"- Que foi? Parece que nunca me viste.
- Na-não. Nada. Quer dizer... Nunca te vi foi tão linda como hoje.
- Então é porque nunca olhaste bem para mim."
A personagem feminina das minhas fantasias é assim, uma típica, arrojada, sincera femme fatale.
Adoro-a porque criei-a para ser assim.
Ela odeia o silêncio, mas adora o silêncio das palavras. Odeia socializar, odeia ouvi-los falar. Por isso é que adora tanto ler, são palavras na sua única forma silenciosa. Por isso é que adora música instrumental. Jazz, soul, funk, trip hop, chill out, até a música mais ruidosa, ela prefere-a sempre sem palavras.
A minha heroína considera o mundo um sítio melhor apenas com alguma inteligência emocional, perdeu demasiado tempo a analisar as pessoas para saber que são raras as que não repetem algo que ela já saiba. Ela acredita no poder da comunicação, e na fatia fraca que as palavras representam dele, por isso é que as utiliza apenas quando acha extremamente necessário. Para si, num mundo perfeito, as pessoas só falariam quando tivessem realmente algo a dizer. As palavras deveriam ser vistas como instrumento utilitário da comunicação, não como a própria comunicação. E ainda assim, instrumento ou não, não deveriam ser subestimadas, nem exaustivas, isso só lhes retira valor. Por isso é que raramente mente, nem para evitar magoar alguém, porque o considera um desperdício de palavras. Odeia políticos porque adoram discursar, debater, declarar. Odeia coscuvilhice, coscuvilheiros e novelas. Odeia que lhe repitam algo a menos que pergunte. E raramente pergunta. Adora cinema mudo ou cinema contemporâneo que seja quase quase mudo. Aquele cinema que é quase tudo subentendido, e que dá o dobro do trabalho aos actores com as expressões faciais, e aos cineastas com os planos inteligentes. Odeia refrões. Adora televisão com legendas.
Muitas vezes ela própria desiste de comunicar para si, ainda que em forma silenciosa, porque chega à conclusão que são pensamentos que já teve e, apesar de um pouco nostálgica (como humana que é), é uma pessoa essencialmente prática; se um pensamento não a ajuda no seu caminho futuro, no seu crescimento pessoal, na sua demanda pela conquista do mundo, ela foge dele, evita-o, contorna-o, preenche o seu pensamento com pensamentos mais construtivos.
Por isso é que ela é solitária, ainda não encontrou alguém que a faça desistir do silêncio ou que - melhor ainda - a ame em silêncio.
14 June 2008
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2 comments:
Amazing!
Gosto pela escrita... grande gosto esse. Partilho esse gosto contigo embora prefira uma vertente um tanto ou quanto mais brincalhona :)
Beijinho
- Zé Luís
essa es tu! adoro ler o que escreves :) bj love
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