26 April 2007

a night dancing with myself.

Imagino-me daqui a dez anos, aos trinta.



Estou sozinha, no meu apartamento algures na querida Lisboa. No meu lar. Sozinha. Um lar com recordações por todo o lado, álbuns de fotografias e molduras. Amigos de vez em quando, família ao fim-de-semana, cheiros e cores que me confortam sempre após um longo dia de trabalho. Tudo neste apartamento foi pensado meticulosamente, porque o meu cantinho tem de ser perfeito. Aqui sou rainha e ditadora. Este é o meu lar solitário.



Chego de um jantar com amigos, decidi não sair depois disso porque estou velha. Prefiro passar uma noite comigo mesma.



Descalço as botas pretas de cano alto, e calço os meus sapatos mais ousados. Dispo o longo sobretudo negro e ponho aquele vestido comprido de cetim cor de champanhe sem costas, que usei no casamento em que fui madrinha. Ainda me lembro do sucesso que fiz nele, e dos telefonemas que recebi no dia seguinte.

Sorrio. Olho-me ao espelho e solto o cabelo. Não há televisões, notícias, jornais, revistas, livros, telefones.

Ponho a tocar o intemporal Tony Bennett, que daqui a dez anos ainda será actual, e dou-me ao luxo de abrir o meu melhor vinho. Aquele que me foi oferecido por um bajulador rico qualquer, e que nunca abri para ninguém por ser caro de mais.
Não é caro demais para mim.

Sirvo-me num copo de pé alto, a três quartos como manda a etiqueta. E danço de copo na mão esvoaçando o meu melhor vestido, com aqueles saltos que me fazem sentir uma diva.



Olho-me ao espelho e sorrio uma vez mais, as rugas de expressão já se fazem mesmo notar, mas eu sou orgulhosa delas porque são elas que fazem de mim o que sou. São elas que contam todos os desgostos, todas as paixões, todas as loucuras, toda a minha vida. Todas as coisas que me fizeram rir e chorar, que me fizeram cair e levantar mais forte. Mais adulta. Mais mulher.



Divago no solo do piano, e por momentos sou a Marilyn Monroe. Aqui só me falta um Joe DiMaggio.

Sou glamour, sou uma diva do passado, algures da década de quarenta, porque o glamour mainstream pode ter passado de moda, mas para mim não passou. E deve ser por isso que não encontro o meu Joe DiMaggio, porque ele passou de moda.



Quero apaixonar-me por um gentleman culto, com classe e charme, e tão vivido quanto eu, ainda aos trinta preservo essa paixão. Quero jazz, quero romance. Quero rosas vermelhas, limusinas, saltos altos, jantares à luz das velas, quero tudo isso e muito mais, quero o meu Romeu, que seria capaz de dar a vida por mim.

Enquanto não o encontrar, vou continuar a ouvir o melhor jazz sozinha, e a beber o melhor vinho com egoísmo, sendo uma diva na privacidade do meu lar. Porque não me vou contentar com nada menos. Vou continuar com noites tão boas como esta, talvez as melhores de todas, porque comigo estou bem.









E vou continuar a usar roupa interior atrevida todos os dias, mesmo por baixo das enfadonhas trajes de trabalho, para nunca deixar de me sentir sensual, ou mesmo sexual. Para continuar a fantasiar com o vizinho da frente, que é casado mas continua um borracho. O mesmo vizinho que de vez em quando entra no elevador e se vira de costas para eu poder morder o lábio e de soslaio olhar-lhe para o rabo, invejando a galinha da vizinha, quase literalmente. Porque nunca se sabe o dia em que ele virá bater-me à porta pedir sal e apanhar-me numa dessas noites dançantes.

Com pressa de chegar a lado nenhum.

Viajar envolve sempre sentimentos à flor da pele. Bons ou maus. Saudades que em breve serão apaziguadas, descanso, excitação, medo de se partir ou a saudade que já sentimos da nossa quente almofada.





Envolve sempre abraços, sejam de despedida ou de chegada. Significa amigos, porque nos despedimos deles ou os reencontramos.








Esta viagem, para mim, envolve muita coisa. Envolve uma alegria enorme, e uma tristeza injustificável. Envolve fugir de alguém que está comigo onde eu estiver.





Vou tentar fugir dos meus problemas, mas não sei porquê, se eles não vão a lado nenhum. Quando voltar aqui estarão eles, a sorrirem-me pelo canto da boca "aguardamos por ti este tempo todo". Pois, eu sei.

"Sem medo, não há coragem", já dizia a sabedoria popular.

Qual é a coisa mais corajosa que se pode fazer? Qual é a atitude da pessoa mais forte do mundo?

É esta que de seguida vos descrevo.

Uma mulher, jovem, gira, a chorar no metro em hora de ponta. As lágrimas escorrem-lhe. As pessoas olham, aquela carruagem está cheia de desconhecidos que não a podem ajudar. Ela não quer ser ajudada, a sua postura não é a de uma pessoa que silenciosamente pede auxílio.
Ela não tem pena de si própria.
Apesar de chorar, a sua atitude diz o contrário. Ela não tenta esconder as suas lágrimas, toda a gente a olha mas a atenção não é algo que a intimide, habituou-se à atenção desde muito cedo, pela sua aparência, pela sua personalidade.
Ergue a cabeça, olha-se em torno com os olhos carregados de lágrimas . Tudo o que vê são desconhecidos enevoados a olharem-na de espanto.
Sozinha levanta-se, e abandona-os na sua estação.
Nem por um momento ela olhou para o chão ou para outra direcção que não fosse em frente. Sempre com o queixo erguido, ciente e quase orgulhosa dos seus sentimentos. Porque não tem medo de chorar, de se mostrar frágil, porque a coragem é isso mesmo. É não ter medo de cair para se poder erguer. É não esconder os seus sentimentos, a sua dor. Toda a gente sofre. E ela é, simultaneamente mais frágil que todos os que conseguem conter as suas lágrimas e mais forte do que todos os que as escondem.
Não pede ajuda. Ela ajudar-se-à a si própria. A cada lágrima que limpa sabe que é menos uma que tem de chorar.
Ela sim é uma mulher corajosa, que não se importa de limpar as lágrimas em hora de ponta.
Tem noção dos seus sentimentos, mas não tem pena de si.






