco do ritual social... Nunca com nenhum outro homem decidi em unanimidade assumida que não iríamos fazer sexo antes de realmente o fazermos.

E os teus grunhidos, por exemplo, quase que me faziam esquecer o quão bárbaro és, porque imitavam um bárbaro de forma infiel. És péssimo a imitar bárbaros. Os teus grunhidos vinham sempre a meio de uma exposição argumentativa minha, ou porque eu não me calava para deixar-te retorquir, ou porque não tinhas muito mais que retorquir, ou ambos. O mais giro é que os grunhidos eram acompanhados por uma expressão facial sensual, mas que de sensual nada tinha. Eu é que me entusiasmava ao vê-la, porque tenho um desejo reprimido por bárbaros que só descobri contigo.

Vá lá, quero pedir-te desculpas por ter-te chamado criança. O que eu adorava em ti era isso. O que eu adorava no nós que nunca existiu era isso. Adorei a nossa dinâmica infantil, em que nos entregámos um ao outro a priori de nos conhecermos. Só com alguém tão desejoso como eu por se (re)tornar ingénuo isso seria possível. Uma dimensão à parte, em que conjecturámos e idealizámos com o pré aviso consentido de não idealizar para não nos desiludirmos, aquilo que só a ingenuidade de uma criança consegue fazer.

E a nossa espontaneidade...completava-se. Já imaginaste uma vida com uma dinâmica de espontaneidade assim? Seria exaustivo, mas memorável. Já o é. Por alguma razão o contaste a todos os teus amigos, porque é excepcional. O "agora" e o "já" e o "só" sempre fizeram parte dos nossos discursos, bem como da essência das nossas acções.
"Vem já ter comigo, não quero saber se são duas da manhã."
"Vem só ter comigo, não ligo nada a maquilhagem."
"Queres ir agora ver o concerto?"

Mas depois perdi rasto da nossa dinâmica. Não sei o que aconteceu. E não foi a minha espontaneidade, porque era isso que costumavas apreciar em mim.

Tenho mesmo de começar a crescer, não a nível intelectual mas a nível emocional, mal dei tempo ao meu coração para sarar.
Mas como será isso possível? Se eu não o quero. Se crescer é intelectual e emocial. Não quero camuflar emoções, elas são infantis só por si.
Já disse que não quero.
Discordo com uma dimensão emocional perfeitamente palpável e táctil, tímida em sua expressão emocional máxima, contraída no seu perfeito sentido de razão e equidade; deixo isso a cargo da democracia.
Existe uma inteligência emocional, e eu tenho um défice disso.
Não posso voltar a amar, ou a tentar amar enquanto não fizer as pazes comigo por te ter perdido.
Enquanto não fizer as pazes com o tempo.

E agora as pessoas não me deixam chorar por ti, dizem que não o mereces.
Elas não mentem, mas protegem-me com uma verdade irracional (nem perdem muito tempo a pensar nela, estou certa).
Elas obrigam-me a seguir em frente, o teu tema é tabu. Portanto não posso, de modo algum, sentir a tua falta publicamente.
Por isso é que me obrigo constantemente a odiar-te, mas isso não preenche as lacunas, parece acentuá-las.
Por isso é que me obrigo constantemente a seguir em frente, porque falar de ti é emotivo e, como tal, motivo de vergonha.
Mas há vergonhas que não deixam de fazer sentido lá por serem irracionais. A emoção contamina tudo, é sabido, mas neste caso a minha emoção contamina-se a si. Retrai-se e censura-se, perdendo a essência de emoção, numa tentativa incongruente de ser uma emoção racionalizada, que chora e ri por coisas inteligentes.

beware of wishes of my own.

Toda a minha vida desejei por certo tipo de coisas, e empreguei tanta energia em conquistá-las mas ainda assim me parece que sempre as tive.

É da condição humana desejar, e desejar o que lhe parece impossível ter assim como é da condição humana errar. Mas parece que a minha vida está sempre a dois passos de mim.
Dois passos atrás.


Parece que alcanço as coisas quando já as deixei de desejar.

Mas este discurso parece-me um pouco ingrato, porque se sou impaciente demais para esperar por um desejo, um modo de vida, um estereótipo de homem, parece-me que não sou digna de sequer o alcançar.

Toda a minha vida ansiei um homem de capa de revista, mas já o tive e percebi que o que quero é um homem de contracapa.
Toda a minha vida ansiei um homem de spot publicitário de surf. Mas agora o homem bonitinho revela-se apenas isso.
Desde cedo que achei injusto a idade para conduzir em Portugal ser 18 quando nos Estados Unidos é de 16, para poder ter carro e ser livre. Agora apetece-me deixar o carro estacionado aguardando pelo meu retorno de uma viagem pela Europa em transportes públicos.
Sempre quis Brasil, hoje quero Londres, Viena, Amesterdão, Frankfurt.

O amor nos olhos dos outros parece mais especial.

25 May 2008

it's high school all over again.

yes it is.
when i can't help myself but staring.
when i feel uncomfortable, struggling to fit in. or just stand out.
when i feel uncute, unsexy, and uncool.
when i try to look cool and confident when i'm not.
when i fall for the guy way out of my league. this time not the quarterback, but the equivalent in a twisted dimension.
when i'm too shy to try.

it's high school all over again, this time with myspace.



"I wonder, how am I supposed to feel when you're not here.
'Cause I burned every bridge I ever built when you were here.
I still try holding onto silly things, I never learn.
Oh why, all the possibilities I'm sure you've heard.

That's what you get when you let your heart win.
That's what you get when you let your heart win.

I drowned out all my sense with the sound of its beating.
And that's what you get when you let your heart win.

Pain make your way to me, to me.
And I'll always be just so inviting.
If I ever start to think straight,
This heart will start a riot in me.
(...)
Why do we like to hurt so much?
Oh why do we like to hurt so much?
(...)
Now I can't trust myself with anything but this,
And that's what you get when you let your heart win."

23 May 2008

Epá, tenho de me deixar disto.

Finalmente eu estava a entrar numa onda depressiva, que pelo menos dava frutos a nível social.

Era tão depressiva que ficava sozinha no meu canto, sem chatear ninguém.


E agora, quero voltar a ser depressiva, quero sofrer no meu auto infligido martírio, sem incomodar ninguém.

E nem me vejo confrontada com dramas de psicose grave.

Hoje, deu-se isto tudo dentro de mim em diálogo interior conflituoso tipicamente esquizofrénico:

Sonhar porquê? Porquê se não vai resultar? O que é que tu amanhã vais lá fazer? Que esperança é essa parva que tens no peito se já sabes que és PERITA, profissional de alta competição a fazer as coisas não resultar? Se tu afinal és uma sabotadora de relações?
Ouve, a história tem aquela mania parva de se repetir, principalmente a TUA história. Basta olhares para trás. Se não resultou com nenhum dos anteriores vai resultar com este que é bem melhor que os outros todos juntos porquê?
Bah.

