06 February 2007

Porquê que entrecruzas as tuas pernas nas minhas se não me queres?

Vou no comboio de headphones nos ouvidos, o meu mp3 toca qualquer coisa triste de Diana Krall. Não devia martirizar-me mais com música tão triste. Olho pela janela e está um daqueles dias britânicos. Agridoces como tu. Sol ao fundo mas nuvens aqui. Vestimos a nossa melhor roupa por baixo de um longo casaco de Inverno. E os óculos de sol na mala, na esperança que a jornada floresça para se tornar um solarengo quente dia de Inverno. Vivemos o nosso inverno assim, na esperança desses dias. Se não fosse essa esperança, o Inverno seria muito mais deprimente.

Este sentimento consome-me, mata-me. Já não me sinto assim desde que tinha 13 anos. Já me tinha esquecido que era tão avassalador, tão deprimente, tão bom. Morro por dentro aos pouquinhos, por cada vez que olho para o meu telemóvel e nenhuma sms tua me aparece no visor. Quanto mais tempo passa menos esperança tenho, mas nem por isso este sentimento se desvanece.

Estou sozinha, naquele comboio imenso. Olho para o trânsito, e sinto-me minúscula nesta cidade enorme, qual criança sem amor.

Olho para o chão, envergonhada, porque vou esboçar um sorriso. Espero que ninguém me veja. Aqui, sozinha, o ouvir o meu mp3 e a sorrir. Que ridícula. Que rídicula que me sinto. Porquê que não consigo parar de sorrir? Mordo os lábios para controlar-me. Baixo a cara uma vez mais, antes de verificar que estou a ser discreta. Porquê que estou a sorrir se me sinto tão deprimida, tão devastada? Se tu não me correspondes? Se vou para a escola na esperança de te ver. Simplesmente ver-te. Não vou dizer nada, eu sei que não consigo. Mas ver-te é como ver o sol ao fundo, num triste dia de inverno. Subitamente percebo. E mordo os lábios mais uma vez em sinal de nervosismo. Não acredito que estou a começar a aperceber-me destes sentimentos. Estou a sorrir porque sinto-me levitar. Morrer por dentro não é assim tão mau. Avassalador sim, mas devastador não. É, mais uma vez, agridoce. Não gosto de me repetir assim, mas é. Não é um sentimento que me faça feliz, mas é um sentimento feliz, portanto sorrio. De repente apercebo-me que estou a viver os melhores dias da minha vida. Nunca mais me vou sentir assim, porque tudo o que vier a seguir vou bloquear. Porque apesar de ser bom não me quero sentir assim nunca mais. Nunca mais quero estar tão emocionalmente presa a alguém. Sim, porque apesar de não me quereres eu sou tua. E de mais niguém.

É este o sentimento que me faz levantar de manhã e perder horas com o meu cabelo, na esperança que repares. És tu que me faz viver para, aos poucos, me assassinares por dentro de mansinho. Como é possível, a mesma pessoa que me faz sentir tão bem, simultaneamente, me faz sentir tão miserável? És tu o meu sol. O meu sol britânico numa triste manhã de Inverno.








*a foto não é da minha autoria, peço desculpa à autora por ter-lha descaradamente roubado. www.fotolog.com/sarita_catita (a imitação é a forma mais honesta de lisonja)

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