Ninguém imagina, mas ela repete para si própria ininterruptamente durante toda a viagem "isto vai passar, isto vai passar..."











"- Posso saber porquê que passas por mim e não me cumprimentas?
- Não te vi."

Toda a gente a vê, menos ele.

Como?

A Sara diz-me que ele está a pôr-me na prateleira "gaja, ele pode não querer comer-te agora mas um dia pode querer, é isso que os homens fazem". A Mariana diz que ele é tímido e confuso, que eu tenho de esperar e ir com calma. A Inês diz que quer-me pelo sexo. Os homens todos que eu conheço e a quem contei a história dizem-me para o esquecer.
Eu digo que ele é um cobarde, que nem um "não" tem coragem de me dar. E concordo um bocadinho com toda a gente supracitada.
E tudo me remete para um dos meus primeiríssimos posts, "gostaria de saber, se eu deixasse, até que ponto me estupidificarias". Mas nem isso ele quer, nem usar-me ele quer, porque se ele fosse um bocadinho mais óbvio, eu era capaz de pôr o meu amor próprio de lado. Estou certa de que se ele soubesse ludibriar-me, eu deixa-lo-ia usar-me.


"Deixa-me. Não te quero, não me telefones mais, não gosto de ti.", se ao menos ele ligasse, esta sms teria feito muito mais sentido. Mesmo assim a enviei. Não tenho amor próprio algum a este ponto, mas ao menos preservo o meu sentido de humor em relação a mim própria. Ainda bem que ele não respondeu. Mensagem recebida e interiorizada.


"Ao menos fazias-me isto depois de termos feito sexo, era mais compreensível.", a esta respondeu, mas não foi com um "isto o quê?" porque sabe muito bem do que falo. Filho duma pega. Roubou-me o coração para o deitar fora.


"És um merdas. Tenho saudades do teu génio estranho.", ao que ele respondeu qualquer coisa irrelevante, onde punha palavras na minha boca, e onde se auto-intitulava o "sem sentimentos". Vá-se foder.


"Odeio-te. Espero que tenhas uma morte bastante desagradável. Afogado ou queimado.", esta nunca cheguei a enviar.

"Amo-te. E não há nada de racional que o explique, porque tecnicamente existem olhos mais lindos, homens mais inalcançáveis, mais inteligentes e com melhor sentido de humor. Se me perguntares porquê, a única e plausível resposta é "porque sim". Porque te amo.", esta também não.

25 April 2007

A ocasião faz a prostituta.

Sim, a ocasião faz de mim a prostituta. E não uma prostituta qualquer, uma prostituta que vende sonhos, não o corpo.

A ocasião faz o ladrão, e nesse aspecto também sou ladra, porque por instantes roubo-lhes a realidade e faço-lhes acreditar naquilo que querem acreditar. Mas serei o ladrão ou o benevolente? Eu arranco-lhes a realidade, mas em troca dou-lhes o sonho.

Em troca de bebidas e cigarros, de jantares e atenção, tudo o que eu lhes dou é uma fantasia. Os menos atraentes acreditam que poderiam alguma vez ter tido ou que podem vir a ter algo com uma mulher tão fora do alcance deles como eu, e essa fantasia ninguém lha podem tirar.

Na verdade eu não faço nada. Simplesmente não nego o que eles querem acreditar. Não o nego bruscamente, e se eles tiverem uma atitude muito evasiva eu contorno-lhes o jogo; basta-lhes um "mais tarde" ou "aqui não" para -los de novo no lugar onde devem estar: submissos. Com sorrisos e olhares faço-me de tímida e humilde, muitas vezes faço-me de despercebida, e qual Lolita finjo que não estou consciente da sexualidade que lhes transmito. É isso que eles mais gostam, uma mulher altamente sexual que seja inocente. Uma mulher que seja sexual por natureza. Todas o somos, mas eles pensam que eu sou daquelas que veste o decote sem qualquer malícia, ou que as calças são justas sem segundas intenções. Tolos.

Eu dou-lhe algo com que fantasiar quando estiverem com as suas namoradas feias, e eles dão-me momentos de diversão gratuita.

Tudo o que eu lhes dou é o sonho.

24 April 2007

Farta deste mais-do-mesmo.

Isto já é muito mais que amor. Ou simples obsessão.
Põe-se aqui uma questão ética.

Se tivesses um filho, seria teu direito saberes, certo?

Pois bem, aqui tens uma filha, uma criação tua.

Sou eu.

Abdico da minha personalidade assim como poucos Reis abdicaram do seu trono, para me tornar tua filha. Uma criação tua.

Sou simples porque gostas de mulheres simples, e tento parecer inteligente pelas mesmas razões. Se não sou construção tua, então diz-me o que sou, porque criação minha e de um amontoado de vivências pessoais é que já não sou.


