11 March 2007

Poder-se-à apaixonar-se por associação?

Esta aula deveria ser a mais formativa a nível do meu futuro. É aqui a redacção escrita e é aqui onde eu deveria despir-me do meu dia-a-dia para apenas aspirar a ser uma grande jornalista.
Mas não.
Na verdade estou-me nas tintas. Nem é prepositadamente. Cheguei atrasada à aula não por uma greve de transportes, ou por ter acordado mais tarde, se bem que ambas realmente aconteceram. Cheguei atrasada meia hora porque antes de vir para a aula fui cuidadosamente procurar-te em todos os recantos da escola. Todos. E tu não estavas lá. Em nenhum. Em nenhum dos mesmos recantos onde te encontro precisamente quando o meu cabelo está a ter um dia péssimo e eu rezo para não te encontrar.
Mas tinha de vir a esta aula. A frieza com que a professora me trata e os vocábulos que ela utiliza prepositadamente carregados de uma impessoalidade mesmo mesmo muito crua quando se dirige a mim, fazem de mim mais ou menos feliz. Enfim o meu lado masoquista sai do armário. Ela simplesmente tem a alma carregada de antipatia da mesma maneira que tu. Apetece-me perguntar-lhe se ela também é alemã. Ou britânica. Também porquê? Eu simplesmente desconfio que tu sejas alemão! Sou mesmo tola, acredito nas próprias mentiras que crio. Na verdade eu gostava que fosses alemão, pelo ar exótico que isso te conferiria caso fosse verdade.
Mas vou deixar-me de divagar, porque escrever sobre ti é uma espiral sem fundo. Porque as palavras que digo ou escrevo ou penso sobre ti são tudo o que tenho teu. Isso e os dois isqueiros e o maço de tabaco que com desprezo me deste.
Na verdade venho pelos olhos.
Aqueles olhos gélidos, que me congelam (ai, que figura de estilo horrível...!). Olhos críticos, impiedosos, sinceros, inteligentes. Que intimidam. Quase que magoam. Uma pessoa tem de ser de uma coragem impressionamente para se dirigir a eles directamente. Intimidam porque és lindo, mas principalmente porque são dessa cor fria, quase neutra. Não têm o mesmo aconchego que olhos castanhos, que apaziguam qualquer alma insegura. Não têm a mesma temperatura que olhos cor de amêndoa, que consolam e protegem. Mas ela tem precisamente o mesmo tom que tu tens, ou que pelo menos eu recordo-me (ou imagino, ou fantasio) teres. É uma soberba maldição. O tom de olhos mais lindo que se possa imaginar, carrega consigo indissociavelmente uma conotação de indiferença e superioridade igualmente protuberante. E vocês, os abençoados de olhos cruéis, usam-no a vosso favor. Sabem que esses olhos intimidam e não fazem nada para atenuar o vosso julgar. Será que a vossa personalidade advém de terem nascido e crescido com esses olhos que perpetuam a vossa imagem de superioridade a cada vez que se olha directamente para eles, ou será que os vossos olhos tornaram-se assim frios, com essa expressão anestesiante por causa da vossa personalidade? Um complementa o outro, ou são ambos causa-efeito? Qual é a causa e qual é o efeito? Neste caso, qual é o factor predominante na definição da vossa intrigante personalidade? São os olhos intimidantes que tornam a personalidade fria, ou a intimidante personalidade que dá um ar frio aos olhos?

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