07 July 2008

a tale as old as time.


- Sempre cedeste.
- Sim, sempre cedi. Plantas-me aqui neste cenário idílico, achas que não me ia apaixonar por ti? Tornaste conveniente eu gostar de ti, é fácil amar-te.
- És sempre tão comedida nos elogios.
- Sou sim, ou não seriam eles elogios, apenas um socializar erróneo e impassível. Mas agora cala-te. Dá-me um beijo.
- Dou-te todos os beijos do mundo. - E mal termina aproxima-se, pronto para a beijar. Ela, toma subitamente uma atitude séria, a sua expressão facial enrijece-se, afasta-se dos seus lábios, olha-o bem nos olhos e diz:
- Não me prometas todos os beijos do mundo a menos que mos possas dar. Tudo o que temos é este momento, percebes? Dá-me apenas o beijo que te pedi.
- Mas eu quero dar-te todos os beijos do mundo! - aproxima-se ele novamente.
- Basta! Mas não podes. Tudo o que temos é isto! Não percebes?
A sua expressão transforma-se em triste enquanto desvia o olhar. Ela teme que ele não perceba, que ele seja ainda um romântico incansável, curável apenas com a dor de um gigantesco desamor. A expressão dele também se entristece ao vê-la assim, ele percebe pouco dela, por isso é que é tão fascinado e crê que será apaixonado por ela para sempre porque nunca desvenderá o mistério da sua personalidade.
- Desculpa... - diz ele, frágil como todos os homens apaixonados são. E continua, após um longo silêncio - não sei então mais o que te dizer.
- Shh... - reaproxima-se ela. - Não fales, sente.

Ser-se frio é um estado de espírito incrivelmente corajoso e sábio e, ao mesmo tempo, cobarde, cruel e estúpido.
Porque é difícil conter-se nos sentimentos, já que sentir é algo intrínseco à condição humana.
O mimo é tão curioso, ele é a prova de que a comunicação é muda. A expressão são sentimentos, simples ou organizados, teatrais ou espontâneos.
Ser-se frio é jogar pelo seguro, é não se dar ao luxo de sentir o que é bom, para não se ter de, eventualmente, experimentar o mau.

Mas pior de tudo, são os falsos emotivos. Ou os emotivos fingidos, fraudulentos, os emotivos de profissão. Que o fazem com uma ética e deontologia, uma ética pré-estabelecida. Os falsos emotivos fabricam sentimentos, porque se divertem a fazê-lo. E depois não sabem lidar com eles, não têm bem noção daquilo que criaram, nem do que desejavam na altura da sua concepção. Os falsos emotivos são aqueles que querem apaixonar-se, ou que muitas vezes apenas querem que se apaixonem por eles, para poderem viver alimentando-se do seu próprio inflacionado ego. Os falsos emotivos contam a história de Narciso, nunca amam verdadeiramente ninguém senão a si próprios. Assim que surge um sentimento não fabricado, um daqueles verdadeiros e espontâneos, eles não sabem o que fazer, o que sentir, como o gerir. A deontologia não os preparou para tal. Então fogem, com medo de sentirem algo fora de si mesmos, da sua especialização ficar corrompida. Então brincam, e raramente dão oportunidade a alguém de ser amado.

Ela, pelo menos, categoriza-se nos semi-cobardes.

1 comment:

HSB said...

http://virtuosidades.blogspot.com/2008/07/tale-as-old-as-time.html

com a tua permissão...