Pá, deixa-me em paz. Amanhã vou porque sim e porque quero. Tentar não custa. A esperança é a última a morrer. Desistir e baixar os braços na minha demanda pelo amor não é opção. A alternativa qual é? Contentar-me com um gajo qualquer ou morrer sozinha numa casa cheia de gatos?

22 May 2008

la crème de la crème lisboeta

Não gosto de ser pretenciosa, presunçosa e snobe, mas sou.

Venho dizer que pertenço a uma classe superior e restrita que se auto exclui de uma sociedade enfadonha, movida pela roda da inércia social.

Somos pessoas raras, sinceras, cultas, lindas e cheias de estilo, divertidas e apaixonadas por viagens e pela vida, mas não da típica forma de rota turística convencional, massiva e impessoal. Localizamo-nos na área de Lisboa, Grande Lisboa, e Arredores.

E eu faço parte dela, percebe-se isso facilmente lendo uma qualquer revista de cultura urbana, indo a um evento fantástico, ou numa breve mas certeira tour pelo myspace.

My new found prince. - não me consigo conter!

Não vai resultar. É melhor tirar este sorriso estúpido da cara.

Relações em que uma das partes está apaixonada de antemão, nunca resultam. Relações em que chego ao ponto de falar dele à minha mãe, com o nome verdadeiro e fotos ilustrativas e discursos incoerentes onde o chamo de príncipe, e danço e canto e estremeço de calor e estou feliz por conspirações cósmicas, não resultam.
Relações em que o bichinho na barriga não me deixa dormir à noite e em que começo a dizer coisas tipo "o bichinho na barriga", simplesmente não resultam.
Realizar o meu sonho seria bom demais, demais para ser verdade.
No entanto, fico-me pela fantasia e com Joss Stone.


Mas não consigo, é um sorriso rasgado que me persegue.

Porque o conheci.
Porque ainda não fiz nada de errado.
Porque desta vez fui com calma.
Porque existe uma pontinha ínfima de esperança que me persegue naquele atravessar de estrada.
Porque existe uma pontinha ínfima de esperança que me persegue em como o encontrarei este sábado.
Porque ainda não se tornou complicado.



Porque mesmo que não se concretize, o sentimento basta-me.

Aliás, espero que não se concretize!

=D (é este o tipo de sorriso.)



"- Ai, agora já estás apaixonada pelo jornalismo? Está bem...", citando a minha mãezinha, a coisa mais fofa deste mundo.

(Para finalizar, não há cliché como um bom cliché honesto.
Como tal, é esta a música que tenho ouvido constantemente o dia inteiro em repeat constante:

"Baby, baby, baby
Tell me do you really love me
Baby, baby, baby
Will you always be there for me
I can't live without your lovin
Baby can't you see
Baby, baby, baby
Tell me do you love me now
I can't wait to see your face everyday
I can't explain the way I feel when I'm around you
There's a space in my heart that belongs to only you
And no one else in this world comes close to you
Do you understand what I'm saying
Do you understand me
Got a thing for you and I'm not playing
It's something I need to know
Baby, baby, baby
Tell me do you really love me
Baby, baby, baby
Will you always be there for me
I can't live without your lovin
Baby can't you see
Baby, baby, baby
Tell me do you love me now
I can't imagine how my life would be without you
Oooo
I don't know if I'd survive another day
Oooo
No pressure but I'd love to keep you safely
Promise me it's real
And that you would never fake it
Do you understand what I'm saying
Do you understand me
Got a thing for you and I'm not playing
I'm not playing
I'm not playing
Baby, baby, baby
Tell me do you really love me
Baby, baby, baby
Will you always be there for me
I can't live without your lovin'
Baby can't you see
Baby, baby, baby
Tell me do you love me now
Love me baby, love me baby
Nothing else don't matter
Your love is all I'm after
Ooh I need to have ya
I don't need no other man
You're the one my heart demands
I'm your girl
You're my world
Please don't let me down
Don't let me down
Tell me do you really love me
Baby, baby, baby
Will you always be there for me
Baby, baby, baby
I can't live without your lovin'
Baby can't you see
Baby, baby, baby
Tell me do you love me now
Gotta let me know that you love me so"

Joss Stone, "baby, baby, baby")

My monster is human - não me consegui conter!

É mesmo.

"I like my man real."

Gosto dos meus homens reais, monstros se for necessário.

Com pêlos a sério, barba mal cortada. Cobardes, ignorantes, anti-heróis no seu sentido mais lato.

Convencionalmente feios, desprezáveis por excelência.

Gosto dos meus homens como eu, reais.

Por isso é que me apaixono diariamente :)

Beleza e Substância. Ó Meu Deus! Afinal pode ter-se Tudo. É esta a razão da imagem renovada do meu espaço virtual. Nunca fui boa a ambicionar pouco.

Sou capaz de me apaixonar por ti num piscar de olhos.


Se calhar já o fiz.


É como a Rita diz, basta convencer-me disso e construir uma imagem idílica de ti.


Se calhar já o fiz.


Mas não mereces um post. Ainda.

16 May 2008

Fiz as pazes com o tempo.

Fiz as pazes com o tempo.

O passado e o presente são completamente sobrevalorizados,
e o futuro subestimado.

13 May 2008

os últimos 45 minutos da minha vida que te ofereço.

A história da minha vida há-de ser um retrocesso de memórias, um feedback de emoções. Não há nada em que eu não seja tão exímia como na arte de não conseguir avançar.
Revivalista por natureza, fico presa a tudo o que foi óptimo, a tudo o que não disse, a tudo o que não farei.

A história da minha vida baseia-se no arrependimento, na máquina do tempo inexistente que eu desejaria possuir e concertar a minha vida vezes e vezes sem conta.

Esta carta foi escrita a um palhaço, e ela representa o meu revivalismo que morre hoje.
Por todas as coisas que não disse, todas as amigas que perdi, todas as más decisões que tomei, todas as oportunidades que não aproveitei. Adjectivá-las parece-me inútil e em vão, porque nunca saberei se é a adjectivação correcta, mas ainda assim o faço. Acabou-se. Esta carta é por todas as coisas que não disse, e não a enviarei de modo a provar-me que sou capaz de prosseguir ainda que com coisas por dizer. Não foram ditas na altura, agora não farão muito mais sentido.

A minha vingança a todas essas pessoas que não consigo evitar relembrar com uma nostalgia que é descabida, será o meu sucesso. O meu sucesso e felicidade. Elas olharão para mim muitos anos doravante e pensarão que eu não perdi nem um minuto a pensar no que lhes podia ter dito, e empreguei toda essa energia na minha própria adquirida felicidade.