Já não gosto de sair à noite. "Tenho um amigo de um amigo de um amigo...", prometem-me elas, as minhas amigas, tomando a liberdade de sentir pena de mim. Mas não é a pena delas que eu quero. Nem os seus amigos dos amigos. O que eu quero é a minha personalidade de volta e poder sentir-me bem na minha própria pele novamente.

E a vaidade que me caracterizava também se foi, porque esvaíste toda a energia em mim com a tua rejeição.

Na minha opinião tens o direito a saber, nem que seja simplesmente para enaltecer o teu já poderoso ego. Tens o direito de saber que consegues fazer alguém com dinheiro sentir-se miserável, alguém com amigos sentir-se só, alguém giro um monstro.

Tens o direito de poderes interiorizar o teu fascínio e graça. Tens o direito de saberes que és uma musa, uma fonte inesgotável de inspiração.

23 April 2007

Ele há coisas... Desígnios marados.

Como será amar ao ponto de abdicar dessa pessoa para a salvar?
Ser altruísta e egoísta simultaneamente, já que a felicidade dessa pessoa é a nossa própria felicidade?
Como será dizer-lhe "amo-te tanto que espero que sejas feliz ao lado da pessoa com quem amas", dizendo-o sinceramente, sem sentir o sabor amargo da derrota, porque esta não é uma competição. Dizê-lo do fundo do coração, e abrir mão dessa pessoa, só e porque a amamos.
Como será desistir de um amor que acreditamos ser o tal dito cujo amor, único e escasso?
Como será reconhecer o facto de que a pessoa que tão bem nos completa nós não a completamos de volta?

he's got me goin' outta my mind.

Sou conhecida por todos pelo meu grande ego. É o meu cartão de visita.
Ao crescer tive de aturar muitas merdas no secundário, tal como toda a gente, mas eu mais do que muitos, precisamente por nessa altura ser mais vulnerável. Cresci num ambiente hostil e pútrido e aprendi a gostar de mim como sou. Hoje em dia tenho muito orgulho naquilo que sou. E não é pelo físico, ou por me considerar mais esperta que alguém. Não me considero melhor que ninguém, simplesmente orgulho-me do que sou. Gosto de mim, e depois?

Sinto que vivi muito mais que muita gente de bem. Porque vim da merda e do fundo do poço só há um caminho; que é para cima.
Por ter crescido nesse ambiente hostil, aprendi a bloquear isso, tive de criar um mecanismo de auto-defesa. Se ninguém gostava de mim, eu ia ter orgulho em mim mais do que ninguém. Porque pessoas - especialmente mulheres - bem comportadas nunca, mas nunca fizeram história. E quando todos esperavam ou queriam que eu agisse de certa forma, eu agia de outra, acarretando todas as consequências, e não por ser rebelde, mas por ser fiel aos meus princípios e à minha personalidade. Ainda hoje gosto de ser assim, mas a idade torna-nos mais sensatos. Tenho orgulho nela, naquilo que eu própria fiz de mim, a maior parte das coisas foram auto-didactas porque a relação com os meus pais e irmãos não é necessariamente exemplar. Orgulho-me da minha personalidade porque ela é tudo aquilo que vivi. Ela conta uma história, a minha história.

Agradeço por ter sido assim, não mudaria nada, nem os momentos mais infelizes. Se pudesse, não me pouparia à dor porque se assim não fosse hoje não seria quem sou.
Sei que ainda tenho muito por viver, e muitas vezes ainda me engano. Mas não peço perdão pela arrogância quando digo que já vivi mais que muita gente da minha idade.


Mas ultimamente odeio-me. O meu cartão de visita foi-se. O meu ego definhou-se.
Tudo isto porque és um merdas que me faz sentir assim.
Não gostas de mim, logo não gosto de mim.

Que raio de lógica é esta?
Gostaria de ser quem tu desejas amar. E não só ser mais magra, gostaria de ser menos eu.
Menos quem eu gosto de ser.
Não é estranho, eu ter tanto orgulho em mim própria e querer ocultar esse orgulho perante ti? E mais ainda, ser pretenciosa... Meu Deus, como odeio essa palavra. Ouvi-la na mesma frase com a primeira pessoa dá-me arrepios...

Custa-me. É doloroso não poder ser quem sou porque te quero. Ter de atropelar os meus princípios (coisa que nunca fiz nem mesmo quando realmente devia porque as consequências já foram desastrosas) para te ludibriar a casares comigo. E tu nem repararas. Tu nem sabes. E muitas vezes dou por mim a odiar-me por fazê-lo inconscientemente ou porque as minhas amigas mo aconselham.

E odeio-me por isso, por tu não gostares do meu verdadeiro eu mas principalmente por eu conseguir deixar de gostar dele por tua influência. Deixar de gostar dele ao ponto de o negligenciar...

Lá está. Suscitas tudo de mau em mim, és tão perfeito (ou mostras-te tão pouco), a modos que eu sou tudo aquilo o que tu não queres ser e que sei que nunca serás.

22 April 2007

i want to vanish inside your kiss

Só é um grande amor porque ela morre no fim.

Love makes us act like we are fools.

Estes textos são tudo o que tenho.

O tempo e o espaço não importam. Principalmente o espaço.

Estou contigo, toca um soul sensual qualquer, acabámos de fazer amor. Eu estou na janela de cuecas, em pé, e tu ainda deitado em lençóis brancos, numa cama desarrumada. Fumo o meu habitual cigarro. Direi que é o último. Tu olhas-me ainda com desejo, leio nos teus olhos uma chama intensa de paixão. Mordo o lábio e retribuo a chama. Adoro-te. Adoro estar assim contigo, seja onde for.
Levantas-te e aproximas-te. Abraças-me por trás e pedes-me o cigarro. Respiramos fundo, contemplando a paisagem qualquer. O sol dela está mais brilhante e as nuvens mais brancas, o céu mais azul. Sorris porque também me adoras. Respiras para cima do meu pescoço, fazendo-me cócegas. Tudo o que sabemos fazer é sorrir.
Cantas-me um clássico qualquer baixinho. Sopras-me ao ouvido.
Pegas na máquina fotográfica e eu escondo-me.
- Não, estou horrível. Não tenho maquilhagem, estou despenteada.
- Estás linda.
Beijo-te, beijo-te muito, porque é tudo o que quero mais fazer neste momento, e na esperança que pouses a máquina; mas tu já me conheces tão bem...
Fotografas-me ali, despida. E dizes:
- A tese da minha licenciatura será sobre ti. Vou fazer um documentário sem diálogos, sem música, só tu. Vou perseguir-te, filmar-te a sorrir, filmar-te a dormir. E vou entregar ao professor sem edição.

21 April 2007

Eu tento.
Tento deixar de fumar.
Tento deixar de comer doces e outras porcarias que me dão tanto prazer exactamente por saber que não devia comê-las.


Tento não falar de ti às pessoas.


Tento não gostar de ti.


Mas sobretudo tento não olhar-te nos olhos para não intimidar-te. Para marcar pela diferença e não ser mais uma daquelas pessoas que fica fascinada por eles.


Tento baixar a cabeça e não os fixar porque é constrangedor, sei que é constrangedor.



Tento não gostar de ti.



Tento não ser mais uma das pessoas que os fixa para poderes lembrar-te de mim como a única pessoa que ignora os teus olhos.


Tento não me sentir atraída por eles, não recordar-me deles constantemente, tento não ficar embasbacada, hipnotizada, estúpida.


Tento não gostar de ti.


Tento.

20 April 2007

Homem, logo cobarde.

- Quero comer-te. Ver-te toda nua.

Ela finge não hesitar, e depressa responde. Erguendo o pescoço e de mãos nas ancas, solta um sorriso malicioso e coloca-se bem à sua frente, para que ele possa vê-la bastante bem.

-Despe-me.

Pareceu-lhe ouvir "despe-me", por isso pergunta:
- O quê?

-Ouviste bem homem, despe-me. Não é isso que queres?

Ela está calma, e quase que lhe adivinha as palavras seguintes. A expressão "jogos psicológicos" foi inventada por uma mulher.
Numa só frase que quase que é um grito esganiçado, ele diz tudo o que ela sabia que ia ouvir.

- Não te vou despir aqui assim mulher!

Ela sabia disso, e tem completa consciência de que neste momento está a intimidá-lo, e como os homens não gostam de mulheres que lhes façam frente, que os desafiem, ou que provem que afinal eles não passam de meros actores reprodutores dos seus heróis machões, sabe também que este fugirá.
O seu sorriso está agora mais malicioso que nunca.
Ele fugirá mas isso não a preocupa, porque ela não deseja homens do tipo que se assustam, do tipo que não sabem lidar com uma sociedade menos patriarcal, do tipo que não querem uma mulher que os estimule.
"E mesmo assim ainda se consideram o sexo forte?", pensa ela.

- Não devias ter hesitado.

E vira-lhe costas.

Parte com a certeza que foi imediatamente estereotipada, mas também com a certeza de que este homem tratará com mais respeito a mulher que se seguir.

Uma das questões que não quero responder é precisamente essa.

- Adoro-te miúda.

Contorno o olhar dele e olho para o chão, sussurro quase que para mim própria abanando a cabeça em negação:

- Não é a mim que adoras...

Ele levanta-me o queixo com o polegar e o indicador e olha-me nos olhos com uma expressão à espera de uma explicação. Porquê que eu fui falar de mais e quebrar aquele momento romântico sendo fundamentalista? Não podia entrar na fantasia e acreditar que ele me adora?

- Não, - continuo - não é a mim que adoras. O que tu estás a adorar é o momento, a fantasia, tudo isto.

E faço um pequeno gesto que me rodeia. Ele desvia agora o olhar, porque é perspicaz para entender facilmente do que falo. Ao menos fazia-se de parvo, assim construía mais uma fantasia.

- Se me adorasses não era assim, era avassalador, não tinhas demorado meses a decidir se me querias, eu não tinha insistido tanto, não havia necessidade de montarmos este circo, tinhas percebido logo que me adoravas, acordarias a meio da noite com ataques de ansiedade que só seriam minimizados se pegasses no telefone e ouvisses a minha voz, adorar não é isto, não é vires para um hotel comigo porque convidei e ofereci o fim-de-semana, não é dizeres que me adoras porque estamos enrolados numa banheira e porque o momento o pede, adorar não é coisa que se possa dizer pelo politicamente correcto, adorar é dizê-lo no parque de estacionamento sujo e feio de um supermercado por simplesmente te apetecer, adorar é saudade, adorar é não conseguires conter os beijos, os abraços, adorar é agir de impulso, adorar é estares constantemente a repetir o meu nome a outras pessoas simplesmente porque não o consegues evitar, adorar não é calcular palavras nem encontros, não é premeditar nada. Adorar é estar descontrolado, agir-se de acordo com um impulso qualquer que não obedece a nenhum ritual social. Adorar não é isto.

