Nem tudo é mau, bolas. Aliás, nem tudo é pouco bom. Parece-me completamente injusto só postar quando tenho algo triste a retratar, só porque o blog se tornou desprovido de felicidade e me fui habituando ao tom melodramático.
A minha costela italiana partiu ontem, metaforicamente. Esteve uma semana em Lisboa, e ao partir deu-me a trsiteza. Aquelas noites lindas de folia de dançar, chegar a casa e passar mais um dia fora de directa, e mais outra noite meias acordadas a rir e a falar na cama.
Mas assim que me vi sozinha no meu quarto, meditei. E deu-me uma felicidade indecifrável. Não pude explicar porquê, era apenas feliz. Um sorriso no vago, um arrepio. Amor, amizade, confiança é isto. Lembrei-me que ela está sempre cá, e eu sempre lá.
A saudade é como que um chamamento, e em breve uma de nós tornará. Mas o que mais me apaziguou foi o facto de ter percebido que desde que me conheço a conheço. E não conhecer no sentido prático, conhecer mesmo. Amo-a, e sei que sou amada de volta. E esse tipo de confiança sei que só se atinge a um certo nível. São muitos os anos, foram muitas as discussões, mas este amor é incondicional. Dela, da sua irmã que é também minha, das nossas mães. Com esta “família” sentimo-nos seguras.
Lembro-me de dormirmos juntas mesmo com camas vagas, em pequenas. Todos os verões o fazíamos, e os nossos pais chamavam-nos loucas; preferíamos dormir desconfortáveis a desperdiçar as nossas horas de sono separadas. Não queriamos perder nem um único minuto juntas, porque o final do Verão era demasiado triste, e quando mais divertido fosse, mais depressa passava: o fim das férias, da praia, o regresso à escola e, pior que tudo, a nossa separação.
E sempre imaginei que cedo tudo terminaria. Com a idade começaríamos a ser menos sentimentalistas, e com os namorados as férias juntas acabariam. Ela mesma certa vez fez-me prometer que eu nunca abdicaria daqueles meses de calor nem que me apaixonasse o mais perdidamente por um rapaz, e jurou-o a mim de volta. Mas eu não acreditei.
Ontem, ambas com vinte anos de idade, o refizemos. Dormimos juntas com uma cama vaga, em experiência revivalista. E sei que o fizemos não pelas promessas, mas porque nos dá conforto no desconforto. Aquele calor humano e aquele sentimento de termos onde nos refugiar a meio da noite é crucial na nossa amizade, são quase as bases físicas onde ela assenta.
E sei que ela nunca me trairá com a mesma certeza que nunca a trairei. São exclusivas as relações que mantenho assim. E fiquei feliz, porque sei que posso contar com ela sempre. E também não no sentido prático. Sei que se necessitar, ela apanharia o próximo avião para estar comigo, assim como eu daria um órgão vital para fazê-la viver. É este tipo de relações que anseio, procuro. E faz-me feliz começar a ser mais sensata e saber quais são assim, quais eventualmente serão, e quais nunca foram nem serão. Para além do implícitissimo sentido de confiança na qual as bases do amor verdadeiro assentam que acarreta esse tipo de relações, é claro. É bom sentir amor, e sentir-me amada, nem que seja um amor assexuado, mas principalmente um amor transparente, onde a pessoa me ama pelo que sou, sabendo que ela me pode oferecer muito mais do que eu a ela.
:)
20 February 2008
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