23 January 2008

auto-psico-terapia-baratérrima.

A falta de sexo começa a afectar-me de forma bastante grave. Preocupo-me. Será que brevemente estarei eu a adoptar um miúdo de passado traumático? Provavelmente. Os homens na crise da meia idade compram um Ferrari. As mulheres, sempre mais corajosas, na crise de um quarto da idade adoptam um filho. As menos corajosas, um Yorkshire Terrier.

Deve ser por isto que as trintonas passam, e depois vem a menopausa, por isso é que a falta de sexo nas mulheres é mito. Assim como a masturbação. Depois vem a menopausa e elas tentam esquecer o assunto.

Mas pronto, tenho de evitar divagar.

A falta de sexo tornou-me sensível. Embrutecida em relação aos homens - porque demasiadas cicatrizes no mesmo sítio tornam a pele inflexível - mas com o sentido de sensibilidade apuradíssimo para outros aspectos. Nomeadamente, amigos. Nomeadamente, a idade. Ou sou só eu a canalizar sensibilidades, a desvia-las duns sítios para outros, deve ser isso. Estou tão sensível, tão sensível, que dou por mim a criar dissertações sobre karma sentimental, vejam bem (e juro que não é influência - pelo menos directa - da série "O meu nome é Earl").

Lembro-me dos amigos que perdi, ou que vou perdendo. E ultimamente tenho dois, que juro por tudo são as pessoas que melhor conhecimento de causa têm de mim, e que me adoram. Mas um porque arranjou namorada e outro porque está fora do país, não têm tempo para mim. E também porque eles não se agarram às amizades como eu, lá está, têm sexo.

Sinto imenso a falta deles, e relembro-me de todas as gargalhadas que demos. Pergunto-me porquê que tive simplesmente paixões platónicas por eles se poderia ter tido algo mais, e depois lembro-me que não queria abdicar da perfeição daquelas amizades.

Eles são o tipo de pessoas que gostariam de mim ainda mais se eu metesse o dedo no nariz ou desse um peido. Esse tipo de relação, é uma relação.

E adoro-os principalmente por eles saberem quem eu sou, por verem para além do meu presunçoso exterior, por serem inteligentes o suficiente para perceberem - e principalmente não julgarem - a crueza do meu discurso sincero (que só o pode ser mesmo com uma parte distinta de pessoas), por conseguir ter conversas que transcendem o ritual social dogmático estabelecido (e por nos sentirmos arrogantemente superiores por isso, aha!), por adorarem "o meu poço de contradições", como um deles sempre dizia.

se tivessemos filhos eles teriam a tua personalidade poque é dominante.

Tu choraste depois de ouvir Marvin Gaye, eu chorei só e porque senti que confiaste um pouco em mim, numa desconhecida; és quase um cristão, sabes? Sem perceberes amaste o próximo.

Tu amas-me!


Bolas, ultimamente apercebo-me que posso, afinal, ser cristã. Faço uma data de referências ao Deus dos cristãos, mas o pior de tudo não é isso.

O pior de tudo foi este texto que escrevi ontem, mentalmente. Pensei nele mas não consegui materializa-lo porque pareceu-me demasiada hipocrisia. Primeiro, antes de o escrever, em prosa poética merdosa, limitada por tudo aquilo que sou, tinha de aceitá-lo como acontecimento, e até agora tenho estado em negação. Até agora.


Fui à varanda do meu quarto, pensei que pudesse relaxar depois de um dia fadigoso. Tenho uma vista linda, que me faz sentir pequena, pequeníssima, uma vista daquelas que nos retira todo e qualquer Ego. Porque apercebe-mo-nos que, ao mundo ser assim vasto, ao universo ser assim infinito, os nossos problemas não são sempre demasiado grandes. Nem os únicos. Então, deixamos de sentir compaixão por nós próprios, que é o pior que pode acontecer depois de sentirmos a compaixão dos outros.

