26 May 2008

these cigarettes won't smoke themselves. what shall i do?

Lá está o meu revivalismo a vir ao de cima em noites de insónia, não sei como sou capaz de viver (neste caso já reviver) vezes e vezes sem conta a mesma dolorosa emoção.

É, como eu lhe chamei em tempos, auto-flagelação interna, um masoquismo emocional que transcende a razão porque se alimenta a si próprio de drama e dor. É assim que o ser dramático vive, angustiado por se alimentar da dor que se infringe, angustiado por ter de recorrer a dores passadas para se alimentar de mais e mais dor, a única verdadeira fonte inspiracional que tem; e se esta lhe faltar, falta-lhe tudo.
Nonsense.

A verdade é que tínhamos uma dinâmica comunicacional espectacular, e tu quiseste desperdiçar isso. Falávamos pelos cotovelos, com adjectivos e substantivos e neologismos em excesso. O nosso discurso era incoerente mas lindo; e dentro da nossa loucura encontrávamos maneira de nos encontrar a meio caminho daquilo que fazia sentido.

E a nossa dinâmica de encontros? A nossa inteligência e sinceridade que fazia pouco do ritual social... Nunca com nenhum outro homem decidi em unanimidade assumida que não iríamos fazer sexo antes de realmente o fazermos.

E os teus grunhidos, por exemplo, quase que me faziam esquecer o quão bárbaro és, porque imitavam um bárbaro de forma infiel. És péssimo a imitar bárbaros. Os teus grunhidos vinham sempre a meio de uma exposição argumentativa minha, ou porque eu não me calava para deixar-te retorquir, ou porque não tinhas muito mais que retorquir, ou ambos. O mais giro é que os grunhidos eram acompanhados por uma expressão facial sensual, mas que de sensual nada tinha. Eu é que me entusiasmava ao vê-la, porque tenho um desejo reprimido por bárbaros que só descobri contigo.

Vá lá, quero pedir-te desculpas por ter-te chamado criança. O que eu adorava em ti era isso. O que eu adorava no nós que nunca existiu era isso. Adorei a nossa dinâmica infantil, em que nos entregámos um ao outro a priori de nos conhecermos. Só com alguém tão desejoso como eu por se (re)tornar ingénuo isso seria possível. Uma dimensão à parte, em que conjecturámos e idealizámos com o pré aviso consentido de não idealizar para não nos desiludirmos, aquilo que só a ingenuidade de uma criança consegue fazer.

E a nossa espontaneidade...completava-se. Já imaginaste uma vida com uma dinâmica de espontaneidade assim? Seria exaustivo, mas memorável. Já o é. Por alguma razão o contaste a todos os teus amigos, porque é excepcional. O "agora" e o "já" e o "só" sempre fizeram parte dos nossos discursos, bem como da essência das nossas acções.
"Vem já ter comigo, não quero saber se são duas da manhã."
"Vem só ter comigo, não ligo nada a maquilhagem."
"Queres ir agora ver o concerto?"

Mas depois perdi rasto da nossa dinâmica. Não sei o que aconteceu. E não foi a minha espontaneidade, porque era isso que costumavas apreciar em mim.

Tenho mesmo de começar a crescer, não a nível intelectual mas a nível emocional, mal dei tempo ao meu coração para sarar.
Mas como será isso possível? Se eu não o quero. Se crescer é intelectual e emocial. Não quero camuflar emoções, elas são infantis só por si.
Já disse que não quero.
Discordo com uma dimensão emocional perfeitamente palpável e táctil, tímida em sua expressão emocional máxima, contraída no seu perfeito sentido de razão e equidade; deixo isso a cargo da democracia.
Existe uma inteligência emocional, e eu tenho um défice disso.
Não posso voltar a amar, ou a tentar amar enquanto não fizer as pazes comigo por te ter perdido.
Enquanto não fizer as pazes com o tempo.

E agora as pessoas não me deixam chorar por ti, dizem que não o mereces.
Elas não mentem, mas protegem-me com uma verdade irracional (nem perdem muito tempo a pensar nela, estou certa).
Elas obrigam-me a seguir em frente, o teu tema é tabu. Portanto não posso, de modo algum, sentir a tua falta publicamente.
Por isso é que me obrigo constantemente a odiar-te, mas isso não preenche as lacunas, parece acentuá-las.
Por isso é que me obrigo constantemente a seguir em frente, porque falar de ti é emotivo e, como tal, motivo de vergonha.
Mas há vergonhas que não deixam de fazer sentido lá por serem irracionais. A emoção contamina tudo, é sabido, mas neste caso a minha emoção contamina-se a si. Retrai-se e censura-se, perdendo a essência de emoção, numa tentativa incongruente de ser uma emoção racionalizada, que chora e ri por coisas inteligentes.

No comments: