23 May 2007

'knowledge is pain, i'm used to know that'

Os doentes que padecem de qualquer coisa crónica e que, por conseguinte, experienciam também uma dor qualquer crónica, adaptam-se.

Os analgésicos a certo ponto deixam de fazer efeito, e alguns viciam-se neles, outros habituam-se à dor.


Eu só espero habituar-me. Sinto que ela já faz parte de mim e sei, sinto que nunca me deixará. Se me deixasse, deixaria também um vazio dentro de mim, estou certa. Porque esta dor representa algo muito mais nobre, muito mais digno de ser sentido, seja bom ou mau. Esta dor representa-te, e estou certa que não quero que me abandones mais. Ela lateja em mim nas minhas dores de cabeça, é parte do meu conhecimento, vejo e sinto e sou através dela. Se calhar não é ela parte de mim mas eu parte dela.



Espero habituar-me. E espero conseguir viver com ela, em empatia ou não. Simplesmente estar ciente dela, reconhecer o facto de ela existir e de se extinguir somente comigo, mas é principalmente por isso, por me ser um dado adquirido, que espero conseguir lidar com ela, controlá-la, contorná-la, adaptar-me. Espero conseguir torná-la parte do quotidiano, e fazer de si parte integrante de mim; de tal forma, que não terei de desabafar, reprimir-me, recalcar. Esta dor não só será minha e eu não só serei ela. Será eu.

Dor, logo eu.

Eu, logo dor.

E vou fazê-la parte de mim como um vulgar e reflexivo respirar.

Será simplesmente o anestesiar de um músculo, o medicar de um corpo, o adormecer de uma dor.

Apeteceu-me ser fácil.


Recriei tudo para poder estar contigo estando com ele. Nem o deixei falar muito, para poder ser mais fácil recorrer à minha fantasia. E fui mais longe com ele (mas não longe demais) como eu gostaria de ter ido contigo.

Fomos (não eu e ele, mas eu e tu) para o tal miradouro. Eu recriei a atitude, as frases, os temas, muitas das palavras daquele dia. Por coincidência tinha o mesmo casaco vestido, e cheguei mesmo a recriar a mesmo movimento célebre que te provocou aquela erecção pré-beijo(s), que, porventura, lhe provocou uma erecção também. Fui demais. Fui confiante e sedutora, e pedi-lhe para que me contemplasse despida, com a expressão de um misto de desejo e prazer que eu gostaria de ter visto na tua cara. Até pelo teu nome o chamei, porque eu e ele temos uma espécie de dinâmica mórbida, onde (como ficou provado) quase tudo é permitido. (Mas depois chamei-lhe outros tantos nomes, e o teu foi só um que fui repetindo no meio de todos os outros, porque percebi que ele é demasiado sujo e medieval para ser tratado pelo nome que te identifica.)

21 May 2007

Vai-te foder! Mas não morras, porque assim é que nunca te esquecerei.

Basta.
Já chega de tentar amar outros homens logicamente melhores que tu.
De hoje em diante, serei devota a ti e a ti só. E serei um mártir sofredor, e fecharei o meu coração a sete chaves. E toda a minha existência se baseará nisso.
Já chega de tentar substituir-te. Não és substituível sequer.
Impossível, digam-me o que me disserem. Nunca amarei ninguém como te amo a ti. E não tentarei negá-lo nunca mais (pelo menos a mim própria). Não adianta só acreditar que não te amo, ou que algum dia poderei deixar, porque amo. Porque sim.
Vou ser devota a ti e terei o coração envolto na muralha da China. Impedirei qualquer sentimento futuro porque és o homem mais nobre a amar.
Amo-te meu filho de uma puta desnaturada.
Odeio-te.
Odeio-te porque só te posso amar. A ti. E não tenho escolha.
Merda. O filho da puta do amor é assim, não nos deixa hipótese. É um sentimento demasiado nobre para poder aceitar em si conceitos como o de esquecer alguém, ou de “ultrapassar” alguém.
Amo-te meu filho da puta.
Amo-te, e esta prosa poética é uma merda e a culpa é tua.