E então aconteceu. Uma conversa com ele.
Senti-me, antes de mais, assustada.
E então ele disse-me, mas não antes de entrar bem fundo no meu íntimo: "a primeira premonição, e tu não quiseste dar-me ouvidos."
Eu respondi que sim, que a vi, que a senti, que decidi ignorá-la. Olhei-a nos olhos de uma foto que pendia em queda livre no meio de tantas outras e disse-lhe: "Não me assustas. Não acredito em ti. Não existes. Não és."
Ela, com olhos maliciosos e um riso sádico disse-me ainda: "Eu não estou somente nas canções que ouves, nos filmes que vês, eu aconteci-te e tu tinhas uma última oportunidade de te redimires."
Abanei a cabeça em sinal de negação, e aquele pensamento desvaneceu-se.

Depois, a segunda de duas. A última premonição.

Naquele dia vesti-me toda de negro, eu que o detesto fazer, creio mesmo que nunca o fiz, eu que naquele dia que me sentia especialmente feliz por tantas outras razões.

Então, a notícia.
Olhei-me de alto a baixo e pensei.
Aconteceu-me. E chorei, mais tarde, sem lágrimas, naquela noite, arrependida por todas as coisas que podia ter dito e não disse, podia ter feito e não fiz.

E agora, queres que fale contigo? Não o farei. Não o farei. Não o farei. Tiraste-me a coisa que mais amava nesta vida, e pretendes que fale contigo? Fizeste-o por que razão? Para que eu percebesse a dimensão do meu amor agora de a perdi? - é quantificável, o amor?
Ele obrigou-me a olhar para toda aquela beleza a torno.
Disse-lhe que não, que aquilo não é criação sua, que é uma coincidência cósmica o nosso mundo ser tão belo e tão perfeito e tão equilibrado e tão autónomo.
Reentrei no quarto.

Reparei então no seu filho, no meu ateu quarto. Está ali deste sempre, o filho dele, crucificado. Diz-se que morreu por nós, para nos salvar, e agora pretende ser uma espécie de celebridade. Já não me recordo quem o pôs ali.
De repente, senti um peso enorme nos ombros, uma força que me empurrava a cair.

Então caí.

Ironicamente de joelhos. Agora começo a sentir-me mal, sem fôlego, sem paixão.
Ele disse-me qualquer coisa que eu não percebi, ao que eu lhe respondi: "Não falo contigo. Nunca. Não sou mais um daqueles católicos "não praticantes" que se revolvem a ti somente nos momentos de incerteza e necessidade. Não. Eu decidi começar uma batalha já perdida, não importa, não te temo. Não és."
Ele disse-me para depois sair: "Como podes tu negar-me? Eu decido toda a essência das coisas não definidas."

E depois chorei as primeiras lágrimas de agua e sal, desidratando-me um pouco. Continuei de joelhos mais um pouco, e depois senti-me impelida a unir aos mãos ao peito em jeito de quem reza. Mas não o fiz. Na teimosia da minha não-crença, acreditei que tudo aquilo fosse fruto da minha desesperada imaginação.

Chorei porque não pude entender.

O rei manda.

O que é que eu odeio para além de ricos que acham o dinheiro uma maldição mas que são inteligentes o suficiente para não se desfazerem dele? Mulheres que andam à procura do príncipe encantado.

Ricos que acham o dinheiro um maldição, não pobres, porque os pobres que o pensam têm todas as legítimas razões. Esses ricos "vítimas" do dinheiro são mais ou menos como os homens de pénis pequeno que andam por aí a dizer que o tamanho nunca contou...

Mas pronto, o que eu odeio mais do que isso são mulheres que andam à procura do príncipe encantado. Talvez por eu ser uma delas. Sim, é verdade, sempre odiei pessoas que me fizessem lembrar de mim própria. Mulheres que se perguntam continuamente o que se passa de errado com elas e não se aceitam como são, porque amando-se é que poderão ser amadas. Mulheres que se mantêm presas a relações passadas, traumas antigos, que teimam em não ultrapassa-los e que não se conformam com o facto de sentirem que um amor avassalador como aquele não voltará a acontecer no espaço de uma vida, e que terão de contentar-se com a coisa mais próxima do melhor que já tiveram.

