Não quero crescer, talvez seja por isso que me tenha apaixonado precisamente por ele. Não me apaixonei somente por ele, disso estou certa. Apaixonei-me pela vivacidade dele, jovialidade, leveza. É como Milan Kundera argumenta sobre a teoria do eterno retorno de Nietzsche em "A Insustentável Leveza do Ser": "se o eterno retorno é o fardo mais pesado, então, sobre qual pano de fundo, as nossas vidas podem recortar-se em toda sua esplêndida leveza? (...) Que escolher, então? O peso ou a leveza?"
Eu prefiro a leveza.
Quero ser leve e nunca, nunca crescer. Toda a gente tem um complexo Peter-Pan, certo?
Ser despreocupada para sempre, adiar a "adultez" o mais possível, não dormir para não acordar um dia mais velha. Quero manter a minha ingenuidade e simplicidade. Crescer é ficar calculista e cínica, tal como o mundo dos adultos o é.

Quero continuar a dançar com os ombros desprovidos de qualquer peso, para poder movimentar-me pela sala com maior facilidade. Ouvir aquela música juvenil e beber frisumo, ao mesmo tempo que me perco dos braços gigantes de um puto.
Quente e pesado, o hálito dele deixa-me leve, levezinha por entre aqueles beijos. Uma criança num corpo de homem, e uma pequena sonhadora aprisionada num corpo de mulher.
Perco-me.
Esqueço quem sou, o que sou, o que faço, de onde vim, para onde vou.
Esqueço toda a minha essência, desapareço em mim própria para nele me reencontrar.
Tudo isto quando me beija.
Um furacão de emoção silenciosa, que finalmente me deixa recuperar o folêgo em apneia.
Ele fá-lo propositadamente, estou certa. Percebe o efeito que tem em mim, dá-me muito para tirar-me mais ainda. E é essa a dicotomia que nele atrai.
Faz pequenas pausas de prazer, que me parecem eternidades. Pequenas pausas no prazer que me preparam para um prazer maior. Um prazer que chega a doer pelas mãos da dúvida de o voltar a ter.
Recupera o fôlego e pára.
Pára bruscamente.
Dá-me oportunidade de recuperar, caso contrário chegaria ao ponto de ser demasiado, o prazer. Demasiado doloroso, uma emoção a qual o corpo não está preparado. O momento fugaz suficiente para me olhar nos olhos, com um misto de desejo e insatisfação, uma insatisfação furiosa, de quem quer mais, um desejo carinhoso, de quem tem que lhe baste. Não sou objecto nem objectivo, naquela pausa propositada de prazer. Sou tudo. Naquele momento sou o ar que ele respira, a pele que ele cheira, o sentimento que o alimenta.
Recupero para voltar a perder-me. Deixar-me perder. Naqueles braços monstruosos, naqueles suspiros de prazer que é desejo, naquela ânsia que é dor, aquela ternura violenta e vigorosa, naquela leveza que é o prazer.
"Think of salad days, they were folly and fun, they were good, they were young", Young Marble Giants.
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