Conheço homens lógica e tecnicamente mais interessantes que tu, outros mais giros, outros mais misteriosos, outros mais ricos, outros mais disponíveis sentimentalmente, todos que me adoram e veneram como a puta de uma rainha. Veneram-me como eu não mereço ser venerada. E não consigo. Eles já viajaram o mundo, e são mais velhos que tu, mais sabidos que tu, não obstante mais interessantes, porém. És uma merda porque carregas em ti a sabedoria de mil nações, duas mil gerações, seis mil povos. E isso tudo é-te inato. Ou dado adquirido. (Ou se calhar ambos, porque as duas merdas que disse antes são sinónimas.) Percorreste o mundo com a tua mente, e sabes mais que os persas, os romanos, e os gregos juntos. És um génio, que tem em si por descobrir (pareces não o demonstrar, mas por alguma razão que é tipicamente obscura, nos recônditos da tua mente em espiral infinita sabes que tens) mais teorias fundamentalistas que o Sócrates, e o Marx, e o Pitágoras, e o Einstein, e os Illuminati todos. És um filósofo que eu amo, e esta prosa poética de merda é culpa tua.

Filho de uma puta maldita. Amaldiçoaste-me para o resto da vida. Não é fatalismo, simplesmente nunca serei a mesma.

(Dá-me esse amor que eu tanto anseio, para eu poder esquecer-te. Por favor.)

20 May 2007

Quem é de quem?

Assim neste meu actual estado de insanidade, TUDO é alegoria para mim.

Porque mesmo que um dia o meu desejo/obsessão de "pose" se concretizasse, ele nunca seria meu, eu é que seria dele.
Já o sou.

Tudo é alegoria.
TUDO.






"...because the best things in life are not the things you own, but the things that own you."

Tudo é alegoria.

19 May 2007

Custa-me tanto admitir.

Tudo o que esta (des)ilusão me ensinou:


(atenção, não foi ele, foi a desilusão. E porquê não faço ideia. Ou faço, só que não me apetece agora fazer aqui uma longa dissertação introdutória, apetece-me simplesmente passar aos factos – ainda bem, e creio eu – positivos; adoro listas, já sabem.)

A ser mais tolerante na diferença.
A não rejeitar ninguém à partida.
A ser menos tolerante na qualidade das coisas – incluindo das pessoas.
A preservar as coisas – incluindo as pessoas – boas que me rodeiam.
A reservar o bom para mim.
A não julgar o livro pela capa.
A não julgar.
A ser mais receptiva a coisas que desconheço e que, à partida, poderia recusar-me conhecer.
A considerar o silêncio precioso.
A respeitar o silêncio dos outros.
A respeitar a estranheza dos outros.
A problematizar.
A levar algumas coisas mais a serio, e outras menos – quais não sei, elas simplesmente vão surgindo.
A perder o meu “síndrome de pobreza”.
A perder o meu síndrome de pobreza de espírito.
A procurar coisas novas – tudo: musica, sítios, livros, series, filmes...
A ser mais solitária.
A despreocupar-me.
A apreciar coisas mais simples mas menos banais.
A ser um pouco mais criativa.
A escolher as minhas batalhas.
A ser ousada de outra forma, numa espécie de revolução interior.
A escolher a melhor forma de manifestação da minha ousadia.
A refutar a pequenez das coisas.
A fazer menos ilações precipitadas sobre as pessoas.
A ser mais, sendo menos.
A desprover-me de preconceitos.
A ter calma.
A respeitar.



18 May 2007

AI O CARALHO

Sim, já é sabido que te evito.
Já quase não falo de ti e mudo de assunto ou finjo não ouvir quando alguém fala, evito olhar para ti, evito mesmo não pensar (muito) em ti.
E VEJO UMA PORCARIA ONLINE ONDE NEM SEQUER APARECES, SÓ FAZES A MERDA DA VOZ OFF E CHORO. ACHAS ISTO NORMAL??!
GRANDE MERDA.
ESTOU FARTA.
SÓ FAZES A PORRA DA VOZ OFF, POR AMOR DE DEUS!





A sério, estou-me MESMO a passar.








Só ver o teu nome nos créditos finais arrepia-me...
Só ouvi a tua voz, porra.




E hoje quando te vi na escola, numa fracção de um nanossegundo (não precisei de mais para reconhecer-te), olhei-te de forma diferente. Obriguei-me a perguntar-me - para lá da minha obsessão - se ainda gostava de ti.

Não encontrei resposta imediata, e por momentos senti-me aliviada. Aquele peso do peito aligeirou-se, e na minha ingenuidade pensei que podia voltar a ser de mim própria.

16 May 2007

Fugir de ti é fugir de mim.

Gostaria de passar a dizer somente o que fosse pertinente. E daí, o que não fosse redundante.



Gostaria.



Mas quantas pessoas já se sentiram como eu? E quantas já o escreveram? Será que isto só é importante porque a minha experiência é a minha experiência e, como tal, tem tanta importância quanta a do que já foi escrito?





Quanta arrogância.



Quanto egocentrismo.








Em termos de relevância não sei, mas realmente a única coisa que a diferencia é o facto de ser minha.


Preciso de ser salva.

Alguém ou algo que me salve, porque eu não consigo fugir de mim própria.

Já tentei.

Juro.

Isto ultrapassa quaisquer limites de auto-tortura ou masoquismo. Isto é patológico.


Não existe uma doença que seja infligir-se dor psicológica a si próprio?


Ah!


É verdade.

A depressão crónica.

Ou, como eu gosto de lhe chamar, a auto-flagelação interna.

Sim.


É procurar continuamente respostas, mesmo sabendo que nem perguntas a elas existem.



É recordar momentos felizes, para reforçar o momento infeliz presente.



É reconhecermos que nada somos e nada seremos senão mais um.



É reconhecermos o valor dos outros, em detrimento do nosso.



É ter um cancro cerebral, que se alastra conforme a nossa vontade, e nos vai destruindo de mansinho da maneira mais dolorosa.



É principalmente fingir que está tudo bem.





É privar-me de ti, em todas as horas, momentos e ocasiões, em pensamento e materialmente e, de vez em quando, abrir o cerco e dar autorização à memória ou à imaginação. Ou, em casos mais extremos de masoquismo psicológico, é quebrar as regras da minha reabilitação e ver uma foto tua, ou ler o teu blog, ou ir buscar os isqueiros que me deste.

És a porra de uma doença.

És como a merda de um vício.

Estás dentro de mim e combater-te é combater-me. E combater é a única coisa que posso fazer.

Às vezes tenho recaídas.

Só eu me posso ajudar.

Preciso de ser salva.

15 May 2007

"Enough now"

"But... you never talk to me."

Pormenores.

A coisa que a fez mais feliz, a coisa que mais lhe apetece gritar a plenos pulmões, ela mantém-no segredo. Porquê? Porque é algo tão precioso, que o guarda só para si.


Segundo os padrões de beleza convencionais, os seus lábios são perfeitos. Toda a gente os elogia, todos os homens lho dizem. Não existe vivalma que os não inveje ou que os desgoste.
Ela sabe-o. Mas nem sempre. Às vezes esquece-o. Já lhe aborrece até, que todos os estimem.

E ela é gira para muitos, mas para si própria não. Ela sabe que a beleza é muito mais do que uns lábios. A beleza é personalidade, são todas as suas expressões musculares faciais, e disso ela não está certa se é convencionalmente belo.

Mas ele -la sentir assim. Bela. E ela ainda ficou por perceber porquê.

Ele foi o único homem que não a admirou pelos seus lábios. Ou pelo menos, só pelos seus lábios. Antes de mais, antes de tudo, ele disse-lhe:

- Adoro o teu olhar.

Poucas palavras, e ela sente-se levitar.


Porquê?


Reparem.






















Ele não falou dos lábios dela.
Da coisa mais óbvia.

E não disse "olhos", disse "olhar".