Fui-me arrependendo a cada palavra que proferia, e certamente ele também se arrependera de requisitar a explicação, porque não é que ele nunca tivesse realmente adorado para não perceber do que eu falava. Eu fui divagando na minha própria angústia, enquanto milhentas outras questões às quais eu preferia não responder me surgiam. E ele, em silêncio, humilhado pela mentira, não teve coragem de me desmentir ou sequer dirigir o olhar durante todo o tempo.

Um longo momento constrangedor, dum silêncio doloroso, que eu não quis interromper por pretender alongar a sua humilhação o mais possível.

- Então responde-me, se sabes que não te adoro e se demonstras tanto amor próprio ao ponto de exigires tudo isso de duas meras palavras despropositadas separadas por um hífen, porquê que montaste este circo todo?

Como te atreves a humilhar-me com uma mentira tua?! Como é que ainda tens coragem, não achas dor suficiente eu reconhecer o facto de tu não me adorares como eu te adoro? És duma frieza incalculável, e se to dissesse provavelmente responderias com uma outra pergunta, como já é hábito: "tens a certeza que esta é só a minha mentira?".

Sim, finalmente já não me custa chorar. Sozinha.

Mãezinha, emprestas-me o teu regaço como o fazias quando eu era pequenina? Dás-me colinho? Posso por-me na posição fetal no teu ventre quente e seguro? Apaziguas-me o choro e afagas-me calmamente a cabeça amando-me incondicionalmente?

É que estou mesmo a precisar.


Como e quando é que aprendi a confortar-me na música rebelde de uns quaisquer adolescentes revoltados em vez de ser no ombro do meu mais directo sangue?


"Este homem está a por-me louca mãe. Ele foge de mim."
E tu dar-me-ias um conselho sábio qualquer.

A certo ponto não devia deixar de ter piada?

É horror. Terror que sinto.

Mas terror de quê, se de cada vez que me lembro de ti, que visualizo a tua cara na dimensão do meu imaginário, dá-me vontade de rir?
E rio.
Rio sem preconceito.
Solto gargalhadas ridículas na solidão desses momentos.
E tudo é comédia.

Mas atenção, não é positivo.
Quer dizer, lá está, é agridoce.

Assim como se pode chorar de alegria, de emoção por uma situação sã, também se pode rir de merda. Sim, é verdade, descobri-o apenas esta noite. Porque pensei que isto fosse algo que me fizesse mais ou menos feliz, mas não, é uma paleta de sentimentos. Não é branco nem é preto, é cinzento mesclado.

E como não tenho razões palpáveis para chorar, como seria ridículo chorar de nervosismo, como fica o sentimento por identificar, rio. Não faria sentido de outra forma. Mas rio às gargalhadas. Sozinha. Perco horas de sono com recordações hilariantes.

19 April 2007

Atribuir-lhe um título seria igualmente óbvio.

De todas as coisas (sobre ti) que são dolorosas, há uma particularmente irritante.
Percorrer Lisboa sem poder levantar o rosto, erguer o queixo e contemplá-la, com orgulho da sua importância cultural, da sua beleza em pequenos recantos, beleza que eu considero quase épica.
Porque em tudo consigo retirar lembranças.
Não posso ir aos Restauradores sem me lembrar do nosso almoço de 5 horas.
Não posso igualmente ir à Baixa, nem ao Chiado, porque são vizinhos dos Restauradores, e porque recordam-me daquele pequeno momento de comédia ao telefone antes de esperar por ti com ódio 15 longos minutos na Brasileira.
Não posso passar pelo Cais do Sodré (porque também é vizinho da Baixa) sem olhar para Santos (o destino do nosso primeiríssimo encontro) e para a estação dos comboios onde apanhei o comboio para Algés para ir ter contigo naquele ansioso segundo encontro.
É particularmente doloroso passar no Saldanha e olhar para a "montra" do café do Monumental e conseguir avistar a exacta mesa e as exactas cadeiras onde nos sentámos sozinhos pela primeira vez a falar. Lembro-me de como fui feliz e vejo outro casal na exacta mesma situação que nós naquela noite, sorridentes, ele um cavalheiro, ambos divertindo-se. É quase como olhar uma vitrina e ver o meu reflexo de felicidade pintado no rosto de outra mulher. Ela é simbólica, e a sua felicidade simboliza a minha euforia interior da descoberta naquela noite: finalmente um homem giro e interessante!
É muito, mas muito doloroso, olhar, a partir de qualquer ponto de Lisboa, para o rio e ver a oriente da ponte 25 de Abril o protuberante Cristo Rei, a atirar-me à cara que foi ali, aos pés dele, que me tentaste beijar.
É todos os dias doloroso atravessar a ponte, e ir para a Lisboa das recordações e, na própria escola que frequento, passar todos os santos minutinhos que lá estou com o pobre coração descontrolado da excitação, no medo/esperança de te ver virar a próxima esquina. (Estou a considerar licenciar-me por correspondência, por este andar vou morrer de problemas cardiovasculares aos 25 ou vou precisar de um transplante no prazo de um ano.)
É-me difícil receber sms que não são tuas, chamadas de homens desinteressantes, mails inúteis, percorrer a marginal até Belém, voltar ao Almada Fórum, ver autocarros que digam no topo em letras gigantes "Algés", bem como placares a indicar "Miraflores" com setas enormes. Custa-me ver os teus amigos na escola, comer gelados Hagen Dazs, ir à aula da professora que é o teu alter-ego, ver cães giros, deparar-me com qualquer tipo de manifestação da cultura indiana, ver colegiais, etc etc etc.

