De todas as coisas (sobre ti) que são dolorosas, há uma particularmente irritante.
Percorrer Lisboa sem poder levantar o rosto, erguer o queixo e contemplá-la, com orgulho da sua importância cultural, da sua beleza em pequenos recantos, beleza que eu considero quase épica.
Porque em tudo consigo retirar lembranças.
Não posso ir aos Restauradores sem me lembrar do nosso almoço de 5 horas.
Não posso igualmente ir à Baixa, nem ao Chiado, porque são vizinhos dos Restauradores, e porque recordam-me daquele pequeno momento de comédia ao telefone antes de esperar por ti com ódio 15 longos minutos na Brasileira.
Não posso passar pelo Cais do Sodré (porque também é vizinho da Baixa) sem olhar para Santos (o destino do nosso primeiríssimo encontro) e para a estação dos comboios onde apanhei o comboio para Algés para ir ter contigo naquele ansioso segundo encontro.
É particularmente doloroso passar no Saldanha e olhar para a "montra" do café do Monumental e conseguir avistar a exacta mesa e as exactas cadeiras onde nos sentámos sozinhos pela primeira vez a falar. Lembro-me de como fui feliz e vejo outro casal na exacta mesma situação que nós naquela noite, sorridentes, ele um cavalheiro, ambos divertindo-se. É quase como olhar uma vitrina e ver o meu reflexo de felicidade pintado no rosto de outra mulher. Ela é simbólica, e a sua felicidade simboliza a minha euforia interior da descoberta naquela noite: finalmente um homem giro e interessante!
É muito, mas muito doloroso, olhar, a partir de qualquer ponto de Lisboa, para o rio e ver a oriente da ponte 25 de Abril o protuberante Cristo Rei, a atirar-me à cara que foi ali, aos pés dele, que me tentaste beijar.
É todos os dias doloroso atravessar a ponte, e ir para a Lisboa das recordações e, na própria escola que frequento, passar todos os santos minutinhos que lá estou com o pobre coração descontrolado da excitação, no medo/esperança de te ver virar a próxima esquina. (Estou a considerar licenciar-me por correspondência, por este andar vou morrer de problemas cardiovasculares aos 25 ou vou precisar de um transplante no prazo de um ano.)
É-me difícil receber sms que não são tuas, chamadas de homens desinteressantes, mails inúteis, percorrer a marginal até Belém, voltar ao Almada Fórum, ver autocarros que digam no topo em letras gigantes "Algés", bem como placares a indicar "Miraflores" com setas enormes. Custa-me ver os teus amigos na escola, comer gelados Hagen Dazs, ir à aula da professora que é o teu alter-ego, ver cães giros, deparar-me com qualquer tipo de manifestação da cultura indiana, ver colegiais, etc etc etc.
19 April 2007
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