E isso depois de ter-lhe dito que os seus olhos eram assimétricos. O olho direito é mais pequeno.
"Como reparou ele?", pensou ela, "levei quinze anos a reparar nessa minha assimetria. Eu. Só quando entrei na puberdade e me olhava ao espelho durante horas é que reparei nisso, até um cirurgião plástico disse-me que era simétrica. Bolas! Como foi ele reparar? Só eu o sei, e só se nota em certas posições, como foi ele reparar?!"

Gostar do seu olhar mesmo este tendo declaradamente um defeito? Mas o "olhar" não tem defeitos, são os olhos.

E ela sabe, que os seus olhos são a coisa mais banal e sensabor de toda a sua face. São castanhos, pequenos, normais. Iguaizinhos a tantos outros.

Tal e qual.


E ela poderia ter-se sentido insegura, porque ele podia estar a ser alvo de uma ilusão óptica qualquer, devido à qualidade rímel. Mas não. Ele disse "olhar", não "olhos".

E ela olha-se uma vez mais ao espelho, agora, e pensa entre um largo sorriso: "não, este rímel é uma treta, não faz diferença nenhuma".

Então sorri, e constata que nunca gostou tanto de saber que foi vítima de publicidade enganosa.

E a coisa que a faz mais feliz, a coisa que mais lhe apetece gritar a plenos pulmões, ela mantém-no segredo. Porquê? Porque é algo tão precioso, que o guarda só para si.

lista das coisas que preciso urgentemente.

um corte de cabelo.
um spa.
uma noitada daquelas.
amigas de verdade.
talvez uma nova tatuagem.
aquele amor efémero e avassalador.
sentir-me sensual.
trapinhos novos.
acessórios, muitos acessórios.
um estilo novo.
criancices.
falta de juízo.
um abraço.
lágrimas.
sentir-me cansada de feliz.
algo que me entusiasme.
algo avassalador.
algo que me tire o fôlego.
um concerto.
gargalhadas.
miminhos.
amigos.
sapatos giros e cómodos.
música nova que me entusiasme.
moda que me entusiasme.
pessoas que me entusiasmem.
sítios que me entusiasmem.
arte que me entusiasme.
paz de espírito.
um mimo caro.
uma loucura daquelas.
um devaneio de consequências hilariantes.
sentir o vento nas faces.
sentir a areia entre os dedos dos pés.
sentir o cheiro da relva acabada de cortar.
um beijo daqueles.
um beijo dos outros.
uma óptima surpresa.
um dia inteirinho ao sol.
uma conversa daquelas.
uma refeição num restaurante daqueles.
sexo num hotel daqueles.


uma piscina.
uma aventura.
uma noite em branco.
uma paisagem indescritível.
um presente.
um pai.
um livro daqueles que não se consegue parar de ler.
um pedido de desculpas.
um bom reencontro.
auto-estima.
um café com as amigas.
ser contemplada.
ser admirada.
uma manhã que comece bem.
olhos azuis.
mãos sábias e um hálito quente.
não ser subestimada.
não ser subvalorizada.
um banho de imersão.
roupa interior sexy.
alguém que me fotografe.
alguém que diga que sou sexy.
alguém que me ensine e a quem ensinar.
alguém que me oiça com admiração.
boa música.
álcool.
sossego.
tirar o dia para mim.
ir às compras de chinelos e óculos de sol.
vestir um vestido de alças finas.
matar saudades.
respeito.
carinho.
infância.
inspiração.
sabedoria.
um sorriso novo.
uma extreme makeover.
verão.
um gelado Hagen Dazs.
uma viagem.
ar condicionado num dia quente.
pegar no jornal e ler notícias felizes.

Scoprirsi coprendosi.


Que em italiano significa "destapando-se tapando-se" ou, num sentido menos literal, "descobrindo-se cobrindo-se". Li-o numa revista em Itália, acerca das muçulmanas convertidas que, por amor, o faziam. Abdicavam da sua ocidental liberdade, em busca de uma outra que, para nós, filhos de culturas ocidentais, é-nos difícil perceber. Às vezes não era só por amor, faziam-no também em busca do seu eu. Foi o melhor jornalismo que li em anos, e passei a adorar a expressão.


