12 February 2007

Se forem minhas amigas, fingem que nunca postei isto.

Alteraste-me a vida te tal forma que até a minha noção espacio-temporal mudou. Os padões de tempo convencionais foram-se. O calendário pelo qual eu tenho regido toda a minha vida, da noite para o dia, se desfez. É como se tivesse mudado de civilização de repende. De cultura. De modo de vida. Dezanove anos a contruir uma identidade, uma personalidade, para tu a desfazeres num par de horas. Agora a minha semana começa à quinta-feira, porque a cada quinta feira contabilizo o número de semanas que ando a bater mal. Agora o mês começa no dia um, mas já consigo perceber o porquê de começar no dia um e não noutro dia qualquer.
Consigo, consegues, trascender todas as leis da física.
Onze dias a bater mal. Quem vou eu enganar? Só se for aos outros. Onze dias a bater mal. Não tenho um amor assim desde o Carlos Pedro. Desde os 12 anos de idade. E pelo Carlos Pedro andei a bater mal durante dois anos. Ou mais. Se hoje o visse não sei se conseguiria não tremer. Dois anos a bater mal e a ser desprezada e desprezada e desprezada. Não quero bater mal assim por ti. Mas já fui desprezada, desprezada e desprezada. Por favor não me ponhas a bater mal dois anos seguidos. Por favor deixa-me esquecer-te.
Onze dias a medir palvras, a calcular distâncias. A ser outra pessoa. A tentar reduzir a minha ignorância e o nosso choque cultural. A prever conversas e contar ocasiões. Onze dias de lembranças que esforço-me para não se desvanecerem, de encontros premeditados. Onze dias de depressão, a ouvir Diana Krall. Onze dias a tentar prever o futuro, analisando aquela passada quinta-feira. Onze dias a fantasiar. Até sou feliz nas minhas fantasias contigo, consegues conceber tal conceito? Eu e tu, nas minhas fantasias somos felizes. Eu sou feliz. Mais feliz do que sou agora. Mais feliz que qualquer outrora. Sei que são fantasias, sei que não devia permitir-me sonhar, porque a desilusão é maior ao abrir os olhos. Mas nas horas de insónia, fecho-me e obrigo-me a alienar-me da realidade. Deve ser isso a meditação. Não penso em nada. Não oiço ruídos. Adormeço, meia acordada, e obrigo-me a sonhar contigo. A sonhar que me telefonaste. E nessas fantasias, completamente controladas pelo meu consciente, – vem aí a parte cómica – tu tratas-me mal. Percebeste? Percebeste bem? Sou maluca ou não sou? É questionável a minha sanidade mental ou não? Eu, sob total controle das minhas fantasias românticas contigo, nelas tu tratas-me mal. Quão irónico é, saber que gosto de sofrer? Nas minhas fantasias começas por tratar-me bem, e depois o meu subconsciente solta-se e começa a divagar... e aí tu tratas-me mal. Quando percebo que contigo sofro até em sonhos acordados, afasto-me dessa imagem e crio outra. Crio outra que terá o mesmo final. E é assim, um processo cíclico, agridoce, no qual me tratas bem e mal. Ao menos fantasio contigo fazendo-te um retrato fiel. Fantasio-te com a tua dupla personalidade, com a tua crueza, e com o pouco demais mistério que conheço de ti.
E a minha alma sofre, já chora. Só falta a materialização desse choro. Em onze dias não chorei por ti. Cerrei os olhos com força e implorei ao meu coração o choro de um coração doente. Mas não consegui. O máximo que consegui foram uns míseros olhos enevoados.
Não chorei porque chorar por ti significaria libertar-me de ti. É como perdoar, choramos quando perdoamos. Quando nos libertamos de um fardo para admitir outro, o fardo de ter perdoado. E o meu pobre coração não admite ainda essa transação. O meu pobre coração quer de tal forma manter-te prisioneiro que o meu corpo bloqueia, rejeita qualquer perdão. Chorar seria admitir. Chego ao ponto de me torturar com música deprimente e recordações idiotas daquela quinta-feira, na esperança de chorar. De me libertar. De exorcizar todos os meus demónios. De exorcizar-te. De lavar a alma com aquela água triste e salgada. Aquele fungar, aquela dor de cabeça que grita “depois da tempestade vem a bonança”. Mas chorar seria admitir, seria libertar-te. Seria libertar-me. Porque afinal amar “é querer estar preso por vontade” e “ter com quem nos mata lealdade”, não é verdade?

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