Hei-de orgulhar-me sempre dos meus erros, por serem erros honestos.

"Foda-se. Eu estou-me a cagar para ti e quero que percebas isso, e isto não sou eu em negação, e sim, sei o que vais pensar, que se eu estivesse realmente a cagar-me para ti não seria isto que faria, escrever-te um mail. Mas antes de dizer-te: vai pensar para o caralho!, deixa-me dizer que me orgulho de uma forma extraordinária da minha personalidade, e só quero deixar isso claro de uma forma perene. E não, não andei a ver palavras num dicionário de sinónimos, eu sou mesmo culta.

Ainda bem que te avisei disto quando ainda nos falávamos. Isto vai levar-te algum tempo, e caguei, o teu tempo não é precioso e sinto-me no direito de o fazer. Sim, não sou nada sucinta, isto vai demorar um pouco porque eu sou tipo Almeida Garrett a divagar, ao menos levas a seca de ler isto mas levas também um documento físico para mostrares aos teus amigos. Uma prova, estás a ver? Vá, imprime lá a coisa e pavoneia-te nos ensaios da banda com o teu novo adquirido troféu.

Em primeiríssimo lugar: não, eu não tenho mesmo mais o que fazer senão ficar a pensar o que é que um bastardo cuja opinião nem sequer é credível ficou a pensar de mim, mas eu gosto que as pessoas tenham conhecimento de causa da minha pessoa, se quiseres odiar-me ao menos arranja um motivo (depois disto terás de sobra, don’t worry), não podes é odiar-me por te mandar uma sms a dizer que te amo, palhaço.

Pensa numa coisa (e eu sei que te vai custar porque contra injecções de auto estima é difícil de ser-se imparcial): uma pessoa que pretende perseguir-te avisa? Que tipo de stalker avisa que te vai perseguir? Perseguia-te e pronto, não? O elemento surpresa não é a base onde assenta toda a ideia da perseguição?
Como se isto não fosse razão suficiente, fica sabendo que não és especial, eu amo todo o mundo. Eu apaixono-me todos os dias, pergunta aos meus amigos, esses sim, que têm conhecimento de causa. Pergunta ao Miguel, já que vocês os dois parecem umas velhas cuscas campónias de bigode quando se juntam a descrever os últimos acontecimentos sobre mim. Cada vez que um homem me diz “olá” abre-se um mundo inteiro de possibilidades, (não necessariamente as minhas pernas), talvez não te interessa, mas pergunta-lhe também se eu alguma vez consegui ter uma relação monogâmica. E não porque gosto imenso de sexo, ou porque trair é excitante, sim porque sou uma cabra que se apaixona diariamente.

Quando me apaixono a sério, não tenho coragem de o dizer. É típico das pessoas que andam aí a distribuir amor falso, pergunta a qualquer bom psicólogo. (...)

Outra coisa: caguei para o que tu pensas também sobre o facto da bebedeira não ser desculpa. É. E não demorei imenso tempo a conjecturar esta teoria palhaço, não penses isso. Se me tivesses dado uma oportunidade para o dizer logo no momento, teria dito. A bebedeira é, efectivamente, desculpa. No sentido em que um bêbado não está apto para pensar e escrever uma sms que diga o seguinte: “epá ya, acho que curto de estar contigo, diverte-me estar contigo e estou a considerar a hipótese de estar a começar a curtir de ti mas estou muita bêbada por isso acho que estou a inflacionar este sentimento”. Não. O Sr. Ébrio inflaciona logo o sentimento, e resume a frase com um “amo-te”. Eu não poderia amar-te! Mas eu conheço-te de algum lado para te amar?! Tenta perceber que a bebedeira processa-se de maneira diferente em pessoas diferentes, não há factos comprovados porque não existem empresas disponíveis a ceder fundos a uma investigação inútil do género, mas pela minha experiência de vida e de bebedeiras (e tu, que tens 32 anos e te auto proclamas um brincalhão de primeira, devias saber isso melhor do que eu) e pelas regras simples de ciência orgânica dadas para aí no 4º ano não é difícil perceber a seguinte conclusão: corpos diferentes, reacções diferentes, cérebros predispostos a amar, sms de amor. Ok? A bebedeira é um processo químico, se a medicina ainda não descobriu o medicamento que tenha o mesmo efeito em 100% da população, o álcool vai ter?

Por fim (e juro que estou mesmo a terminar) se eu realmente te amasse deixa-me dizer-te que és um cabrão. Epá, e não te orgulhes disso, porque a mim já me disseram que me amam assim do nada e eu nem por isso lhes disse “backoff!” porque pensei: bem, se esta pessoa me ama e eu não posso amá-la da mesma maneira, pelo menos vou deixar isso claro e poder honrar o sentimento dela da forma que puder. Por isso, mesmo que não percebas nada do que acima explico, continuas a ser má pessoa Alexandre, pelo menos isso deveria pesar-te na consciência.
Respeito muito pessoas com coragem, e dizer amo-te não é fácil.

E não vou dar uma de “ah e tal usaste-me”, isso seria estúpido. Eu não sou assim e tu nunca me prometeste nada sem ser as poucas sms que mandaste (também bêbado, lá está, não percebo) a dizer que gostavas de mim quando ainda nem tínhamos estado sentados a falar uma única vez, ao fim de dois dias de conversa virtual. (Lindo, também gostavas de mim nessa altura no sentido lato da palavra ou era a bebedeira a falar? Lá está, daí vem a expressão “bebedeira a falar”, não fui eu que a inventei bebé. Ou agora também vais questionar anos de sabedoria popular? Ai, ai, - suspiro de paciência – coerência e boa memória nunca foram o teu forte, está mais que visto). Estás no teu direito, mas ao menos diz-me que te afastaste de mim porque cheiro mal, não faço a depilação no Inverno ou salivo imenso da boca quando falo e isso não é nada giro de se ver (e quero mesmo que faças uma representação mental disto, para poderes excluir a hipótese de que este mail é para te “reconquistar”). Ou diz-me antes que pretendias comer-me de trás para a frente mas depois percebeste que eu não era a miúda fácil a que estás habituado e não sabias como descalçar a bota. Acontece-me regularmente, não tenho culpa de ser gira e, simultaneamente, estar cheia de personalidade quando existe um estereótipo qualquer sobre as mulheres boas.