16 April 2007

Essa sou eu?

"Gosto do teu olhar, é profundo."
Muito obrigada: rímel efeito pestanas postiças + lápis castanho.

"Adoro a tua pele"
Muito obrigada: hidratada 3 vezes por dia.

"O teu cabelo é lindo"
Muito obrigada: desde os 13 que o alimento com produtos químicos e desde os 15 e meio que ele não conhece a sua cor natural. Ah! E sou completamente viciada em máscaras, óleos e cremes capilares. Basicamente gasto balúrdios no cabeleireiro e de cada vez que vou ao supermercado.

"Que lábios!"
Muito obrigada (espera, esses realmente são meus, se não contar com o gloss hidratante duzentas vezes ao dia, no mínimo.)




*algo positivo tenho de retirar desta "relação" doentia.



P.s. Não acredito que estou completamente viciada numa canção que odiava até ao dia em que ela passou a recordar-me aquela tarde na esplanada contigo.

15 April 2007

as sms que nunca mandei

"Oi, sou uma daquelas pitas que se vai colar a ti que nem uma lapa. Não, nada disso. És amargo :p queria ouvir o teu ladrar porque concluí que fosses demasiado forreta para me ligares. Mas não te preocupes, ainda tenho algum amor próprio (ou não). beijinhos (a nossa história foi linda, durou 3 segundos mais foi gira)"

"A sério, vamos fazer sexo e acabar com isto?"

"A sério, vamos casar e acabar com isto?"

14 April 2007

Tanta redundância, meu Deus.

Vamos reinventar a paixão?



Com a alma cheia de lágrimas, pesada com barragens de ternura despropositada, ternura que é lixo, vamos amar quem podemos?

Vamos!


Vamos desperdiçar amor?
Vamos caminhar sob águas já conhecidas, e torná-las tsunamis, maremotos e tornados?

Vamos!



Sim, vamos contentar-nos com quem podemos ter, dando o nosso melhor para retribuir o amor que não merecemos.

Vamos.



Vamos amar o que é seguro, seguros de que receberemos amor e nada mais do que amor de volta.

Vamos amar aquilo que podemos, repito, mesmo cientes de que um amor avassalador pode esperar por nós num futuro, mas que nos limitamos da forma que pretendemos, porque somos demasiado cobardes para enfrentar a solidão sozinhos.

Vamos contentar-nos.
Vamos dar o nosso melhor, arriscar tudo numa só pessoa. Sim, porque é disso que se trata a monogamia, é apostar tudo o que temos, pôr a nossa íntegra em jogo, e fazer figas pelo jackpot máximo.

Vamos esforçar-nos por ser felizes.
Vamos batalhar, trabalhar a felicidade, porque ela não vem num frasquinho e não é como a conhecemos dos filmes, que nos chega de mão beijada em limusina branca, e certamente não é descoberta em cerca de 45 minutos.

Vamos esperar uma vida inteira para saber se valeu a pena.






Vamos pôr à prova o nome da dita paixão. Do dito amor.






(Nota: a expressão "somos demasiado cobardes para enfrentar a solidão sozinhos" não é calinada. Mesmo segundo o contexto. Porque quem enfrenta a solidão dessa forma enfrenta-a sozinho, sob a ilusão de que está acompanhado. É o ser altruísta (ou egoísta, dependendo da perspectiva) que não ama, só e aterrorizado da solidão, desejoso por amar o outro ainda mais altruísta, e ainda mais só, que tenta não perceber que não é amado.)

Hope

Tantas e tantas vezes deixamos de lado o melhor que a vida tem para dar... Nem sequer reparamos, estamos demasiado envolvidos nos nossos pensamentos e introespecções. E uma coisa é certa, só damos valor ao que um dia tivemos quando isso já não está ao nosso alcance..
Por isso, toca a estar atento aos sinais e a todo o mundo que está à nossa volta, carregado de gente que nos quer bem ...

13 April 2007

Sonhei com este post.

Mero acaso, entro no elevador sem as amigas que me costumam acompanhar e lá estás tu, sem os amigos que te costumam acompanhar. De costas para ti, e sozinhos no elevador, tento ignorar o destino que me pregou esta surpresa. Mas tu pregas-me uma ainda maior. Nas minhas costas, oiço um latido de cão. Aquele latido que eu tanto amo, que me derrete...

Viro-me num gesto brusco, não tenho sangue de barata como diria a minha mãe, não consigo esperar até ao meu piso e sair sem to dizer:

-Ouve-me bem, que lata que tu tens hã? Como é que ainda tens coragem de me ladrares, hã? Ouve bem, tu vais mandar-me sms e não vais limitar-te a responder às minhas, ok? Vais mandar-me mails sem esperares receber uma resposta, vais obrigar-me a gostar de ti, a amar-te, vais rastejar, vais adorar-me, bajular-me como se eu fosse da realeza. Não me venhas com coisas, nem com jogos só porque parece teres descoberto que afinal é dos jogos que eu gosto, está bem? Não és nenhum ser superior, põe-te no leu lugar, agora vai para casa bater muitas a pensar em mim, sim?



O elevador dá o seu sinal sonoro, abrem-se as portas. Saio calmamente, recuperando o fôlego, retornando ao meu ar sereno. Saio sem receber uma resposta, e nem por um segundo passa-me pela cabeça olhar para trás.

sentimentos que esticam, mirram, retorcem-se.