Scoprirsi coprendosi.


Pode ser aplicado a uma infinidade de coisas, até à sedução. Podemos "mostrar-nos" (mostrar a nossa sedução), cobrindo-nos. Não precisamos necessariamente de nos despir para sermos sensuais, muitas vezes é o processo precisamente inverso.





Ser mais, sendo menos.


Porque mais NÃO É melhor.


Ser mais feliz, sendo menos.


Ser mais eu, sendo menos.


Ser mais eu para mim sendo menos para os outros.

14 May 2007

a dor transcende a linguagem, e em conseguinte, qualquer definição enciclopédica.

"tortura
do Lat. tortura, acção de torcer
s. f.,
tortuosidade;
suplício;
tormento que se aplicava a um acusado;
fig.,
grande mágoa;
lance difícil. "

in dicionário da Língua Portuguesa Priberam.




NÃO.

Eu vou dar-vos, a verdadeira definição de tortura.


Tortura é:





  • passares na televisão nacional pelo menos um dia por semana, e eu ser masoquista o suficiente ao ponto de não mudar de canal.
  • ir quatro dias seguidos à zona onde moras: comer lá, passar horas lá, sabendo que estás algures em casa talvez, a uns quantos metros. Passear-me por lá, revisitar todos os quatro dias aquela estação.
  • ir comer precisamente àquele McDonald's.
  • frequentar a mesma escola que tu e no entanto evitar ver-te (quando às vezes é inevitável dada a dimensão diminuta daqueles corredores).
  • ter de ver homens com casacos parecidos ao teu.
  • ter de ver homens e conseguir olhar para eles sem que o critério de avaliação seja a semelhança contigo.
  • ter de olhar para homens, ver interesse, e não te ver a ti.
  • ter de tentar não te ver.
  • ter de vestir aquelas roupas com que te beijei.
  • ter de olhar para os pontos do meu corpo que tu tanto adoras.
  • ter de lidar diariamente com as lacunas da minha personalidade que tanto deves odiar.
  • ter de acordar todos os dias com a interrogação de um silêncio insuportável.
  • ter de mentir, mentir muito, quando me perguntam como ficou a minha história contigo.
  • ter de participar em conversas "adultas" e "normais" sem ter a oportunidade de divagar.
  • ter de conter-me nos posts.
  • ter de conter-me nas conversas.
  • ter de conter-me.
  • ter de concentrar-me.
  • ter de fingir que estou feliz.
  • ter de gostar de outros homens.
  • ter de fingir que concelhos como Restelo, Algés, Miraflores, Almada, nada significam.
  • ter de fingir que Hagenz Dazs é só um gelado.
  • ter de fingir que um cão é só um cão e um latido é só um latido.
  • ter de evitar gritar aos sete ventos que te amo e que és perfeito de cada vez que me embebedo e a cada pessoa que conheço.
  • ter de forjar auto-confiança depois da tua rejeição.
  • ter de evitar clichés como este.
  • ter de evitar ser redundante.
  • ter de evitar todas palavras e todos símbolos, sinais, caracteres, sons, cheiros, sítios, clichés e demais.
  • ter de evitar dar continuidade a este tipo de prosa poética pirosa de fraca qualidade assim a fugir para o ridículo do "emo".
  • ter de esquecer-te (porque sei que isto não tem mesmo volta a dar).

"I have often walked down this street before

But the pavement always stayed beneath my feet before

All at once am I several stories high

Knowing I'm on the street where you live

Are there lilac trees in the heart of town?

Can you hear a lark in any other part of town?

Does enchantment pour out of every door?

No, it's just on the street where you live

And oh, the towering feeling just to know

Somehow you are near

The overpowering feeling that any second

You may suddenly appear..."

Harry Connick, Jr. "The Street Where You Live"

Don't.

Não perguntes.

Parte do princípio que eu estou óptima.