Não precisas ser meu amigo, amigos tenho eu de sobra, mas exijo o teu respeito, e aquilo não foi maneira de tratar uma pessoa. Eu quero poder ir aos concertos de Macacos sem ter-te a pensares que fui para te ver porque te amo, o mundo não gira à tua volta ya? Não és nenhum sol. E quero poder encontrar-te na rua sem que seja constrangedor, e espero esclarecer isto mesmo que não volte a falar contigo porque ser a comédia de uma banda de categoria B não faz o meu género. Pendura lá o teu troféu, eu sou um bom troféu, sei que sim, deves estar orgulhoso disso. Só uma pergunta: é esse o teu kick? O meu é coleccionar experiências com idiotas, ora aí está, também és o meu troféu.
Do género, agora nunca mais vou poder ir ao teatro no Tivoli comprar bilhetes? E nunca mais vou poder ir jantar a casa da minha amiga Marta que é tua vizinha? Ridículo.

Pá, sou mesmo transparente, cristal clear, por isso tinha de deixar isto claro. Caguei se não voltar a falar contigo, só não gosto de psicologia barata, e de pessoas que ficam com uma errada impressão de mim porque não souberam analisar-me. Aliás, eu pensei que tu, como tinhas taaaaanto sentido de humor (!) fosses perceber a porcaria das mensagens e fosses rir disso, assim como eu ri, no dia seguinte. Se há coisa que eu não sou é cobarde, e não me custa nada admitir ao mundo que te mandei uma sms a dizer “amo-te” mas as coisas não são assim tão lineares, não deixa de ser verdade se não for visto em perspectiva, é apenas rigoroso, mas é mais verdade se for contextualizado. E juro-te, se eu soubesse que não eras um cavalheiro e que andarias a pavonear-te com a merda de um concerto que foste ver comigo e mais uns quantos sms fora de contexto, nunca na minha vida me teria metido contigo no myspace. Já conheci homens das obras com mais classe que tu.

I.Y.F.F.M.F!: E sei que andaste a tentar ver o meu myspace. Isso foi lindo para o meu ego e para a construção (ou apenas reforço) da ideia que eu tenho da tua personalidade. Para quê veres o meu myspace? Quer dizer, eu tenho a obrigação de esquecer-te e a ti isso não se aplica? Bateu-te a saudade foi bebé? Queres ser infantil? Vamos ser infantis! Pelo menos eu tenho mais razões do que tu, tenho 21 anos porra.

P.S. Poupei-te ao trabalho de fazeres copy-paste, e mando em anexo o mesmíssimo texto num documento word para te facilitar o trabalho de impressão e levares aos ensaios, espero que a tua impressora tenha tinta, mas não vale omitires partes com uns simples cut, ya? E ao menos conta a história como deve de ser, deixa-os ler o documento com atenção, tenta ser minimamente rigoroso e não contes as partes do mail que apenas te interessam, isso não seria justo.
E faz-se só um favor: não te dês ao trabalho de me fazeres um “RE: hate mail” porque eu bloqueei as tuas possíveis mensagens. Não vais receber um “delivery status: failed”, mas também eu não vou receber nada por isso não vale a pena incomodares-te, para além de que o objectivo disto NÃO É obter uma resposta. Isto não é um monólogo, é apenas uma conversa de circuito fechado.
E não me venhas com balelas tipo amor e ódio estão bastante correlacionados, a sua linha é ténue, indiferença e desprezo é suficiente, blá, blá, blá, porque isso para mim é bullshit. Equivale quase aos homens de pénis pequeno que andam por aí a dizer que o tamanho nunca contou, percebes? Não posso evitar que te tenha conhecido, é mais um dos meus poucos defeitos mas olha – encolher de ombros –, digamos que o destino nem sempre me foi amigo, queres que faça o quê?
E quero também desconstruir desde JÁ a ideia de que este mail demorou duas semanas a cozinhar, que eu pensei bem no que ia dizer, que escolhi cuidadosamente os vocábulos e argumentos, blá, blá, blá. Mais bullshit. Nem por sombras. Demorou três quartos de hora inspirados num episódio de Dr. House, bebé. Pode custar-te a acreditar por estar escrito de forma tão transcendente e que te ultrapassa, mas eu tenho um futuro promissor na escrita, sou criativa e boa dactilografa, e óptima a entrar em transe e cuspir o que penso em curtos espaços de tempo. A minha escrita, tal como eu, só é perfeita por ser espontânea. Dou-te também uma possibilidade de comprovares este fenómeno que aqui descrevo (sou óptima a coleccionar palhaços mas também em não deixar pontas soltas): se fosses exímio na interpretação de prosa poética satírica ironico-inteligente, conseguirias, a partir do meu texto, interpretar através da velocidade implicitamente expressa no ritmo conferido pelos vocábulos e pontuação, que eu não demorei muito tempo a conceber isto. Como não és, eu que o sou e que tive 19.4 a Português A no Exame Nacional (by the way, a melhor nota do conselho de Setúbal), digo: no texto apresentado de prosa poética satírica ironico-inteligente, através da velocidade implicitamente expressa no ritmo conferido pelos vocábulos e pontuação, é fácil concluir-se que o seu autor não demorou muito tempo (cerca de três quartos de hora) a concebê-lo. A análise feita por mim é tendenciosa, eu sei, mas leva isto a alguém inteligente – existem mais especialistas na área – caso queiras aumentar o teu ego, que ele derruba logo por terra o teu mundinho narcisista assim em três tempos.

CASO NÃO QUEIRAS DAR-TE AO TRABALHO DE LER O TEXTO TODO, LERES ESTE PARÁGRAFO BASTA:

A título de conclusão, deixa-me pedir-te que, se me vires algum dia na rua, (porque Lisboa é pequena e tu um cagalhão no passeio) por favor finge que nunca me conheceste. É mais do que justo. Não te quero apagar da minha memória porque é-me fisicamente impossível e porque ser utópica e sonhar que algum dia tal seja possível pelas mãos da tecnologia e/ou medicina não faz o meu tipo, mas ter uma vaga lembrança bastará. Portanto, não me relembres, ya? Nada de “Eu sou o Alex, lembras-te? Aquele que hipoteticamente amaste...”, ok? Não quero ter de fingir que me lembro de ti, só farás má figura.

São 45 minutos da minha vida que te ofereço, ok, mas garanto-te que já perdi mais tempo a defecar, tenho um intestino tímido.



Legenda:
I.Y.F.F.M.F! stands for: in your fucking face mother fucker!"

04 May 2008

a interrogação silenciosa é a pergunta mais latejante de todas.

