26 April 2007

a night dancing with myself.

Imagino-me daqui a dez anos, aos trinta.



Estou sozinha, no meu apartamento algures na querida Lisboa. No meu lar. Sozinha. Um lar com recordações por todo o lado, álbuns de fotografias e molduras. Amigos de vez em quando, família ao fim-de-semana, cheiros e cores que me confortam sempre após um longo dia de trabalho. Tudo neste apartamento foi pensado meticulosamente, porque o meu cantinho tem de ser perfeito. Aqui sou rainha e ditadora. Este é o meu lar solitário.



Chego de um jantar com amigos, decidi não sair depois disso porque estou velha. Prefiro passar uma noite comigo mesma.



Descalço as botas pretas de cano alto, e calço os meus sapatos mais ousados. Dispo o longo sobretudo negro e ponho aquele vestido comprido de cetim cor de champanhe sem costas, que usei no casamento em que fui madrinha. Ainda me lembro do sucesso que fiz nele, e dos telefonemas que recebi no dia seguinte.

Sorrio. Olho-me ao espelho e solto o cabelo. Não há televisões, notícias, jornais, revistas, livros, telefones.

Ponho a tocar o intemporal Tony Bennett, que daqui a dez anos ainda será actual, e dou-me ao luxo de abrir o meu melhor vinho. Aquele que me foi oferecido por um bajulador rico qualquer, e que nunca abri para ninguém por ser caro de mais.
Não é caro demais para mim.

Sirvo-me num copo de pé alto, a três quartos como manda a etiqueta. E danço de copo na mão esvoaçando o meu melhor vestido, com aqueles saltos que me fazem sentir uma diva.



Olho-me ao espelho e sorrio uma vez mais, as rugas de expressão já se fazem mesmo notar, mas eu sou orgulhosa delas porque são elas que fazem de mim o que sou. São elas que contam todos os desgostos, todas as paixões, todas as loucuras, toda a minha vida. Todas as coisas que me fizeram rir e chorar, que me fizeram cair e levantar mais forte. Mais adulta. Mais mulher.



Divago no solo do piano, e por momentos sou a Marilyn Monroe. Aqui só me falta um Joe DiMaggio.

Sou glamour, sou uma diva do passado, algures da década de quarenta, porque o glamour mainstream pode ter passado de moda, mas para mim não passou. E deve ser por isso que não encontro o meu Joe DiMaggio, porque ele passou de moda.



Quero apaixonar-me por um gentleman culto, com classe e charme, e tão vivido quanto eu, ainda aos trinta preservo essa paixão. Quero jazz, quero romance. Quero rosas vermelhas, limusinas, saltos altos, jantares à luz das velas, quero tudo isso e muito mais, quero o meu Romeu, que seria capaz de dar a vida por mim.

Enquanto não o encontrar, vou continuar a ouvir o melhor jazz sozinha, e a beber o melhor vinho com egoísmo, sendo uma diva na privacidade do meu lar. Porque não me vou contentar com nada menos. Vou continuar com noites tão boas como esta, talvez as melhores de todas, porque comigo estou bem.









E vou continuar a usar roupa interior atrevida todos os dias, mesmo por baixo das enfadonhas trajes de trabalho, para nunca deixar de me sentir sensual, ou mesmo sexual. Para continuar a fantasiar com o vizinho da frente, que é casado mas continua um borracho. O mesmo vizinho que de vez em quando entra no elevador e se vira de costas para eu poder morder o lábio e de soslaio olhar-lhe para o rabo, invejando a galinha da vizinha, quase literalmente. Porque nunca se sabe o dia em que ele virá bater-me à porta pedir sal e apanhar-me numa dessas noites dançantes.

1 comment:

claudita said...

es extraño... visitando blogger te encontré... me imagino que te será un poco compliado leerme, pero sóo quería decirte qu la música es excelente y amo el jazz el vino tanto como tú.. soy de Chile, donde están los mejores vinos...

salud en la oscuridad