Faz assim, desculpa se te macei este tempo todo com os meus frívolos problemas, e ignora-os.

Tu, mais próximo que todos, passa por cima daquele ritual estúpido e meramente social que todos repetem uns para os outros diariamente, sem sequer esperar outra resposta que não a habitual. O inútil ritual de perguntar "está tudo bem?". Faz isso, atropela-o, excomunga-o. Porque estás demasiado próximo para o fazer.

É frustrante, estar na rua e encontrar um quase desconhecido que executa o ritual comigo e eu, cheia de vontade de responder "não, não está nada bem", não o faço. Porque seria de esperar que tu, quem eu tanto amo e respeito, o fizesses, da próxima vez que me visses. Mas não, continuas a partir do princípio que eu tenho de estar sempre óptima e que não estar a 100% todos os dias é um crime. Isso, parte do princípio que estou óptima. E não só não perguntes, reforça a minha angústia relembrando-me de como sou quando estou bem. Logo tu, de todas as pessoas, que me conheces tão bem... Não perguntes. Parte do princípio que existem problemas "gastos" ou que eu irei ter contigo sempre que precisar. Desculpa se os meus problemas não se renovam.


Desculpa.

08 May 2007

Memorando: esquecer-te.



Só para me lembrar de esquecer-te.


Só para me lembrar que foste o homem mais perfeito com quem alguma vez estive.

Não fosses tu um perfeito animal.

Fico horas a olhar para a única foto que tenho tua.

Claro que saíste desfocado. És um desfocado de merda.

És pessoalmente desfocado, não existes, és um fantasma niilista que deambula por aí, a esforçar-se por não se fazer notar. És uma merda, és uma ilha. Não tens opinião, não existes. Não fazes a diferença, não existes. És a diferença por não ambicionares ser a diferença. Nada ambicionas, só ser ninguém. Nada. Nada importa para ti, não é?



Odeio-te.


Estúpido.
Arrogante.
Antipático.
Inacessível.
Distante.
Frio.
Obscuro.
Misterioso.
Excitante.
Lindo.

Perfeito...











ainda.

06 May 2007

Sono e saltos altos são assim.

Levanto-me a meio da noite. Não consigo dormir. São ataques de ansiedade que tenho andado a fingir controlar, e a fingir não saber do seu porquê.
Estou em negação, é normal.
Acendo a luz. Olho-me ao espelho.
ESTOU GORDA. Muito gorda. Sim, deve ser esse o porquê dos ataques de ansiedade.
Dispo-me.
Dispo-me toda em frente ao espelho. Sou de uma frieza calculável. Analiso-me o corpo tão tecnicamente como se um médico fosse.
Ou nem tanto.
Sento-me na cama, ainda em frente ao espelho.
Despida já não pareço tão gorda, nefastas roupas que me acrescentam volume!



Então reparo. Não obstante tudo, não obstante essas anorécticas todas que se pavoneiam com a minha altura mas com dez quilos a menos, ainda me considero sensual.
Mesmo assim, gosto do que vejo.

Calço uns sapatos de salto alto, ainda nua, e ponho-me na minha melhor posição. Uma que me favoreça. Tenho umas costas fantásticas, e uns seios ainda melhores. Sou sensual sim.
E o que conta realmente é a atitude, sabem?

Faço um sorriso maroto ao espelho, não consigo evitar. Saiu-me, nem dei conta de o sentir aparecer. Era um sorriso maroto sensual, daqueles que dizem “estou tímida assim ao pé de ti, vem dar-me uns beijinhos ao pescoço”.
Um sorriso que serviu para preencher todas as lacunas de sensualidade que tenho sentido quotidianamente em mim.
Claro que na solidão do meu quarto sou confiante, desinibida e sensual, claro.
Esboço outro pequeno sorriso daqueles, desta vez mais humilde. Admiro o meu corpo uma vez mais, cruzo braços e pernas e penso “isto daria uma grande foto. Assim, sem maquilhagem, nem styling no cabelo, só eu e os meus sapatos de salto alto de verniz pretos, a condizer com a cor das unhas”.