- Como é que viemos aqui parar? - Pergunta ela, aos tropeções tentando arranjar uma posição confortável naquela cama, tentando segurar a cabeça com toda a força do seu pescoço, tentando concentrar-se a minimizar o efeito do vinho, - hã? - Pergunta novamente, agora ainda mais infantil, esperando uma resposta dele. Ela olha à sua volta.
- Shh... - sussurra ele, pousando-lhe um dedo descoordenado sobre os lábios. Ele também está claramente bêbado, e pergunta-se se isto será um erro. Ela sabe, efectivamente, que aquilo é um erro. Mas a personagem feminina desta fantasia sempre se sentiu atraída por coisas erradas; aliás, tudo o que ela sabe fazer é errar, é essa a história da sua vida. É uma história baseada na sucessão de erros que vieram a demonstrar-se interessantes e que a levaram até onde se encontra hoje: um quarto de hotel luxuoso, imundo às custas duma vida boémia, pago pela empresa que os levou ali como colegas de trabalho. É isso que lhe dá prazer, de entre todas as luxúrias quotidianas a que sucumbe. Viver uma vida de erros dos quais nunca se arrependerá, porque estará demasiado bêbada para se aperceber deles. Viver uma vida de belos infortúnios, que sabe que lhe acontecem porque os homens são demasiado fracos para lhe recusarem algo. Ela afinal não é tão estúpida quanto isso. Apaixonada pelo proibido, pela vida, pelo pecado, sim. Estúpida, não. E a maior prova disso é que ela construiu a vida dos seus sonhos fazendo-se passar por estúpida.
E aquela relação, aquele rufar de tambores que agora se anuncia perante ambos, durou um ano a alcançar. É persistente, nem todo o tempo do mundo a demove dos seus objectivos. Foi paciente o suficiente para esperar por aquele momento. E agora finge que não está a dar por ele, que ele passa por si despercebido, que não foi ela que o perseguiu, que é mais um infortúnio, mais um daqueles que lhe acontecem.
- Que cliché, fazeres isso do shh, estás a tentar ser sensual? - Finaliza ela, já sabendo que aquela frase o deixará intrigado. É assim que ela trabalha, até ao momento do sexo, às vezes mesmo após, ela nunca se entrega, deixa-os sempre com o gostinho amargo da dúvida de que eles poderão, afinal, não a ter. Pelo menos naquela noite.

E assim, ele tropeça na sua teia. Sempre adorou a brutalidade sincera do seu discurso, "existem tão poucas mulheres assim, tão pouco confiantes ao ponto de dizerem a verdade", pensa. Isso excita-o ainda que de uma forma não física, que, porém, se transfere até o seu físico. Os homens inteligentes são assim, funcionam com o cérebro, é o membro deles que tem de ser estimulado sexualmente. E ela sabe-o, sempre o operou porque percebeu desde nova que o corpo não era o seu melhor atributo, era a sua inteligência e como a poderia usar: fazer-se passar por confiante, escolher ser misteriosa, fingir-se de ingénua quando é calculista, fingir-se dominada quando domina, e praticar a sua sensualidade com base na sugestão, sem nunca, nunca perder a classe. A beleza física, aliás, é efémera, e ela é inteligente que baste para perceber que não poderá fazer uso exclusivo dela para sempre.

Ele explica:
- Tu és a namorada oficial do não-sei-das-quantas, a paixão de dois dos meus colegas de banda e a amante do meu ídolo. Como é que podes ter espaço para mais um homem na tua vida? - Ambos riem de forma perversa, e as suas testas e narizes encontram-se; sentem agora o hálito latejante um do outro.
- Cala-te agora tu. Eu não sou tua, nunca serei. Portanto não terei de arranjar "espaço" para ti na minha vida. E se queres saber, eu só sou uma promiscua sabes porquê? - Diz ela, entre mais gargalhadas, arrastando as palavras, contorcendo-se, e com pausas desnecessárias. - Sabes porquê? Sabes? Não sabes... Porque eu apaixono-me. Sim, apaixono-me. Será normal? Gostar de mais que uma pessoa ao mesmo tempo? Eu vou para o inferno...

Ele beija-a, surpreendendo-a. Ela adora ser surpreendida. Ele sabe que aquele monólogo não irá a lado nenhum, sinceramente nem quer ouvi-lo. Deixou-se invadir pelo selvagem sentimento que o assola, apesar de todas as consequências que amanhã terá de enfrentar. Ele deseja-a demasiado para resistir ao seu perfume, aos seus lábios, à sua sensualidade tão espontânea.

Ela empurra-o:
- Contempla-me.
Ele não sabe bem o que fazer.
- Contempla-me! - Grita ela, num sussurro grave e de tom manipulador, porque aquela relação é segredo, é mentira.
Ainda sem saber o que fazer, ele sussurra o seu nome com uma clara terminação reticente, o típico sussurro de desejo.
- Contempla-me, diz que me queres -, insiste.
Ele não responde, ele nunca foi submisso. Custa-lhe porque ele quer aquele momento mais do que tudo, desde que se apercebeu que ela não era a burra que ele julgava ser. Mas este homem está habituado a dominar as mulheres, não o contrário. Ele quase que não acredita que tem 32 anos e que está quase, quase a ceder aos desejos de uma miúda de 21. Ele é o tipo de homem que tem groupies a toda a hora disponíveis, só porque toca numa banda. Mas esta não. Esta escolheu-o a ele, não o contrário, e ela quer deixar isso bem claro como a vingança da última vez que ele a julgou mais uma dessas fãs.
- Adoro ser adorada... - Sussurra ela, insistindo, adivinhando-lhe os pensamentos.
Ela agora está quase a oferecer-se a ele numa bandeja prateada, a mesma mulher que manipula o seu ídolo. Ela está de soutien preto, de um negro que lhe assenta perfeitamente no tom de pele, e de jeans justos. Desaperta o primeiro botão das calças, mostrando-se tímida, e fazendo um olhar que lhe diz que ela desapertará mais se ele a contemplar. Ele toma um momento e olha para ela com olhos de ver, agora sim, ele começa a ceder. Ela continua confiante e tímida, vira-se, brinca com a alça do soutien, puxa o cabelo para um lado e pede: "beija-me aqui", desviando o olhar para o seu pescoço.

Esta é uma mulher que não tem prazer no sexo, pelo menos não no coito. E ela já fez sexo vezes suficientes e com os mais diversos homens para saber que nunca terá prazer no sexo. Mas não é frustrada por isso. Ela arranjou maneira de contornar o problema. Preenche as lacunas do prazer físico com prazer emocional. E o autor deste texto não se refere a amor ao mencionar prazer emocional. Tudo o que ela tem é a emoção, já que fisicamente é frígida, então desafia-se a controlar os homens mais controladores, a infantilizar os homens mais adultos, a tornar fracos e submissos os mais confiantes. A superá-los; é isso que lhe dá prazer. Ela quase que se vinga do prazer que nunca terá, humilhando-os psicologicamente. Quando começam, ela transmite sempre a mensagem subliminar que terá de ser à maneira dela, ou não será.

