14 March 2007

kinda runnin' out of titles.

Depois de dois telefonemas falhados, escrevo uma sms e guardo-a sem enviar. Escrevê-la acalmou-me. Na minha imaginação, as palavras estão a percorrer o espaço, vão até ao satélite nos confins da nossa galáxia, e finalmente chegam ao telemóvel dele num toque qualquer estridente: “Tentei ligar-te para saber se queres ir ver Justice esta quinta no Lux. Pensei que poderias gostar, mas caso não gostes sempre podemos ir beber um café. Gostas de café não gostas?”, sem beijos. Perdi imenso tempo a conjugar estas simples e poucas palavras. É que com ele as palavras tomam uma dimensão completamente diferente, quero deixar bem claro o significado subliminar sem dar muito nas vistas. Sou louca não? Um significado subliminar é precisamente isso, é implícito. E eu quero que um significado implícito seja explícito mas não demasiado explítico? Normalmente, os significados subliminares até são inconscientes, e com a mesma facilidade que ele leu a sms provavelmente a irá apagar, e porquê que me preocupo tanto se a minha intenção nem era enviar a sms? Lunática. E qual será a mensagem subliminar que quero dar a entender? “Quero estar contigo mas não muito”, “estou a procurar-te depois de tanto tempo, por isso não esperes que me humilhe mais e tem a compaixão de vir sair comigo, eu até sou gira e simpática”, “não deixei de pensar em ti este tempo todo e Justice é um triste motivo, porque por mim ia beber café contigo à lixeira municipal”? Louca.
Volto a ligar e finalmente ele atende com um (que não podia deixar de ser seco) “já te ligo, ok? Agora não posso falar”. Deixou-me na merda outra vez, este ser omniocupado incontactável. Agora fico impotente. Demora a ligar-me, mas já é óptimo para quem estava à espera que ele não ligasse de todo. Esqueci-me completamente de deixar o telefone tocar como se não estivesse ansiosa por atender. Ele explica-se mas sem grandes desculpas.
- Estava a conduzir. Diz. – já estou habituada ao tom mordaz, por isso já não me desencoraja.
- Então, tudo bem? – começo eu.
- Sim, e contigo, também?
- Também! – ups, quem me dera retirar a exclamação. Merda!
Silêncio constrangedor
- Nunca mais te vi lá na escola...
- Sim.
Sim?? Mas que raio de resposta é essa? Merda, com isto digo o quê, como é que dou continuidade a esta conversa?? Idiota. “Sim.”??? “Sim.” sem nenhuma entoação exclamativa, interrogativa, reticente, nada???!! To lixada. Já me estou a humilhar.
- Mas tens ido à escola? – Merda, não sabia o que dizer, não tive tempo para pensar. Merda. Merda. Merda.
- Não te estou a ouvir.
E a chamada cai. Ai, que merda! Parece que os astros conspiram para eu não falar com este homem. Ligo passados dois minutos, nada de demonstrar ansiedade. Depois disso já não me lembro da conversa precisamente, estava demasiado nervosa e concentrada a ouvi-lo às fracções. (Merda de novas tecnologias que nem sequer nos garantem um bom serviço quando mais precisamos!) Sei que no meio de uns quantos “o quê?”, “hum?”, “não ouvi” e “desculpa, podes repetir?”, eu convidei-o descaradamente para um café sob o pretexto de nunca mais o ter visto. Sim, eu. Ele não me deu alternativa, depois de ter dito mil vezes que nunca mais o tinha visto, ele não se dignou a dizer “ah podemos ir beber um café um dia destes” ou assim. Nada. Palerma. Será que ele precisa da minha humilhação para reclamar a sua superioridade?

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