Os doentes que padecem de qualquer coisa crónica e que, por conseguinte, experienciam também uma dor qualquer crónica, adaptam-se.
Os analgésicos a certo ponto deixam de fazer efeito, e alguns viciam-se neles, outros habituam-se à dor.
Eu só espero habituar-me. Sinto que ela já faz parte de mim e sei, sinto que nunca me deixará. Se me deixasse, deixaria também um vazio dentro de mim, estou certa. Porque esta dor representa algo muito mais nobre, muito mais digno de ser sentido, seja bom ou mau. Esta dor representa-te, e estou certa que não quero que me abandones mais. Ela lateja em mim nas minhas dores de cabeça, é parte do meu conhecimento, vejo e sinto e sou através dela. Se calhar não é ela parte de mim mas eu parte dela.
Espero habituar-me. E espero conseguir viver com ela, em empatia ou não. Simplesmente estar ciente dela, reconhecer o facto de ela existir e de se extinguir somente comigo, mas é principalmente por isso, por me ser um dado adquirido, que espero conseguir lidar com ela, controlá-la, contorná-la, adaptar-me. Espero conseguir torná-la parte do quotidiano, e fazer de si parte integrante de mim; de tal forma, que não terei de desabafar, reprimir-me, recalcar. Esta dor não só será minha e eu não só serei ela. Será eu.
Eu, logo dor.
E vou fazê-la parte de mim como um vulgar e reflexivo respirar.
Será simplesmente o anestesiar de um músculo, o medicar de um corpo, o adormecer de uma dor.
1 comment:
Adoro te!
sao estas paixoes, mesmo que completamente avassaladoras, que nos fazem acordar todos os dias de manha, passar horas em frente ao espelho, viver...
Post a Comment