Enquanto ele a beija, louco de respiração ofegante, enquanto ele a bajula fazendo do seu corpo um santuário de prazer, exactamente como ela impôs, ela luta por afastar-se dos seus pensamentos. "Meu Deus, como amo este homem... Como sou louca por ele... Vai partir-me o coração sair deste quarto e dizer-lhe que não o quero...", e concentra-se, tentando tirar máximo partido daqueles poucos momentos que alguma vez terá com o homem dos seus sonhos. E concentra-se, construindo a imagem mental da forma mais fria de o abandonar. Por minutos deixa-se levar, fraqueja ao pensar que poderia cometer este erro. Deixar-se levar, deixar-se apaixonar mais uma vez. "Seria o erro do erro", pensa. E lembra-se de como é tentador errar.

Ele está agora em êxtase, e ela levanta as sobrancelhas a si mesma, numa sensação de congratulação. "Foi por este momento que esperei. Não posso esperar mais, senão desisto e caio no erro do meu erro propositado, não pode ser". Ao passar por estes pensamentos, já quase completamente despida, alcança o seu pénis e verifica como está: duro, erguido, latejante. Ele já começa a expirar profundamente, em sinal de quem não aguenta muito mais.

"É agora."
Começa a beijar lentamente a barriga dele num trajecto descendente que acabará no seu pénis. Ele antecipa-se, e assume a posição típica de sexo oral; a posição egoísta que os homens assumem quando sabem que terão o seu tipo de prazer sexual preferido e, melhor ainda, o que lhes dá menos trabalho. Recosta-se então, atirando a cabeça para trás. E insinua-se, relaxando os músculos de todo o corpo, exceptuando aquele único músculo que não consegue relaxar. Ele pretende tirar o máximo prazer disto. Daqueles lábios que se adivinham quentes e húmidos.

Um gemido de antecipação pode ouvir-se. Ele agora geme e suspira pelo prazer que terá.
Ela finalmente chega ao fim do seu caminho de beijos suculentos. Toma um momento, uma pausa, e espera que ele abra os olhos para tentar perceber o que se aproxima.

"É agora."

Ela levanta-se, pega nas suas roupas e sai do quarto ainda despida, sem proferir uma única palavra.

Abandonou-o no pico da sua paixão sem uma única explicação, assim com ele o fez um ano atrás.

Mais do que por ele, ela sempre se sentiu atraída pelo prazer de trazer justiça poética à vida, pelo menos à sua vida.

03 May 2008

(mais) um de muitos

Faço o quê? E agora que sou confrontada com tudo o que sempre quis faço o que?
Os sonhos não deviam ser-nos entregues assim de bandeja, deveriam dar mais luta para que seja possível saboreá-los.

Se assim for, que sonho é?

(pior do que as pessoas que só querem o que não podem ter, são as que não sabem o que querem.)

16 April 2008

A minha alma gémea incompatível.

"Sê minha ou esquece-me."

Adorei a frase, o desafio, o ultimato. Apetecia-me ter respondido com um "sou tua", mas fui sensata porque lembrei-me dos tropeções que tenho dado na verdade.

Que tal a frase dele, para fatalismo? Que tal. A simplicidade e brutalidade dela. Amei-o, naquele momento. Um momento antes tinha-o odiado. Um momento depois odiei-o uma vez mais, porque aquela frase fez-me fritar o cérebro a pensar nela, e as que se seguiram ainda mais. Juro que dormi uma sesta de quatro horas, tal não era a exaustão psíquica. E depois, quando acordei, o silêncio, a resposta mais (des)interessante de todas. Uma merda.

Ele não responde às minhas perguntas. Aprendeu politiquices na televisão.
Ele adianta-se às minhas reacções, protegendo-se. Aprendeu com a cobardia da idade.
Eu não estou ao alcance dele? Espero que o tenha dito por ironia.
Não vai resultar e tem medo e quer ser meu amigo depois da sms que iniciou este debate? Suponho que nunca me senti atraída pela coerência.


Não sei porque ele o disse, não sei porque me perguntei tal coisa.

Ele é louco. Enlouquece-me por transferência, tal não é a agressividade da sua estupidez.

Uma relação comigo própria nunca resultaria, talvez ele afinal tenha razão. Hoje mesmo, não resulta, é uma relação em que fujo de mim mesma constantemente, nos meus debates internos e fundamentalistas, para não enlouquecer num auto-conflito de pura bipolaridade. Já que não posso sair de mim, abstrair-me de mim, fujo de mim. Corro em forma virtual na direcção oposta.

Ele é demasiado eu, a minha alma gémea incompatível.

Ele é a personificação da emoção, ele é tudo.
Um bocadinho demasiado tudo.

Demasiado querido,
emotivo,
cómico,
exuberante,
sincero,
giro,
psicótico,
invulgar,
distinto,
feliz,
infeliz,
bipolar,
talentoso,
irracional,
dramático.

Vive as suas emoções exactamente como eu, hiperbolizando-as à exaustão, com a consequência de se tornarem efémeras, fortes e fracas num único momento, fugidias, frágeis, belas e feias, desproporcionais.

Não posso.

Isso sou eu.

As nossas discussões são paixão.
As nossas conversas são paixão.
Todos os nossos diálogos, seja de que natureza forem, são paixão.
Somos paixão desde o 6º minuto de conversa que tivemos. Só fomos neutros um com o outro durante 6 minutos desde que nos conhecemos.

Demasiada paixão.

Há que haver um equilíbrio, chego a crer que às vezes a loucura dele me ultrapassa.
Já apaguei o número dele, não posso voltar a sofrer, não posso deixar que voltem a partir-me o coração, para isso seria necessário que estivesse, pelo menos, inteiro.


Demasiada paixão é perigoso? A pergunta é tendenciosa.

30 March 2008

Insisto em ser burra. Tive todos os sinais.

Mas desta vez não dói tanto como da primeira, "it's never as good as the first time", já dizia a música dos Sade, para o bem ou para o mal.

Todos os sinais gritantes de "Perigo!" aos quais eu poderia ter-me alarmado e fugido que porém, só tiveram o efeito contrário, de me aproximar pela curiosidade e, vulgo, burrice:

(Breve nota introdutória: eu sempre disse o seguinte: "Ponham dez gajos que eu não conheço alinhados contra uma parede, e digam-me qual deles eu não posso ter. Independentemente da razão, os outros todos a partir desse momento deixam de existir; não os vejo, nem sequer estão lá.")