Eu que sei o que é amar e não ser amada de volta, deveria dar valor a quem me ama, não?


Tive o desplante de pedir-lhe beijos iguais aos teus, consegues imaginar? Fechei os olhos como já não costumo fazer com ele e relaxei deixando a minha mente divagar. E foi um sexo ternurento, como eu costumo odiar, mas desta vez foi suportável, porque podia ouvir-se a Radar, a rádio que temos ouvido juntos desde que te conheci. Ou que tu ouves mas que eu tento impor-lhe uma conotação qualquer conjunta. Sou ridícula!






"(...)Your presence dominates the judgements made on you

But as the scenery grows, I see in different lights
The shades and shadows undulate in my perception
My feelings swell and stretch
I see from greater heights
I understand what I am still too proud to mention, to you
You'll say you understand, but you don't understand
You'll say you'd never give up seeing eye to eye
But never is a promise, and you can't afford to lie

You'll never touch these things that I hold
The skin of my emotions lies beneath my own
You'll never feel the heat of this soul
My fever burns me deeper than I've ever shown, to you
You'll say "don't fear your dreams, it's easier than it seems"
You'll say you'd never let me fall from hopes so high
But never is a promise and you can't afford to lie
You'll never live the life that I live
I'll never live the life that wakes me in the night
You'll never hear the message I give
You'll say it looks as though I might give up this fight
(...)I realize what I am now too smart to mention, to you
You'll say you understand, you'll never understand
I'll say I'll never wake up knowing how or why
I don't know what to believe in, you dont know who I am
You'll say I need appeasing when I start to cry
But never is a promise and I'll never need a lie"

12 April 2007

Tretas! Deus não nos deu nada a dádiva da escolha.



Posso desejar quem quero? Posso? É-me permitido? Deixas-me? Posso desejar quem merece ser desejado por mim? Podes deixar de ser perfeito e intrigante e deixar-me sempre à nora com o teu silêncio?




Perfeito. Não és nada perfeito! És perfeito neste momento porque ainda não te deste a conhecer o suficiente. Claro, sou tão típica, tão básica, não é? Eu a pensar que tinha sido sensual, misteriosa, intrigante, e que não me tinha oferecido a ti numa bandeja mas afinal engano-me. Pois, tudo contigo é uma ilusão. Sempre! Afinal sabes mais de mim do que eu de ti. Mas desta vez mentiste. Porque poderia ter sido o teu olhar a denunciar-te, ou aquelas duas erecções, mas não, desta vez as tuas palavras traíram-te, porque para mim passaste a ser um mentiroso.






Fiz um sexo incrível com o Primeiro, foi incrível quando analisado numa escala de prazer físico, mas o meu desejo por ti continua latente, e cada vez menos consigo reprimi-lo. Pensei que podia vingar-me de ti dando-me a ele, mas mais uma vez, como sempre e em tudo o que é relativo a ti, engano-me.




Quero guardá-las, aprisioná-las dentro de mim, aquelas poucas palavras que me deste. E apetece-me dizer-to na cara, que se não as sentias não precisavas de as proferir. Tu não sabes jogar o meu jogo, simplesmente acidentalmente deixas-me fragilizada.








Afinal o que eu quero de ti és tu ou é essa imagem de ser inacessível que eu dou-me ao trabalho de construir por ti? Aquela terça-feira encheu-me o coração, mas certamente não foi intrigante como eu creio tu seres. Que se passa? Só te desejo realmente quando tu não me queres? Ah pois, já me tinha esquecido, a resposta é sim (já estou a tornar-me redundante, chega).

11 April 2007

Cão que ladra não morde!

Estou farta de confundir o meu egocentrismo com amor. Será que ele, juntamente com o meu péssimo sexo, destruirão todas as minhas relações futuras? Ou concomitantemente impedi-me-ão de permitir-me sentir? Merda. Afinal talvez ele seja mais um daqueles homens que só servem para aumentar o meu ego. Agora o sentimento, a euforia desvanecem-se e eu consigo ver objectivamente.

Será?


Se calhar é cedo de mais para fazer este post, não?


Sinto que posso perdê-lo, mas reconforta-me pensar que não o perdi antes de o excitar, de ouvi-lo dizer que a minha pele é linda, os meus lábios perfeitos (ou vice versa), blá blá blá. Eu que sou uma pessoa anti clichés por excelência, será que nunca me vou fartar deste tipo de clichés? Afinal o que eu procuro não é amar, nem sequer sentir, ou lá o que isso seja, a minha demanda é uma busca incessável pelo enaltecimento da minha pessoa. Estou certa que isto tem uma explicação psicológica lógica qualquer, mas eu não quero ouvi-la. Porque deve basear-se na minha insegurança, daí a minha procura incansável de demonstrações de superioridade, e disso eu não quero saber.

Afinal posso perdê-lo, e admitir isso pode custar-me, mas não é tão desolador como nunca tê-lo tido. Aliás, como nunca ele nunca ter-me venerado.


Porque isto é muito mais do que um mero "quanto mais me bates mais gosto de ti" (odeio a sabedoria popular), e porque isto tem-me acontecido desde sempre, com todos os homens, e quanto menos eles me ignoram mais são ignorados (ou vice versa).


