20 April 2007

Homem, logo cobarde.

- Quero comer-te. Ver-te toda nua.

Ela finge não hesitar, e depressa responde. Erguendo o pescoço e de mãos nas ancas, solta um sorriso malicioso e coloca-se bem à sua frente, para que ele possa vê-la bastante bem.

-Despe-me.

Pareceu-lhe ouvir "despe-me", por isso pergunta:
- O quê?

-Ouviste bem homem, despe-me. Não é isso que queres?

Ela está calma, e quase que lhe adivinha as palavras seguintes. A expressão "jogos psicológicos" foi inventada por uma mulher.
Numa só frase que quase que é um grito esganiçado, ele diz tudo o que ela sabia que ia ouvir.

- Não te vou despir aqui assim mulher!

Ela sabia disso, e tem completa consciência de que neste momento está a intimidá-lo, e como os homens não gostam de mulheres que lhes façam frente, que os desafiem, ou que provem que afinal eles não passam de meros actores reprodutores dos seus heróis machões, sabe também que este fugirá.
O seu sorriso está agora mais malicioso que nunca.
Ele fugirá mas isso não a preocupa, porque ela não deseja homens do tipo que se assustam, do tipo que não sabem lidar com uma sociedade menos patriarcal, do tipo que não querem uma mulher que os estimule.
"E mesmo assim ainda se consideram o sexo forte?", pensa ela.

- Não devias ter hesitado.

E vira-lhe costas.

Parte com a certeza que foi imediatamente estereotipada, mas também com a certeza de que este homem tratará com mais respeito a mulher que se seguir.

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