- Também fui brutalmente sincera desde início porque pensei que podia, porque pensei que ele também o estava a ser.
- Também me disse "gosto de ti" assim do nada, despropositadamente, repetidas vezes, sem eu perguntar ou sequer sugerir, antes que algo físico se desse.
- Também me apaixonei antes que algo físico se desse. Também nunca o revelei.
- Também tivemos um primeiro encontro de cerca de 6 horas seguidas.
- Ele também conheceu e flirtou com a Rita antes de me conhecer.
- Também tivemos aquele primeiro momento de euforia que juro que sei que ele pensou que iríamos ser felizes talvez para toda a eternidade.
- Também tive um momento que pensei que não gostasse dele.
- Também gosto mais dele em ausência do que em presença.
- Também me manda beijos despropositados no msn.
- Também diz gostar de mim como sou, e aquelas merdas de que é fantástico eu ser assim brutalmente sincera blá blá blá.
- Também parece um adulto.
- Também parece um gentleman.
- Também é super bem educado.
- Também é mais que tudo uma criação minha.
- Também é divertido.
- Também tem uma cultura que me ultrapassa.
- Também é inteligente, agradável (quando quer), comunicativo (quando quer) e encantador.



"If there's anything that i'm guilty of is to try to recreate over and over again my first perfect failed relationship.", The Closer.

29 February 2008

I can't stand another lifetime.

O que eu não dava por uma vida em que não tivesse razões para escrever.
O que eu não dava, oferecia, trocava.
Uma vida desinteressante, com a sua rotina inalterável, uma vida como tantas outras.





I hope there's not life after death.




20 February 2008

o bliss de que vos falei acontece mesmo sem sexo

Nem tudo é mau, bolas. Aliás, nem tudo é pouco bom. Parece-me completamente injusto só postar quando tenho algo triste a retratar, só porque o blog se tornou desprovido de felicidade e me fui habituando ao tom melodramático.

A minha costela italiana partiu ontem, metaforicamente. Esteve uma semana em Lisboa, e ao partir deu-me a trsiteza. Aquelas noites lindas de folia de dançar, chegar a casa e passar mais um dia fora de directa, e mais outra noite meias acordadas a rir e a falar na cama.

Mas assim que me vi sozinha no meu quarto, meditei. E deu-me uma felicidade indecifrável. Não pude explicar porquê, era apenas feliz. Um sorriso no vago, um arrepio. Amor, amizade, confiança é isto. Lembrei-me que ela está sempre cá, e eu sempre lá.

A saudade é como que um chamamento, e em breve uma de nós tornará. Mas o que mais me apaziguou foi o facto de ter percebido que desde que me conheço a conheço. E não conhecer no sentido prático, conhecer mesmo. Amo-a, e sei que sou amada de volta. E esse tipo de confiança sei que só se atinge a um certo nível. São muitos os anos, foram muitas as discussões, mas este amor é incondicional. Dela, da sua irmã que é também minha, das nossas mães. Com esta “família” sentimo-nos seguras.

Lembro-me de dormirmos juntas mesmo com camas vagas, em pequenas. Todos os verões o fazíamos, e os nossos pais chamavam-nos loucas; preferíamos dormir desconfortáveis a desperdiçar as nossas horas de sono separadas. Não queriamos perder nem um único minuto juntas, porque o final do Verão era demasiado triste, e quando mais divertido fosse, mais depressa passava: o fim das férias, da praia, o regresso à escola e, pior que tudo, a nossa separação.
E sempre imaginei que cedo tudo terminaria. Com a idade começaríamos a ser menos sentimentalistas, e com os namorados as férias juntas acabariam. Ela mesma certa vez fez-me prometer que eu nunca abdicaria daqueles meses de calor nem que me apaixonasse o mais perdidamente por um rapaz, e jurou-o a mim de volta. Mas eu não acreditei.
Ontem, ambas com vinte anos de idade, o refizemos. Dormimos juntas com uma cama vaga, em experiência revivalista. E sei que o fizemos não pelas promessas, mas porque nos dá conforto no desconforto. Aquele calor humano e aquele sentimento de termos onde nos refugiar a meio da noite é crucial na nossa amizade, são quase as bases físicas onde ela assenta.

E sei que ela nunca me trairá com a mesma certeza que nunca a trairei. São exclusivas as relações que mantenho assim. E fiquei feliz, porque sei que posso contar com ela sempre. E também não no sentido prático. Sei que se necessitar, ela apanharia o próximo avião para estar comigo, assim como eu daria um órgão vital para fazê-la viver. É este tipo de relações que anseio, procuro. E faz-me feliz começar a ser mais sensata e saber quais são assim, quais eventualmente serão, e quais nunca foram nem serão. Para além do implícitissimo sentido de confiança na qual as bases do amor verdadeiro assentam que acarreta esse tipo de relações, é claro. É bom sentir amor, e sentir-me amada, nem que seja um amor assexuado, mas principalmente um amor transparente, onde a pessoa me ama pelo que sou, sabendo que ela me pode oferecer muito mais do que eu a ela.
:)

06 February 2008

Em tudo aquilo que tens de perfeição, falta-te experiência.

Deve ser por isso que as crianças são tão perfeitas.
Qual dos males o menor, é a decisão a tomar,
Por isso é que eu sou tão fã de errar.

05 February 2008

pull yourself up like a lady!

- Qual é a melhor forma de aprender?

- Errando.

- Porquê, se é dolorosa?

- Porque é também infalível.



infalível
do Lat. infallibile
adj. 2 gén.,
que não pode falhar;
que não pode errar em matéria de fé (o papa);
que nunca se engana;
inevitável;
certo;
exacto;
seguro.




in dicionário on-line priberam





Não sei porque me queixo, afinal eu escolhi esta vida. O livre arbítrio substituído pelo destino do Renascimento em Florença e no mundo, não me deixam espaço de manobra. Para desculpas. Para arrependimentos e auto comiseração, para desresponsabilização.

É da condição humana, errar. Já dizia a velha e sábia sabedoria popular.

Somos apenas ensinados de forma a minimizar esses erros, e é assim que a sociedade evoluiu pelas e nas bases que hoje conhecemos.

Eu, porém, tenho um cérebro e um coração que decidem ignorar todos os livros, todos os filmes, toda a História, todas as formas de socialização, e agir de forma rudimentar. Pré-histórica, mesmo.


















É assim que se comporta uma filha sem pai? Uma pessoa sem identidade cultural? Uma adulta vinda de um lar destroçado? A filha mais nova, mais mimada, com mais atenção de uma família que tende a afastar-se cada vez mais de si própria? Terá a psicologia moderna razão?

Ao ler o livro da história da minha vida, parece-me que sim. Olho para ela, em retrospectiva, e vejo uma data de chamadas de atenção da infância até agora, umas com mais sucesso que outras. O pior, é que isso ensinou-me a ser irresponsável. Que, fizesse o que fizesse, a minha mãe estaria lá para apanhar o meus pedaços. Sempre esteve. Mas desta vez juro que não quero atenção, isto é apenas uma consequência disso.

Olho para a minha vida e revejo-me num pedaço das estatísticas, quando passei toda a minha vida a argumentar contra elas, ignorando-as.

23 January 2008

auto-psico-terapia-baratérrima.