Certa vez, um tipo em jeito de sedução, disse-me que eu sou viciada em provas de amor, na adrenalina de conseguir levar os homens a cometerem loucuras. E ao ouvir isso apeteceu-me morder-lhe. Quem não está??? Que idiota. Enfim, sorri e continuei a fazer-me de parva, porque fazer uma pergunta dessas demasiado intricada, naquele momento, seria desmotivante para ele continuar a tentar seduzir-me.

Quando digo falta de sexo, é destes sentimentos que me refiro.

Deixar de fumar é fantástico. Stressante, mas fantástico.

Para alem de sentirmos que conseguimos vencer ao mais imbatível dos adversários - a falta de vontade própria - recuperamos o olfacto, e assim, o paladar.

Mas é uma faca de dois gumes. Porque esses cheiros e sabores tanto me evocam memórias desagradáveis, traumáticas mesmo, como memórias incrivelmente boas.

Por exemplo, descobri recentemente que os sacos do lixo me recordam hospitais.

E no outro dia, pus um doce regional italiano à boca, e embaciaram-se-me os olhos de emoção. Como que num filme, vi em dois milésimos de segundo toda a minha infância. Um pequeno sabor recordou-me a minha infância na casa da minha madrinha em Roma, quando eu era feliz sem saber porquê, como, ou sequer que o era. A minha madrinha, agora velha de podre, costumava fazer esses doces, e embrulhava-os em papel celofane colorido de modo a parecer um rebuçado verdadeiro, de loja. Mas estes rebuçados eram imperfeitos, pelo menos visualmente. Eu mesma, pequenina, e a minha mãe, jovem, ajudavam-la a embrulha-los. Cortávamos o papel em quadrados, e punhamos os doces todos numa grande taça de vidro que era colocada no centro da mesa para os convidados, para nós, para quem lhes deitasse a mão. Acabavam em dois dias, e depois a minha madrinha refazia-os. Eu estava sempre a tentar fugir com um ou outro na mão, e adorava o facto de serem carregados de açúcar, como qualquer criança, porque não só comer dois de seguida era enjoativamente delicioso, como podia ser divertido ficar com a cara branca do pó açucarado.

E isto, simplesmente isto, levou-me a questionar tanta coisa, que chorei por não ter a receita do tal doce.

Mas seria doloroso se de cada vez que o comesse um inofensivo doce daqueles me recordasse da importância de certas coisas, certas relações, certos rituais que parecem inúteis (senão para o apetite), rituais que podem criar laços indestrutíveis, rituais aparentemente fugazes, e da influência que podem ter na construção de uma personalidade.

Lamentei já não ter o hábito de passar assim tanto tempo com a minha mãe, e lamentei por a minha outrora doce madrinha ter sofrido um cancro no útero e estar velha e cansada de combater com uma doença para poder ser uma daquelas velhotas simpáticas.


Originalmente escrito em Agosto de 2007. Encontrei-o perdido no pc e decidi dar-lhe utilidade (nem que seja para as duas pessoas que lêm o meu blog!).


Devo ser por isso que ainda hoje fumo.

Estupidamente romântica pergunto-me, porque me beijou ele, e porque o beijei eu a ele, se de antemão ambos sabíamos que da sua parte nunca seria amor?

" "Quotes - 2"

"Conduzes-me ao quarto, com um beijo seco, calmo. Nada de euforias, estás tão confiante...! És tu quem conduz toda aquela dança, sem palavras e com poucos gemidos. Não é nada de avassalador, foi sexo cordial, educado. Mas certamente não foi amor."

in http://diariode2vaginas.blogspot.com/
Visitem, vale a pena!
publicada por Hugo de Santa Bárbara às
3:38 a 30/Mar/2007

alçácia morena disse...

Que merda ainda teres isto aqui. Sabes aquelas coisas que só acontecem nos filmes? Pois bem, dizeres "foi tal e qual como eu imaginei", é mesmo coisa de filme. E de filme de má qualidade porque só aquela ficção rasca é que é capaz de reproduzir a vida com um dramatismo talmente exagerado que achamos ridículo. Esta "coisa" parece-me a mim impossível, ler agora um post, que visava essa ficção pirosa, na época em que eu ainda me imaginava com esse protagonista dos posts do meu blog. E sabes que mais? (Provaelmente não te interessa!) Mas quando o beijei, foi tal e qual como eu descrevi nesse post! Tal e qual eu tinha imaginado... Um beijo seco, calmo, sem grandes euforias. Como é incrível a minha capacidade de sentir-me atraída pelo dramatismo da vida e/ou de "ler" beijos de pessoas que ainda não beijei apenas com base na sua personalidade.