Não me interpretem mal, eu ainda sou fascinada por ele. E nada disto anula a sua sabedoria, beleza ou excelência. Simplesmente já não me tira o sono. E ele só merece o fascínio que lhe atribuo porque durante dois meses foi objecto do meu empenho sexual. Porque fez-me duvidar do meu sex-appeal e da minha capacidade de fazer os homens arrastarem-se a meus pés.
Que estranha sociedade é esta que construo sobre as pessoas que conheço, que honra os homens que me rejeitam?

Se calhar é cedo demais para fazer este post, não?


Vejam lá, não me quero enganar a mim própria.

10 April 2007

Dia 10 de Abril

Por ti abriria uma excepção ao meu útero e teria filhos teus, com a certeza de carregar comigo os mais nobres genes, orgulhosa da missão de perpetuar a tua beleza por mais uma geração.



"Estás a falar com o meu herpe labial?"

"Ladra-me, por favor"

E mais não digo, já chega. (Só não me partas o coração, por favor. Sim, vamos casar amanhã, pela igreja e pelo civil, e vamos viver nessa terra com um nome curioso.)

09 April 2007

Já estava a precisar de um post assim


Sabem o que é o bliss? É uma forma qualquer de felicidade descabida, quase inexplicável, um brilho. Uma forma de felicidade um bocado reprimida e linda.


Graças ao bliss



  • não preciso de comer.

  • não preciso de fumar.

  • as canções deprimentes já não me parecem deprimentes.

  • estou constantemente a rir, sem razão.

  • tenho um bichinho intrigante no estômago.

  • consigo amar sem perceber porquê.

  • consigo amar sem distinção.

  • amo o próximo, amo todos, e amo ainda mais os que já amava.

  • a minha pele reluz.

  • os meus olhos brilham.

  • consigo passar horas a divagar na minha mente, sem me aborrecer.

  • não preciso de fazer nada para me divertir.

  • estou sempre a rir.

  • não me sinto tão gorda.

  • gosto do que vejo quando olho o espelho.

  • adoro o que vejo quando sorrio para o espelho.

  • as minhas faces estão mais rosadas, não preciso de base.

  • as canções deprimentes fazem-me sorrir.

  • já estou a planear o meu casamento.

  • não necessito de comprar roupa.

  • não preciso de dormir, não consigo dormir.

  • os meus lábios estão mais vermelhos, de tanto os morder.

  • nada me importa neste momento, todas as minhas questões mal resolvidas, de repente, resolveram-se.

04 April 2007

O amor não deveria ser assim, nenhum tipo de amor, nem o doentio. A única base onde assenta o meu amor são as tuas palavras, nada mais tenho teu.

Porquê que parece que estás a fazer-me um favor de cada vez que falas comigo? E agora? Ofereces-me mais duas ou três frases sem qualquer conotação mas que eu, apaixonada como estou, tento à força arrancar-lhes significados implícitos? É assim que vai ser? E quanto menos meço as palavras contigo mais me arrependo de não tê-lo feito?


Agora ofereces-me mais duas ou três frases nas quais meditar, com as quais remoer, as quais analisar. Amo-te, e tudo o que queria neste momento era saber se estás simplesmente a ser simpático quando dizes que gostas de mim. E que significado terão aqueles beijos fora de contexto? Não me pareces ser o tipo que é simpático só por ser, mas lá está, a minha visão não pode ser parcial porque está corrompida pelos sentimentos que tenho por ti, e para além disso, em que bases assenta a minha teoria sobre a tua personalidade? É certo que não te conheço, senão não teria tantas dúvidas ao tentar desmistificar-te.


Então é assim que vai ser, se calhar nem te amo porque neste momento só posso amar o que conheço. Então é assim que vai ser, vais torturar-me com essas frases semi-simpáticas, desprovidas de um verdadeiro significado semântico relevante para mim. Não me dizes o que quero ouvir, mas também não me dizes o que não quero ouvir. Seja como for, gostava de ouvir-te, fosse aquilo que desejo ou o que mais temo, para retirar o sofrimento da dúvida de mim.

E é assim que vai ser, espero pelas próximas pobres frases que serão vítimas da e culpadas pela minha tortura.

03 April 2007

Entorpia emocional, constante

Como seria para ti se te visses a braços com uma entorpia profunda de sentimentos. Ou será que na realidade falo de uma ausência de sentimentos? Esta minha busca incessante não é mais que uma forma de camuflar a dor que sinto pela solidão que me assola... Não amo ninguem, apesar de procurar a paixão em tudo o que me rodeia.
Dei por mim a trocar mensagens com dois tabus que vivem juntos, culminando com um quarto tabu que dormiu entre mim e o plano A...

02 April 2007

Vou esquecer-te. Mas não vai ser tão fácil como pensei.

A dor do coito era suportável, em relação à dor do segredo de te amar. Foi isso que despoletou o meu chorar. Já não aguentava mais. Enquanto que a minha boca não consegue falar, e eu não tenho a coragem de agir, já os meus sentimentos não são assim tão fortes. Eles cedem, e as lágrimas escorrem-me compulsivamente.
O coito doía-me, o meu pensamento estava contigo num sítio onde não me era permitido relaxar, doía-me porque me sentia violada, por não ser aquele homem que eu queria ter entre as pernas. Violada por mim própria, o meu desejo a trair-me.
Imaginas como será para o homem que está a foder-me, eu começar a chorar em pleno acto? E o que será pior, levá-lo a crer com o meu silêncio que ele é mesmo muito mau no sexo, que está a magoar-me fisicamente, ou dizer-lhe que és tu quem eu amo mas, por alguma razão, me obrigo a fazer sexo com ele?