28 February 2007

Carta à minha melhor amiga

Não vou ser poética nem heróica, não me vou preocupar com a beleza dos vocábulos ou com a correcção escrita. Não quero saber que seja uma seca ler isto, não quero saber se vou divagar. Que se lixem os erros de sintaxe, e as incorrectas manifestações de gramática. O senhor professor Jorge Trindade que me perdoe. Que se foda. Vou simplesmente fazer uma tentativa desesperada de abrir o meu coração. De admitir, e assim exorcizar sentimentos que me inquietam, demónios que até agora não quis libertar das profundezas do meu subconsciente. (Estavam lá tão bem...)

Lembras-te daquela meia conversa sinistra que tivemos sobre eu andar inquieta? Estávamos a ir para o Colombo, paradas nos semáforos, e eu disse-te algo como “Epá, não sei porquê mas ando inquieta”. Tu franziste o sobrolho, e sem tirar os olhos do semáforo sorriste com uma expressão que-raio-queres-tu-dizer-com-isso. Eu, balbuciei mais uma palavras que tentassem descrever o que ando a sentir mas a meio desisti. Queria falar e não sabia se seria compreendida porque na altura nem eu compreendia o que queria dizer. Então perdemo-nos em outra conversa qualquer e arrumamos o assunto.

Pois mas aqui vai o que acho que queria dizer: porra, sinto-me só. São cinco e um quarto da manhã e eu levanto-me para as aulas daqui a quatro horas, e mesmo assim prefiro vir escrever para o blogue. Sou louca. Ou talvez seja isso, apetece-me voltar a ser louca e estou a entrar na merda da fase adulta, onde tenho de ser normal. Mas não, não é isso. O que me está a inquietar realmente, é o facto de eu ir percorrer 410 kilómetros para ser comida. Porra, estarei assim tão carente? Eu não era assim, eu gabo-me constantemente de não ser assim. Estarei a perder a minha personalidade? Será que ela vai-se desvanecendo dia após dia em detrimento de mim? Será que cada vez que me desiludo perco personalidade? Ou que à medida que vou crescendo torno-me só mais uma ovelhinha do rebanho?
Sinto-me assim. Sinto-me a tal pessoa oca que tantos me acham ser. Parece que quanto mais vivo menos sei. Poder-se-à desaprender? A arrogância da adolescência dá-nos coisas maravilhosas: somos os senhores da razão, as nossas crenças são as únicas válidas em todo o mundo.

Ultimamente tenho vindo a perder sex appeal, já vos tinha dito, mas vocês olharam para mim e abanaram as cabeças pensando que coitada sou, se perder o sex appeal fossem todos os meus problemas... Não foi? E se calhar esta porra desta inquietação é consequência de um amontoar de rejeições. Porque sozinha não estou. Sinto-me é só.
Eis os homens com os quais não posso sonhar:
- Teu Tabu Escsiano
- Meu Tabu Escsiano
- Fred
- Meu Outro Tabu Escsiano (o primeiro)
E mais não sei, mas sei que ultimamente tenho sido muito rejeitada, e a rejeição é algo com o qual eu nunca soube lidar.


Resolvo sempre a minha inquietação com listas. Mas desta vez não tenho objectivos. Portanto listo tudo aquilo em que me tornei, olho para mim e vejo-me assim:

- sem classe.
- sem postura.
- sem mistério.
- fria.
- feia.
- insegura (porra, onde está a minha auto-confiança?).
- sem entusiasmo.
- sem inteligência.
- sem inteligência emocional.
- sem aura.
- sem “vavavavum”.
- velha.
- a falar palavrões e a dizer ordinarices.
- sem vocabulário.
- cada vez mais burra e mais entregue à sociedade plebeia, mundana, comum, ignorante (portuguesa).
- sem amor.
- mal amada (são sinónimos, sei-o e estou-me a cagar).
- fumo.
- embebedo-me.
- faço sexo sem amor.
- faço sexo sempre com os mesmos três tipos
(não simultaneamente é claro, mas não passa dos mesmos três, são como os horários de centro comercial: rotatividade meninos, rotatividade!).
- esforço-me tanto para ser amada (sempre sem sucesso)...!
- esforço-me para amar pessoas que, nem de longe, amo.

Outra situação que me prova inquietação é quando quero fazer algo e empenhar-me nisso com todas as energias do meu ser, mas censuro-me para não o fazer. Por exemplo, neste momento apetecia-me mandar uma sms ao Pedro, a dizer-lhe duas ou três coisinhas. Porque irrita-me o facto dele ter-me rejeitado, e porque irrita-me o facto dele dar-se bem com toda a gente e de toda a gente o adorar (quando quem precisa de amor e atenção sou eu, e porque o facto de eu o odiar quando todos o adoram faz-me parecer a má da fita. Sim, talvez isto seja uma competição, porque eu espero que ele tenha uma vida miserável e se arrependa de me ter rejeitado). Mas sabia que ele nunca iria responder (e como é óbvio, não há ninguém que adore ser rejeitado): “ Pedro, quando voltares daí desse sítio onde estás, e voltares à tua vidinha normal dos teus treinos aborrecidos, por favor engoles o teu orgulho que eu engulo o meu e convidas-me para um café? Vamos começar dar-nos bem, sim? Já está na hora. Já chega, sim? Eu sei que aquela nossa desavençazinha foi engraçada e tal, mas já chega, começa a tornar-se patológico não achas? Vá, que eu também sei ser querida. E já agora, começas a vir falar comigo no messenger para não ser sempre eu a tomar a iniciativa? E deixas-me uns comentários giros no Hi5? E voltas a chamar-me rainha e a fazer-me uma vénia cada vez que me vires na escola como dantes fazias? Beijinhos”. (Será que isto cabia tudo numa sms?)


Agora espero conseguir dormir.

(P.S. Não te atrevas a usares isto contra mim um dia)

2 comments:

Anonymous said...

minha isso é que é desespero!!

Anonymous said...

bom comeco