24 de Janeiro de 2008 4:19 "


in http://virtuosidades.blogspot.com/

As relações amor-ódio vencem-nos pelo cansaço.

"Chumbar com 9 é como passar com 10, são só números"

Exacto.

Pergunto-me porquê que mantemos relações amor-ódio, se elas são auto-destrutivas.
E principalmente, pergunto-me porquê que elas são mais duradouras das relações amor-amor, ou das amor-amor recíproco, e onde é que o respeito entra (de forma indissociável) nas relações amor-ódio. Porquê que o ódio, a frieza, e o desprezo obrigam-nos a respeitar uma pessoa? Não é irónico e paradoxo? Não deveríamos respeitar quem mais amamos de forma continuada?

17 January 2008

too late for (re)solutions

Eu sei que mais é menos, e que só deveria escrever quando tenho algo para dizer. Pseudo postagens e pseudo acontecimentos é algo que não existe na minha vida, não há espaço nela, por entre todo o seu lixo, mais lixo é coisa que não necessito.

Mas sinto que tenho algo a dizer. Daí a defini-lo é outra coisa.
Sinto-o na dor de ter uma cama vazia, e lençóis de papel, e cabelo curto... É a mesma sensação que tenho ao acordar antes de o despertador tocar, porque o meu corpo ressente a nicotina ou - ainda mais transcendente - porque tenho um pressentimento que não se deixa ignorar.
Mas desta vez, o que é? Sim, o que é? Basta de noites mal dormidas, basta de doces que nunca me vão curar. Basta de ser vítima, basta de chorar este luto que dura um ano. Uma merda de um ano. Um ano que foi tudo. Tudo...
Agridoce, principalmente.
Um ano que me obrigou a questionar tudo o que sou, tudo o que tenho, tudo o que desejo.
Um ano que me pareceu um pestanejar e que me parece ainda por acabar. Um ano que durou uma epifania.


A culpa é dos filmes. Sim, e das séries da Fox. Sem elas eu não sentiria tanto a tua falta Sérgio, sem elas... eu seria muito mais do que sou agora mas metade do que alguma vez serei. Porque se a dor existe é para nos lembrar que não somos invulneráveis, nem desprovidos de peso, nem imortais.

E digo-o. Digo o teu nome para que ele perca a sua importância, para que seja só um nome.

02 January 2008

A nostalgia da idade.

Finalmente sinto-me bem na pele que visto.
2007 vai ser difícil de superar, e agora que vejo as pastas do meu computador, dá-me a nostalgia nas linhas da dúvida de bater esses momentos. Foi um ano que acabou bem e começou mal. O último trimestre foi fantástico, os últimos 15 dias inesquecíveis. Perdi-me e reencontrei-me apenas no espaço de um ano mais de um milhão de vezes. E o Nazi... não quero falar do Nazi. Não vou fazer um retrocesso do meu ano porque seria demasiado catártico. Demasiado piroso.

Agora vêm as responsabilidades, arcar com aquilo que trago do ano anterior. Mas faço-o com orgulho. Com coragem e um sorriso. Sou filha do mundo, mãe da nostalgia. Criança... aterrada por crescer. Não quero que o tempo passe! Não quero ficar velha. Deixem-me viver para sempre ou morrer jovem. Das duas uma, o intermédio é que não. Nunca.

- Aquele beijo no Casino Estoril
- Aquele Moda Lisboa
- Aquele Fim do início
- Aquele Início de TUDO, início de mim
- Aquelas amizades
- Aquela viagem a Milão
- Toda a irresponsabilidade dos dias de salada
- Toda a euforia de cada primeiro beijo
- Todos os desconhecidos que conheci
- Todos os homens e mulheres que amei
- Toda a sinceridade que consegui atingir
- Todos os sarcásmos, todos os dias, todos os sonhos