Mas neste momento atravesso um infértil deserto de homens, não haveria ninguém para me fotografar.
E ainda bem.
Porque a presença de outros homens não colmata a tua ausência, simplesmente a acentua.
(Tenho estado a esforçar-me, mas não havia outra maneira de expressar a frase anterior de outra forma. Lamento.)








E a seguir? Não, não me masturbei, vesti um top e umas cuecas e vim fazer este post.

03 May 2007

As aulas afinal servem de alguma coisa.

Tenho estado demasiado ocupada, compenetrada no meu estúpido sentimentalismo, que não o tenho conseguido.
Mas hoje tirei o tempo necessário, e lutei contra todos os meus demónios, contra todas as minhas palavras, símbolos, sinais, caracteres, sons, cheiros, sítios, clichés e demais, e consegui.

Tirei o tempo, e evoquei toda a minha concentração, para conseguir perceber.

E percebi.

Consegui estar a atenta a uma aula, e afinal esta não foi só útil a nível curricular.
Quando na nossa mente tudo o que existe são palavras, símbolos, sinais, caracteres, sons, cheiros, sítios, clichés e demais, tudo é analogia.

"A objectividade é como uma folha de papel, se a aproximarmos demasiado dos olhos não conseguimos ler nada, mas se afastarmos o suficiente a folha lemos na perfeição, só que também não a podemos afastar demasiado ", disse a professora na aula.

E isto pode aplicar-se a quase tudo na vida. E não é o oito nem o oitenta que retiro desta equação, longe de mim fazer uma elação tão banal.

O que daqui retiro é uma premissa muito básica mas muito mais importante: agora que algum tempo passou, e que começo a sarar as feridas, consigo ver com objectividade. E é tudo tão claro!...
E sinto-me ridiculamente redundante por dizer que lamento não ter conseguido ver com esta clareza mais cedo, por estar demasiado envolvida. Deve ser isso que as pessoas sábias fazem então, não se envolvem.

Tantas coisas que eu podia enumerar, tantos erros que eu podia ter remediado logo desde o início, tantas falhas a reparar. Mas nada pretendo mudar. Se foi assim, foi. Se eu tivesse retirado da equação estes pequenos grandes erros, estaria a anular uma pequena grande parte do processo de construção da minha personalidade. Por isso digo: ainda bem.



E a pergunta que se coloca é: em detrimento de todos aqueles erros, será que eu teria preferido não me envolver?

02 May 2007

isto NÃO É sobre ele.

Concentração.
Abstracção.
Não me vão sair palavras sobre ele.
Não!
Isto é sobre mim.



Este é o último, derradeiro, post sobre esta temática.




Cresci.
Estou sempre a crescer.
Agradeço-te.
Agora, custa-me admitir, respeito-te. E custa-me ainda mais admitir, quero ser como tu.
Não para, sei lá, aproximar-me de ti, ou sentir que fazes parte de mim.
Porque sim.
Porque não devia ser assim, nem devia escrever isto, como tantos outros erros que cometi. Mas porque sim, porque quero.
Gostaria.

Tenho tentado falar menos de ti às pessoas, e não tenho postado nada porque sei que me saíriam palavras sobre ti. Se tiver que ser o fim do meu blog será. Este é o último post sobre esta temática.
De hoje em diante, nem sequer vou tentar apagar-te. Simplesmente para mim nunca exististe.

Não.
Não existes, nunca exististe sequer.

Não quero falar mais de ti.
Não vou falar mais de ti.
Não vou ouvir-te ou ver-te, apenas simbolicamente porque isso não posso evitar.
Esqueci o teu número de telefone.
Esqueci que tens um endereço de e-mail.
Tu não existes, és virtual, um mito.

As palavras, símbolos, sinais, caracteres, sons, cheiros, sítios, clichés e demais que te representem serão só isso: palavras, símbolos, sinais, caracteres, sons, cheiros, sítios, clichés e demais.




Se tenho a certeza que é assim que quero encerrar este capítulo?
Não.