A falta de sexo começa a afectar-me de forma bastante grave. Preocupo-me. Será que brevemente estarei eu a adoptar um miúdo de passado traumático? Provavelmente. Os homens na crise da meia idade compram um Ferrari. As mulheres, sempre mais corajosas, na crise de um quarto da idade adoptam um filho. As menos corajosas, um Yorkshire Terrier.

Deve ser por isto que as trintonas passam, e depois vem a menopausa, por isso é que a falta de sexo nas mulheres é mito. Assim como a masturbação. Depois vem a menopausa e elas tentam esquecer o assunto.

Mas pronto, tenho de evitar divagar.

A falta de sexo tornou-me sensível. Embrutecida em relação aos homens - porque demasiadas cicatrizes no mesmo sítio tornam a pele inflexível - mas com o sentido de sensibilidade apuradíssimo para outros aspectos. Nomeadamente, amigos. Nomeadamente, a idade. Ou sou só eu a canalizar sensibilidades, a desvia-las duns sítios para outros, deve ser isso. Estou tão sensível, tão sensível, que dou por mim a criar dissertações sobre karma sentimental, vejam bem (e juro que não é influência - pelo menos directa - da série "O meu nome é Earl").

Lembro-me dos amigos que perdi, ou que vou perdendo. E ultimamente tenho dois, que juro por tudo são as pessoas que melhor conhecimento de causa têm de mim, e que me adoram. Mas um porque arranjou namorada e outro porque está fora do país, não têm tempo para mim. E também porque eles não se agarram às amizades como eu, lá está, têm sexo.

Sinto imenso a falta deles, e relembro-me de todas as gargalhadas que demos. Pergunto-me porquê que tive simplesmente paixões platónicas por eles se poderia ter tido algo mais, e depois lembro-me que não queria abdicar da perfeição daquelas amizades.

Eles são o tipo de pessoas que gostariam de mim ainda mais se eu metesse o dedo no nariz ou desse um peido. Esse tipo de relação, é uma relação.

E adoro-os principalmente por eles saberem quem eu sou, por verem para além do meu presunçoso exterior, por serem inteligentes o suficiente para perceberem - e principalmente não julgarem - a crueza do meu discurso sincero (que só o pode ser mesmo com uma parte distinta de pessoas), por conseguir ter conversas que transcendem o ritual social dogmático estabelecido (e por nos sentirmos arrogantemente superiores por isso, aha!), por adorarem "o meu poço de contradições", como um deles sempre dizia.

se tivessemos filhos eles teriam a tua personalidade poque é dominante.

Tu choraste depois de ouvir Marvin Gaye, eu chorei só e porque senti que confiaste um pouco em mim, numa desconhecida; és quase um cristão, sabes? Sem perceberes amaste o próximo.

Tu amas-me!


Bolas, ultimamente apercebo-me que posso, afinal, ser cristã. Faço uma data de referências ao Deus dos cristãos, mas o pior de tudo não é isso.

O pior de tudo foi este texto que escrevi ontem, mentalmente. Pensei nele mas não consegui materializa-lo porque pareceu-me demasiada hipocrisia. Primeiro, antes de o escrever, em prosa poética merdosa, limitada por tudo aquilo que sou, tinha de aceitá-lo como acontecimento, e até agora tenho estado em negação. Até agora.


Fui à varanda do meu quarto, pensei que pudesse relaxar depois de um dia fadigoso. Tenho uma vista linda, que me faz sentir pequena, pequeníssima, uma vista daquelas que nos retira todo e qualquer Ego. Porque apercebe-mo-nos que, ao mundo ser assim vasto, ao universo ser assim infinito, os nossos problemas não são sempre demasiado grandes. Nem os únicos. Então, deixamos de sentir compaixão por nós próprios, que é o pior que pode acontecer depois de sentirmos a compaixão dos outros.

E então aconteceu. Uma conversa com ele.
Senti-me, antes de mais, assustada.
E então ele disse-me, mas não antes de entrar bem fundo no meu íntimo: "a primeira premonição, e tu não quiseste dar-me ouvidos."
Eu respondi que sim, que a vi, que a senti, que decidi ignorá-la. Olhei-a nos olhos de uma foto que pendia em queda livre no meio de tantas outras e disse-lhe: "Não me assustas. Não acredito em ti. Não existes. Não és."
Ela, com olhos maliciosos e um riso sádico disse-me ainda: "Eu não estou somente nas canções que ouves, nos filmes que vês, eu aconteci-te e tu tinhas uma última oportunidade de te redimires."
Abanei a cabeça em sinal de negação, e aquele pensamento desvaneceu-se.

Depois, a segunda de duas. A última premonição.

Naquele dia vesti-me toda de negro, eu que o detesto fazer, creio mesmo que nunca o fiz, eu que naquele dia que me sentia especialmente feliz por tantas outras razões.

Então, a notícia.
Olhei-me de alto a baixo e pensei.
Aconteceu-me. E chorei, mais tarde, sem lágrimas, naquela noite, arrependida por todas as coisas que podia ter dito e não disse, podia ter feito e não fiz.

E agora, queres que fale contigo? Não o farei. Não o farei. Não o farei. Tiraste-me a coisa que mais amava nesta vida, e pretendes que fale contigo? Fizeste-o por que razão? Para que eu percebesse a dimensão do meu amor agora de a perdi? - é quantificável, o amor?
Ele obrigou-me a olhar para toda aquela beleza a torno.
Disse-lhe que não, que aquilo não é criação sua, que é uma coincidência cósmica o nosso mundo ser tão belo e tão perfeito e tão equilibrado e tão autónomo.
Reentrei no quarto.

Reparei então no seu filho, no meu ateu quarto. Está ali deste sempre, o filho dele, crucificado. Diz-se que morreu por nós, para nos salvar, e agora pretende ser uma espécie de celebridade. Já não me recordo quem o pôs ali.
De repente, senti um peso enorme nos ombros, uma força que me empurrava a cair.

Então caí.

Ironicamente de joelhos. Agora começo a sentir-me mal, sem fôlego, sem paixão.
Ele disse-me qualquer coisa que eu não percebi, ao que eu lhe respondi: "Não falo contigo. Nunca. Não sou mais um daqueles católicos "não praticantes" que se revolvem a ti somente nos momentos de incerteza e necessidade. Não. Eu decidi começar uma batalha já perdida, não importa, não te temo. Não és."
Ele disse-me para depois sair: "Como podes tu negar-me? Eu decido toda a essência das coisas não definidas."

E depois chorei as primeiras lágrimas de agua e sal, desidratando-me um pouco. Continuei de joelhos mais um pouco, e depois senti-me impelida a unir aos mãos ao peito em jeito de quem reza. Mas não o fiz. Na teimosia da minha não-crença, acreditei que tudo aquilo fosse fruto da minha desesperada imaginação.

Chorei porque não pude entender.