Falam de Alanis Morissette, o seu assunto preferido da altura, o feminismo em forma de música. Entram no amo.te chiado, de onde se podia ouvir um electro pop fantástico. Esperam em silêncio pacientemente pelo pedido, uma coca cola e um café, porque entretanto a conversa tinha-se esgotado. Mas não foi um silêncio constrangedor. Desviavam os olhos e coravam descaradamente. Um gostava do outro sim, mas nunca poderiam
imaginar que em dois anos se odiariam. “Então foi assim mesmo”, pensa ela para si. Já fui feliz sim.A coca cola chegou, e naquele momento, naquele primeiro encontro, ele declarou-se. Silenciosa mas descaradamente. Eram tão puros, duas crianças que ainda não tinham sido corrompidas nem arrastadas para um mar de complicações e jogos cínicos desse tal dito amor. Na altura ainda tudo era simples, e mesmo num sítio bastante luminoso, ao balcão de um estabelecimento, lado a uma multidão de gente, com uma música bastante alta e barulhenta, deu-se o momento mais ternurento entre duas pessoas. Duas almas a tocarem-se publicamente, sem ninguém ver. Desde então nunca mais niguém se conectou tão intimamente com ela, sem sequer falar. Desde então nunca niguem lhe disse “amo-te” no primeiro encontro. Desde então nunca ninguém lhe disse um “amo-te” sentido reciprocamente.
O copo que trazia a sua bebida, tinha o logótipo do bar, “amo.te chiado”, e ele, lentamente, naquele silêncio reconfortante, conduziu a sua atenção com o olhar para aquele copo, e girou o copo sobre si, mostrando-lhe simplesmente a parte “amo.te”. Ela, extasiada de felicidade, desviou o olhar e corou até à raiz dos cabelos. Soltou um sorriso que não conseguia conter. De repente, deixou de se preocupar com o cabelo, ou com o seu tique nervoso de morder o lábio. Mordeu o lábio descaradamente e, sempre fitando o chão, mudou de assunto pondo o cabelo atrás da orelha. Não queria saber de parecer gira, sabia que era gira a seus olhos e isso bastava. Ele, o rapaz mais tímido do mundo, com quem apenas tivera conversas banais, apenas dissera-lhe baixinho “amo-te”, tinha sido melhor do que ela imaginara, e nem imaginaria que aquela relação viria a ser a mais amarga que alguma vez teria. A mesma pessoa por quem ela seria capaz de dar a própria vida, seria odiada de morte a dada altura. Em pouco tempo, ela viria a concretizar todas as suas fantasias, e a viver todos os seus pesadelos.
Ainda hoje ela não sabe se valeu a pena. Se valeu a pena morrer por dentro para viver o melhor momento da sua vida aos 15 anos. Se realmente valeu a pena desfazelar-se aos poucos nos últimos anos, pela recordação daquele momento.
Ela odeia ser quem é.
1 comment:
Os pequenos gestos são sem duvida os mais importantes, são aqueles que nos marcam!bjinho
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